Assine

Passageiros reclamam de falta de acessibilidade no Ferryboat: ‘É horrível'


 

Pessoas com deficiência e dificuldade de locomoção têm espaço limitado para transitar no Ferry por falta de estruturas inclusivas

  • Larissa Almeida

Publicado em 06/01/2024 às 07:00:00
No Ferry Maria Bethânia, banheiro para pessoas com deficiência só existe no térreo. Crédito: Larissa Almeida/CORREIO

Sentado no primeiro andar do Ferryboat Maria Bethânia, um idoso que preferiu não se identificar segurava sua muleta enquanto aguardava a saída da embarcação rumo a Ilha de Itaparica. Portador de uma doença degenerativa óssea e recém-operado, ele conta que precisa utilizar o sistema ferryboat duas vezes na semana e sempre encontra obstáculos.

“É horrível na hora de pegar o Ferry, não tem praticamente acessibilidade nenhuma. Para sentar, tenho que subir as escadas, mas normalmente encontro assento e fico no térreo. Hoje eu subi para tentar encontrar uma ventilação, porque lá estava muito abafado. Ainda tem a sujeira nos banheiros, que às vezes molha tudo e fica parecendo um aquário, aumentando o perigo de eu cair”, aponta.

Apesar da rampa de acesso para o embarque, pelo menos no Ferry Maria Bethânia não há rampa que ligue o térreo ao primeiro andar ou ao porão. A locomoção das pessoas com deficiência (PCD) fica restrita e isso é evidenciado na disposição dos banheiros. Aqueles destinados para PCDs existem apenas na parte térrea, mas são utilizados por pessoas sem deficiência.

No local, a reportagem chegou a flagrar o uso indevido e a falta de um profissional da Internacional Travessias (IT), empresa que administra o sistema ferryboat, ou da Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de Energia, Transportes e Comunicações da Bahia (Agerba) para fiscalizar.

No porão do modal, durante a travessia Itaparica – Salvador, o tatuador Jonathas Santos, 26 anos, e sua esposa, a autônoma e gestante Raiana Mascarenhas, 24 anos, foram direcionados por um funcionário da IT para o local com o intuito de conseguirem fugir do calor e trocar a fralda do filho do casal, o pequeno Henri, de um ano e seis meses. No improviso, os dois tiveram que deitar o bebê nos assentos para conseguir limpá-lo.

“Estamos trocando ele em cadeiras super desconfortáveis. Sofremos muito com a falta de fraldário nos banheiros e espaço mais seguro, já que manter a criança sentada é por si só uma dificuldade. Eu ainda estou gestante com um bebê de colo, então sinto falta de segurança nas escadas para subir e descer porque elas estão muito enferrujadas, velhas e com alguns degraus em péssimo estado”, relata Raiana.

Por sua vez, Jhonatas vê um espaço pouco acessível para as crianças pela falta de estruturas de segurança. “O Ferry tem as laterais todas abertas nos andares superiores. Se tiver algum desvio, alguma criança pode acabar caindo. As grades, para crianças mais ativas, não são nada. Elas podem passar, cair ou escalar”, pontua.

Ele ainda cobra a disponibilização de um pronto-socorro para prestar os primeiros cuidados para alguém que venha a sofrer algum mal-estar durante a viagem ou algum acidente. No local, nenhum profissional de saúde a serviço do sistema ferryboat foi localizado pelo CORREIO.

*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo