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Salvador teve cerca de 20 ônibus incendiados nos últimos dois anos


 

Prejuízo foi de aproximadamente R$ 17 milhões

  • Larissa Almeida

Publicado em 11/11/2024 às 05:30:00
Ônibus pega fogo em Salvador . Crédito: Reprodução / Redes sociais

Nos últimos dois anos, Salvador teve cerca de 20 ônibus incendiados e um prejuízo de aproximadamente R$ 17 milhões. É o que estima César Nunes, presidente do consórcio Integra, ao comentar sobre os prejuízos decorrentes das interrupções do serviço de transporte coletivo por conta da insegurança que acomete a capital baiana.

“Nos últimos dois anos, já tivemos quase 20 casos de ônibus incendiados pela marginalidade. Isso causa um prejuízo ainda maior porque, além dos postos de trabalho que são eliminados, a empresa tem prejuízo na reposição. Um veículo incendiado é reposto, no prazo médio, de quatro a cinco meses, sendo o gasto com cada um em torno de R$ 850 mil”, diz.

A cidade registrou pelo menos 85 interrupções totais ou parciais do serviço de ônibus por motivo relacionado à insegurança, entre 4 de agosto de 2023 e 15 de agosto de 2024. Ao total, 30 bairros foram afetados. As informações são do levantamento inédito Catraca Racial: o impacto da segurança pública na mobilidade urbana da capital da Bahia, produzido em parceria pela Iniciativa Negra por uma Nova Política sobre Drogas, pelo Observatório da Mobilidade de Salvador e pelo Instituto Fogo Cruzado.

Pelo menos 19 das 85 interrupções estavam associadas a ações policiais, enquanto 57 não tiveram informações das circunstâncias que levaram à suspensão do transporte coletivo. Somente nove casos, contudo, não foram relacionados às ações das forças de segurança do estado. Todos os bairros afetados têm população majoritariamente negra.

“Infelizmente a insegurança pública na Bahia vem atingindo, principalmente, a população mais carente e não temos como agir de outra maneira que não suspendendo as operações, visto que isso pode atingir nossos rodoviários e colaboradores, bem como a população em geral. A situação está incontrolável. Precisamos ter uma resposta do governo para que a operação de transporte público seja feita como deve ser feita”, reivindica César Nunes.

Para os rodoviários, o saldo negativo do cenário de violência urbana é a convivência com o pânico e o medo. O mesmo é vivido pela população e é o motivo pelo qual Daniel Caribé, doutor em urbanismo e membro do Observatório da Mobilidade de Salvador, defende o tratamento da interrupção do serviço de transporte coletivo como um problema de mobilidade urbana.

“A imobilidade urbana temporária obriga as pessoas a caminharem distâncias mais longas para ter acesso ao serviço ou ao emprego, se estes continuam funcionando em bairros próximos. Outros, sem alternativa, recorrem ao transporte irregular, aos mototáxis ou aos aplicativos. Tudo isso corrói a renda dessa população já vulnerável, rouba tempo de vida e tira o acesso a outros direitos”, finaliza.