Polícia monitorou carros roubados por dois meses até chegar a laboratório de droga em hotel de Salvador
Operação apreendeu 1 tonelada de drogas em hotel e em casa de Jauá
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Da Redação
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Wendel de Novais
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A investigação que resultou em três prisões em flagrante e a apreensão de cerca de 1 tonelada de drogas em dois laboratórios de refino em Salvador e Jauá, Camaçari, durou cerca de dois meses, período em que o grupo criminoso foi monitorado pela polícia. Thomas Galdino, diretor do Departamento de Investigações Criminais da Polícia Civil, explicou que o trabalho se deu através do acompanhamento de carros roubados. Essa foi a maior apreensão da Polícia Civil no ano, com valor estimado em cerca de R$ 5 milhões.
"Essa investigação vem ocorrendo há cerca de dois meses, quando percebemos movimentação de alguns veículos que estavam sendo roubados e furtados em Salvador e na região de Feira. Um desses veículos possivelmente participou de um homicídio em Feira em 29 de agosto. Após dessa informação conseguimos acompanhar esse veículo, que tinha sido roubado também em agosto em Salvador, e conseguimos elucidar a dinâmica que se dava com relação a outras práticas criminosas praticadas pelos investigados", explicou Galdino.
Após certo tempo de monitoramento, a polícia percebeu alguns locais em que os veículos circulavam de maneira mais frequente e notaram que eram pontos de venda de drogas. Ontem, as equipes resolveram fazer uma abordagem. "Ao efetuarmos a abordagem no referido veículo, constatamos elevada quantidade de entorpecente, que era vendido em atacado. Aquele veículo era utilizado não só para prática de homicídios mas para entrega de drogas. Até utilizando algumas empresas de entregas para efetuar essa distribuição de drogas em bairros nobres de Salvador. A diligência foi continuando, foi evoluindo, vamos nos locais em que ele passava diariamente e aí conseguimos apreender essa vasta quantidade de entorpecentes, carregadores de pistolas, munições, na verdade um laboratório de droga localizado em um hotel em um bairro nobre de Salvador, assim como o restante da droga apreendido na Região Metropolitana, mas precisamente em Jauá, também numa casa em área nobre", explica.
Galdino diz que era possível notar que tanto a casa quanto o hotel já vinham sendo usados havia algum tempo pela quadrilha. Não há confirmação de que funcionários do hotel tivessem conhecimento do esquema. "A princípio não temos informação de qualquer funcionário do hotel que tenha participado desse laboratório de drogas, mas a investigações continuam e só com o tempo poderemos afirmar isso ou negar essa informação", disse.
A alta rotatividade no local não chamava atenção pela natureza do espaço, diz. "O pessoal do hotel tem contribuido de forma plena com as investigações. Essa rotatividade se dá pelo fato de lá existirem apartamento locados, onde o hotel faz apenas a administração. A rotatividade se dava por isso. Aluga para uma pessoa e essa pessoa faz uma sublocação, e nem o proprietário nem a administração têm esse controle", disse.
Pela quantidade de droga é praticamente certo o envolvimento de alguma facção criminosa no esquema, mas a polícia ainda investiga para identificar qual seria e mais detalhes. "É claro que por trás tem uma facção criminosa. Estamos falando de investimento de mais de R$ 5 milhões, por baixo. Isso é um investimento grande, não é feito normalmente por um traficante só. Isso nos leva a crer que tem sim uma organização criminosa mais forte que estava fazendo essa distribuição e refinamento para consumo aqui no nosso estado. É o trabalho da polícia investigar quem são essas pessoas e como essa droga chegou no nosso estado", diz a diretora geral da Polícia Civil, delegada Heloísa Brito.
Cobras
Um fato inusitado foi a apreensão de três cobras no hotel. A polícia ainda não sabe se os animais tinham algum uso prático pela quadrilha. "Não podemos precisar qual seria finalidade da utilização dessas cobras. Eram cobras exóticas, que existiam dentro daquele apartamento, notoriamente em situação de maus tratos. A investigação está prematura (em relação a isso)", acrescenta Galdino.
O delegado destaca que um dos presos já tem várias passagens por tráfico. "Vale a pena enfatizar dos três presos um foi preso em 2018 por tráfico, em 2020 por tráfico de drogas, em 2022 por tráfico de drogas e agora em 2023 preso com essa vasta quantidade de entorpecentes", finaliza.
A diretora geral diz que o trabalho continua. "Nosso objetivo não é só fazer a apreensão, é saber quem seriam os possíveis compradores, onde essas drogas iriam ser entregues e os veículos já utilizados em outros delitos", diz. Ela fala do método utilizado pelo grupo. "Procurando ambiente que não levanta suspeita, vão para um hotel de executivos, local de fácil acesso, de entrada e saída, utilizando carros que também não chamam atenção".
O titular da Secretaria da Segurança Pública (SSP), Marcelo Werner disse que esse foi o 14° laboratório de drogas desmobilizado no estado e ligou o caso a organizações criminosas que atuam no estado. "Esse é o maior em quantidade de drogas apreendidas e diversidade. Vocês viram cocaína, maconha, ecstasy, até lança perfume. E apetrechos para comercialização de drogas. A gente tem que enaltecer e parabenizar o trabalho de investigação que vem sendo realizado. Continuaremos no combate ao tráfico, desmantelamento de laboratórios como esse, importante também para descapitalizar as organizações criminosas e diminuir a violência no nosso estado", afirmou o secretário.