'Queremos proteger o nosso território', diz equede do Terreiro da Casa Branca após desapropriação de prédio irregular
Imóvel construído ao lado do terreiro foi desocupado na terça-feira (9)
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Gilberto Barbosa
gilberto.neto@redebahia.com.br
A desapropriação do imóvel construído irregularmente ao lado do Terreiro da Casa Branca foi iniciada na manhã desta terça-feira (9) pela Prefeitura de Salvador. Fundado em 1830, o espaço religioso foi o primeiro terreiro a ser reconhecido e tombado como Patrimônio Histórico do Brasil.
Para a equede e advogada do terreiro, Isaura Genoveva, a desapropriação é um passo em prol da demolição do edifício de cinco andares, que ameaçava a segurança dos frequentadores da casa.
“A gente entende que é um passo normal e agradecemos aos deuses e aos orixás que tudo ocorreu de forma pacífica. Nós só queremos proteger o nosso território sagrado e ficamos aliviados porque agora sabemos que ele terá um pouco mais de segurança. Esperamos que a demolição ocorra de forma célere e leve em consideração os cuidados necessários para que a casa não seja afetada”, afirmou.
A advogada relatou que apesar de não afetar as atividades do terreiro, o prédio tirava a privacidade das cerimônias religiosas. A relevância desta questão causou a determinação do fechamento das janelas do edifício com vista para a casa, garantindo que os ritos ocorressem de maneira reservada. A angústia com o risco de queda aumentava nos períodos com maior incidência de chuvas.
“Para nós foi muito difícil porque a nossa religião preza pelo território e pela boa convivência. Tínhamos medo porque o terreno é acidentado e os engenheiros identificaram que havia chance de desabamento. Se um prédio daquela proporção ruir, pode colocar em risco todos os templos sagrados que estão ali e a vida das pessoas, já que nós fazemos cerimônias ao ar livre”, continuou.
A invasão do território começou em 2019. No mesmo ano, os responsáveis pelo Terreiro da Casa Branca formularam denúncia ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Em 2020, a queixa foi feita no Ministério Público (MP) que abriu um inquérito civil. A mobilização se intensificou no final de 2023 e culminou na garantia da proteção do território.
“O proprietário só esteve com as lideranças da casa após a desapropriação e disse que ia sair tranquilamente e encerrar o litígio. Agora que desocupou, esperamos a demolição do prédio e a construção do nosso memorial naquele local”, finalizou Isaura.