Pela terceira vez neste ano, Tancredo Neves fica sem ônibus por causa da violência
Bairro de Salvador teve madrugada de segunda-feira (19) marcada por tiroteio
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Larissa Almeida
lpalmeida@redebahia.com.br
Quando o dia amanheceu no bairro de Tancredo Neves, nesta segunda-feira (19), a população estava amedrontada e impossibilitada de seguir seu percurso diário em razão de outro episódio de terror. Desta vez, o bairro foi palco de uma operação policial que, após um tiroteio intenso, matou a principal liderança do tráfico de drogas na região. Como saldo da noite turbulenta, os ônibus deixaram de circular na localidade por algumas horas e só voltaram à normalidade por volta das 8h30. Esta foi a terceira vez, somente neste ano, que os moradores ficaram sem transporte público por causa da violência.
Segundo a polícia, o líder do tráfico de Tancredo Neves era João Pedro Prates dos Santos, vulgo “JP”, que era apontado como autor da tentativa de homicídio contra um policial militar em Ibicaraí, em 2020, e investigado como o responsável por diversos "bondes" na capital. As autoridades disseram que, com o suspeito, foram encontrados uma pistola calibre 9 mm, uma jaqueta camuflada, um colete balístico e um artefato explosivo. Na operação, um investigador da Polícia Civil também foi baleado, mas não corre risco de vida.
Conforme relatos de populares, o tiroteio durou a noite toda e, quando os barulhos cessaram e o dia raiou, todos foram pegos de surpresa pela falta de transporte público. Mauro Anchieta, morador da região, contou que tinha médico marcado e por pouco não deixou de ir. “Amanheceu sem ônibus e a população estava com muito medo. Tinha médico marcado e, para ir, precisei pegar uma Moto Uber”, disse.
Uma estagiária de 20 anos, que preferiu não ser identificada, precisou mudar seu trajeto para conseguir chegar ao estágio. “Mais uma vez tive que me deslocar para um ponto de ônibus mais longe, onde estava bastante lotado, causando transtorno para pegar o transporte. Há mais de 10 anos eu moro aqui e sempre houve questões de insegurança, porém, na época que eu era criança, era bem menos. Nada se compara com a atualidade, cada vez está pior. Conflitos entre facções e a polícia são cada vez mais constantes”, lamentou.
Os conflitos mencionados pela jovem acontecem, principalmente, nas localidades do Arenoso e no Canal 13, ambas com atuação da facção do Bonde do Maluco (BDM). A disputa teve início após traficantes do Comando Vermelho (CV), que está estabelecido na localidade do Buracão, tentarem invadir e tomar a área, como já mostrou o CORREIO em matérias anteriores.
Por três dias consecutivos do mês de junho deste ano, os moradores de Tancredo Neves e do Arenoso viveram momentos de terror, com madrugadas intensas de troca de tiros, que deixaram casas, carros e estabelecimentos comerciais crivados de balas. De acordo com fontes da polícia, o BDM sofreu ataques do CV, que queria tomar a região. Em um dos confrontos, uma mulher foi assassinada.
Também nesse período, mais especificamente no dia 19 de junho, os moradores de Tancredo Neves ficaram sem ônibus pela primeira vez no ano. O caso ocorreu devido às ameaças de ataques após a morte de um traficante na região, que levou os rodoviários a suspenderam a circulação na localidade, bem como nos bairros de Águas Claras e Arenoso. Eles só voltaram a atuar no dia seguinte. Segundo o presidente do Sindicato dos Rodoviários, Fabio Primo, à época os trabalhadores receberam intimidações com relatos de que homens ateariam fogo aos coletivos.
Já no dia 3 de julho, um ônibus foi incendiado em Tancredo Neves, como forma de protesto pela morte de um adolescente no bairro durante uma operação policial, e os coletivos pararam de circular na região por um dia. Segundo o Sindicato do Rodoviários de Salvador, os manifestantes obrigaram o motorista do coletivo a atravessar o carro na via, mandaram os passageiros descerem e atearam fogo no veículo. No momento, havia cerca de 30 passageiros no ônibus.
Por conta desses episódios, bem como do cenário de insegurança constante no bairro, o assistente financeiro Rivaldo Lima, 22 anos, afirmou que evita sempre que pode pegar ônibus na região. “Tenho duas opções para chegar em casa, pegar ônibus para o Tancredo Neves, que passam pela Estrada das Barreiras ou ônibus que passem na Rótula do Juliano. Nunca pego ônibus destinados para Tancredo e, se for durante a noite, não passo lá de jeito nenhum”, enfatizou.
Em entrevista coletiva, o secretário de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA), Marcelo Werner, disse que as equipes policiais ainda estavam em Tancredo Neves e iriam desdobrar operações lideradas pela Polícia Civil. “A Polícia Militar também hoje está com a operação Força Total, também atuando naquela região. É mais uma edição da operação Força Total, com o trabalho ostensivo e proativo das Forças de Segurança, que é sempre direcionado sempre pela inteligência”, disse.
*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo