Salvador recebe 1ª Parada do Orgulho PcD no Nordeste
Ação teve como objetivo reivindicar direitos, visibilidade e inclusão para pessoas com deficiência
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Larissa Almeida
lpalmeida@redebahia.com.br
Visibilidade, inclusão e direitos. Foram essas as motivações que levaram dezenas de pessoas com deficiência (PcDs) a ocuparem o Largo do Farol da Barra, na tarde deste domingo (21), durante a 1º Parada do Orgulho PcD da Bahia. A ação, organizada pela ONG Vale PcD e o coletivo Quilombo PcD, aconteceu pela primeira vez no Nordeste, região em que a população com deficiência é estimada em 18,6 milhões de pessoas, o que corresponde a 8,9% da população total, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A escolha de Salvador como primeira capital nordestina a receber a Parada do Orgulho PcD ocorreu em razão da diversidade da cidade. Em 2020, o coletivo Quilombo PcD, idealizado pelo soteropolitano Marcelo Zig, surgiu com o intuito de discutir interseccionalidade – análise social que é feita a partir dos critérios de raça, classe, gênero e outros indicadores sociais – incluindo pessoas com deficiência, uma vez que o Nordeste concentra mais PcDs no Brasil e tem maioria negra entre elas.
“A pessoa com deficiência ainda é relacionada na sociedade apenas como deficiente. Por essa razão, nós fundamos o Quilombo PcD para dizer que somos pessoas negras com deficiência também. Ainda temos que discutir muito sobre acessibilidade, inclusão e a pauta anticapacitista, porém, envolvendo a perspectiva da pessoa com deficiência”, destaca Marcelo Zig, presidente do coletivo.
“Não adianta falar e realizar para PcD sem envolver a perspectiva dela, porque vamos incorrer em erro. Tem que ser diferente e é isso que estamos fazendo aqui hoje com a 1º Parada do Orgulho PcD, para dizer que sim, orgulho e pessoa com deficiência podem transitar juntos nas ruas de Salvador, da Bahia e do Brasil”, complementa.
Fundadora do Vale PcD, a recifense Priscila Siqueira ressaltou a importância de centrar o olhar para os PcDs nordestinos. “O Nordeste, no geral, ainda não fala de pessoas com deficiência na pauta de diversidade. A Parada é uma forma de nos mostrarmos. Salvador é muito estratégico porque aqui tem uma cultura muito diversa. A Beyoncé estava aqui no mês passado, é um lugar muito importante. Queremos visibilidade, direitos garantidos, acessibilidade em todos os espaços, mas, principalmente, que as pessoas reconheçam que somos pessoas e queremos estar em todos os lugares”, afirma.
O evento contou com concentração a partir das 12h, quando houve acesso do público às tendas de vacinação contra a Covid-19, saúde bucal, distribuição de preservativos, massagem e ioga, e distribuição de água. Os serviços foram ofertados gratuitamente para quem estava no local. No local, ainda houve a presença de recursos de acessibilidade, como audiodescrição e intérprete de Libras.
Toda a estrutura foi montada entre a noite de sábado (20) e a madrugada de domingo (21). De acordo com o mineiro Pedro Avelar, diretor de operações do Vale PcD e um dos coordenadores do evento, a organização foi idealizada desde setembro do ano passado, quando foi realizada a 1º Parada do Orgulho Pcd em São Paulo.
“Chegamos por volta das 20h de sábado e fomos embora quase 4h de domingo. Esperamos toda a montagem para começar a trazer os toldos e fizemos uma organização por meio da qual pudéssemos ter acessibilidade com uma estrutura de palco e camarim. Trouxemos cadeiras para que as pessoas com mobilidade reduzida pudessem se sentar e temos tendas de apoio, com água para todas as pessoas. Então, trouxemos uma estrutura da melhor qualidade, que é o que nós merecemos. Nosso lema são PcDs nas ruas para trazer a importância da resistência e vivência PcD em todos os espaços”, enfatiza.
A 1ª Parada do Orgulho PcD da Bahia ainda contou com apresentação de artistas com deficiência. A partir das 14h, cantores, poetas e performers exibiram sua arte para o público presente. Mas, antes mesmo das apresentações terem início, os olhares de entusiasmo já eram possíveis de serem percebidos no Largo do Farol da Barra. No aguardo para a primeira atração subir ao palco montado, a psicóloga PcD Gabriela Neiva, 27 anos, demonstrou a alegria de participar do evento.
“Eu acho super importante que nós, enquanto pessoas com deficiência, ocupemos a cidade de Salvador no momento em que ela está fervendo, inclusive de turistas. É um momento de demarcarmos nosso espaço como cidadãos, nosso espaço político em relação à ocupação da cidade”, diz.
Deficiente auditivo desde a infância, o auxiliar de obras Moisés Augusto de Souza, 40 anos, enfrentou preconceito durante toda a vida e só passou a se reconhecer como PcD recentemente. Seu aparelho auditivo, inclusive, só foi adquirido por ele há dois anos. Na Parada ao lado da esposa, ele aponta que o evento serve para fortalecer a conscientização. “Uma festa dessas aqui é boa para mostrar que o PcD tem seu lugar no mundo e merece respeito. Minha vida melhorou 100% depois que eu procurei meus direitos. Eu tinha vergonha de colocar o aparelho, hoje em dia mais não”, frisa.
*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo