Prédio dos Correios e Palacete Saldanha continuam encalhados
Especialistas apontam motivos para condição que se arrasta há anos
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Larissa Almeida
lpalmeida@redebahia.com.br
Na Avenida Paulo VI, localizada no bairro da Pituba, em Salvador, o antigo prédio dos Correios é, hoje, um fantasma de si mesmo. Desativado desde 2018, o local já passou por sucessivas tentativas de venda, sendo que as primeiras ocorreram em fevereiro e maio de 2019, mas não teve interessados. Longe dali, no Centro Histórico da cidade, o Palacete Saldanha, prédio histórico da Casa Nobre, sofre com o mesmo destino de degradação e desinteresse.
No último 27 de maio, o Palacete foi a leilão por R$ 4 milhões, conforme anunciado pelo Tribunal Regional do Trabalho da 5ª Região (TRT-5). Antes, em 2022, teve a oportunidade de ser arrematado por R$ 10,1 milhões, mas ninguém manifestou interesse. O imóvel, situado na rua Guedes de Brito, na Praça da Sé, é tombado pelo Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o que é apontado por especialistas como principal razão para a falta de atração de investidores.
“O Iphan tem regras, como a impossibilidade de mexer na fachada. O tombamento faz com que o prédio seja desinteressante para o tipo de atividade imobiliária, não traga interesse social e de investimentos. Aqui em Salvador, sobretudo no Centro Histórico, a história se apaga porque o prédio se encontra em situação degradante”, aponta conselheiro Wilson Santos, do Conselho Regional de Corretores de Imóveis da Bahia (Creci-BA).
Além dessa questão, a falta de segurança seria outro fator que impede o Palacete de ser vendido. “Desde o fechamento do Liceu das Artes e Ofícios, o Paço (Palácio) do Saldanha não encontrou um uso mais sustentável. Muita gente alega que [isso se deve] à descontinuidade da recuperação do Centro Histórico de Salvador. O local não gera uma segurança maior por aspectos de tombamento e segurança urbana”, afirma o urbanista Ernesto Carvalho.
O Palacete tem quatro pavimentos, contando com subsolo, térreo, 1º andar e 2º andar, dispõe de aproximadamente 20 cômodos de várias dimensões, capela, salão de exposição e auditório. Ao todo, a área construída contabiliza 7.822,14 m², sendo que, desta área total, existe uma área de 780,07m² que está inacabada.
Já o prédio dos Correios tem quase 35 mil metros quadrados e 17 pavimentos. Contudo, na visão de Noel Silva, diretor do Creci, o local tem preços incompatíveis com o mercado. “Os preços estão impraticáveis. Na verdade, o correto seria vender somente o terreno porque é muito bom e muito bem localizado, mas a área construída é inútil para quem vai comprar. Só vai gerar despesa, porque a pessoa vai ter que demolir e o custo de demolição é altíssimo, afinal é uma obra gigantesca”, analisa.
O empreendimento já foi cinco vezes a leilão. A última vez foi em novembro de 2022, quando a empresa pediu R$ 141 milhões, valor 43% menor que o inicial de R$ 248 milhões feito em 2019. Na licitação, foi destacado que o empreendimento comercial era destinado a escritórios, ao estilo de prédios empresariais, de médio padrão construtivo e servido por sete elevadores.
Segundo a Globo Leilões, uma das principais empresas leiloeiras no Brasil, pelo menos 63 imóveis de diversos tipos e localização já passaram por três leilões. Segundo a leiloeira Cássia Balbino, ligada à empresa, a principal razão pela qual essas propriedades não são arrematadas inicialmente é o valor.
“Na primeira praça, os imóveis são oferecidos pelo valor de avaliação, mas muitas vezes possuem débitos pendentes que podem diminuir seu atrativo. Os compradores em leilões, geralmente, buscam adquirir propriedades a preços abaixo do mercado, o que é mais viável nas praças subsequentes, onde os valores podem ser reduzidos”, justifica.
*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro