Por que se morre de dengue?
Sangramento, choque e disfunção de múltiplos órgãos explicam óbitos pela doença
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Millena Marques
milena.marques@redebahia.com.br
A dengue é uma doença infecciosa que causa uma lesão nos vasos sanguíneos. Embora seja raro, casos mais graves da doença podem levar um paciente a óbito. Isso porque os pacientes com quadros intensos podem ter sangramentos graves, choque e disfunção de múltiplos órgãos, de acordo com a médica infectologista e professora da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP) Clarissa Cerqueira.
Causada pela picada do mosquito Aedes aegypti, a arbovirose tende a fazer com que o plasma e as células hemácias saiam dos vasos sanguíneos. “Não chega sangue nos órgãos do corpo, porque a pessoa está perdendo para o exterior, através de sangramento, ou também para dentro do próprio corpo”, explica.
O choque citado por Clarissa acontece em razão de uma queda de pressão do corpo. Esse fenômeno diz respeito a ausência de força para levar sangue aos órgãos e apresenta os seguintes sinais: taquicardia, pulso fraco filiforme, pressão arterial convergente, taquipneia (respiração acelerada), hipotensão arterial (pressão baixa), oligúria ( que é uma redução de urina), cianose ( que é a cor azulada ou acinzentada da pele em virtude da falta de oxigenação do sangue) e enchimento capilar lento.
Também existe um grupo de pessoas que estão mais propensas a casos mais graves e, consequentemente, é o público que corre maiores riscos. Compõem esse grupo: crianças de até cinco anos; idosos acima de 60; gestantes; pacientes com comorbidades ou insuficiência renal, insuficiência hepática e doença renal crônica.
Além disso, a demora por busca de assistência pode ser um problema para casos de dengue. De acordo com Clarissa Cerqueira, a dengue, em geral, emite sinais de alarme antes de ser agravada. “Se a pessoa não procurar assistência, não conseguimos triar esses casos potencialmente graves. Na hora que chegam ao serviço de saúde, os pacientes estarão com quadros clínicos mais delicados”, afirma.
A médica especialista pontua a importância de procurar a assistência médica assim que o quadro de febre for iniciado. “Se for dengue, é importante que o paciente receba as orientações dos sinais de alarme. É também nesse momento que avaliamos se o paciente precisa ficar internado ou não”.
A automedicação também é um detalhe que pode comprometer o quadro de dengue de alguns pacientes. Isso porque as pessoas contaminadas pela doença não podem, de forma alguma, utilizar anti-inflamatórios, como nimesulida, diclofenaco e ibuprofeno, e ácido-acetilsalicílico, porque são medicações que podem causar sangramentos. Os únicos medicamentos indicados para amenizar os sintomas são dipirona e paracetamol.
Os casos mais graves de dengue podem ser identificados com os seguintes sinais de alarme: febre muito alta, muitas dores (especialmente dores abdominais fortes, que podem ser um sinal de acometimento hepático), vômito prolongado, olhos amarelos, urina escura, manchas vermelhas (sobretudo em áreas que são pressionadas) e confusão mental. Os pacientes com esses sintomas devem procurar a assistência médica.
Os portadores de doenças crônicas não podem esperar um sinal de alarme para procurar o sistema de saúde. “São pacientes com quadro clínico mais delicado. Eles devem ser avaliados pelo o próprio médico ou por algum profissional de uma unidade de emergência”, afirma o gastro-hepatologista Raymundo Paraná, diretor do Hospital Aliança, da Rede D'Or.
De 1º de janeiro a 17 de fevereiro de 2024, a Bahia registrou 8.674 casos prováveis de dengue, um incremento de 21,7% no comparativo com o mesmo período do ano passado. Em 2024, quatro mortes foram registradas pela doença no estado: duas em Jacaraci, uma em Ibiassucê e outra em Piripá. Os dados são da Secretaria do Estado de Saúde da Bahia (Sesab).
*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro