'Querem tocar fogo em ônibus': rodoviários justificam suspensão de circulação na região de Valéria
Vista Alegre e Lagoa da Paixão também são afetados
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Wendel de Novais
wmoreira@redebahia.com.br
A interrupção do transporte na manhã desta terça-feira (17) em Valéria, Lagoa da Paixão e Vista Alegre acontece pelo risco eminente de que algum ônibus seja incendiado, segundo rodoviários ouvidos pela reportagem. Desde ontem, protestos são feitos na região por conta da morte de Wendell de Aragão Pinto Ferreira dos Santos, 18 anos, baleado por policiais durante uma ação na Lagoa da Paixão. Wendell estava em uma moto com outro jovem que também foi baleado, mas teve alta do hospital depois de ser socorrido por moradores.
Por isso, o clima é de revolta e há temor por parte de funcionários da Integra que os coletivos virem alvos do protesto. "Querem tocar fogo em ônibus. A gente não pode correr esse risco, colocar os passageiros em risco e ter essa baixa no patrimônio. Não somos contra o povo protestar, é claro, mas a gente não pode sair prejudicado. A ordem geral é que ninguém entre para a Valéria, Vista Alegre e, principalmente, Lagoa da Paixão, onde houve o fato", fala um rodoviário, que prefere não se identificar.
A suspensão faz com que os veículos circulem apenas até a Estrada do Derba, sem entrar nos três bairros citados. A medida deixou os pontos de ônibus da via completamente lotados no início da manhã. Moradores, inclusive, precisam caminhar para pegar os coletivos. "Eu, com 67 anos nas costas, tive que sair de casa e caminhar por 20 minutos lá de Valéria para cá embaixo na Estrada do Derba. Estou com as pernas doendo, vou chegar atrasada no meu compromisso, mas é assim mesmo. Tomara que amanhã seja diferente", fala uma moradora, sem se identificar, antes de entrar no ônibus.
No entanto, não há ainda uma previsão para retorno do veículos. Na Lagoa da Paixão, os ônibus não entram desde a tarde de segunda-feira (16). Um outro rodoviário, que também prefere não dizer o nome, fala que a situação só vai se normalizar quando tudo se acalmar. "A gente vê aí na rua que as pessoas estão com raiva, querendo protestar e fechar a rua. Como já tem sido comum, vamos evitar que eles tenham a ideia de queimar ônibus. Então, só quando o clima melhorar e os rodoviários se sentirem seguros que vamos voltar a entrar nos bairros", explica ele.
O Sindicato dos Rodoviários foi procurado pela reportagem para emitir posicionamento sobre a suspensão. No entanto, não retornou até o fechamento dessa reportagem.