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Pai de uma promessa do karatê baiano busca caminhos para filho continuar na arte marcial


 

Daniel tem 13 anos e está no Karatê desde os quatro

  • Nilson Marinho

Publicado em 02/09/2024 às 05:00:00
Daniel tem 13 anos e acumula títulos no Karatê. Crédito: Jefferson Peixoto/Secom

O que é necessário para se tornar um atleta campeão? Talento, disciplina, rotina de treinamentos intensos, foco e resiliência podem ajudar a chegar ao pódio. Por outro lado, mesmo que se tenha tudo isso, sem estrutura familiar e, sobretudo, financeira, o caminho até as conquistas se tornará ainda mais difícil do que naturalmente é.

O rodoviário Uelder Nascimento Araújo sabe que tem um campeão em casa: seu filho de 13 anos, que, desde os quatro, se dedica ao karatê e que, em dezembro do ano passado, se tornou faixa preta 1º Dan — o primeiro grau após a obtenção da faixa preta. Por isso, não mede esforços para dar todo o suporte que seu único herdeiro precisa para continuar na arte marcial.

Ele sabe que toda a sua dedicação não é em vão. Não só porque a luta de origem japonesa tem contribuído para o desenvolvimento físico, emocional e social do seu filho, mas porque o adolescente vem se destacando na modalidade milenar. Daniel Santos Araújo tem subido em praticamente todos os pódios das competições de que participa, e, na maioria das vezes, ocupa o degrau mais alto.

O garoto já foi campeão em 24 torneios nacionais e estaduais nos últimos seis anos. Se forem contados os segundos e terceiros lugares, são mais sete as conquistas. Além disso, foi o primeiro do top 10 da Bahia em sua categoria (13 e 14 anos) e, atualmente, ocupa a segunda colocação. No geral, considerando todas as outras categorias, ele é o sexto do estado.

A família Araújo mora em Pau da Lima. É no bairro que Daniel realiza os treinos, três vezes por semana na associação de moradores. Quando as competições estão próximas, os treinamentos precisam ser intensificados, e o adolescente necessita de mais dois dias semanais de preparação.

Para criar resistência, o garoto treina com pessoas mais velhas e mais experientes. Inclusive, em uma recente competição em Alagoinhas, a cerca de 120 km de Salvador, ele se arriscou a enfrentar adolescentes de 16 e 17 anos.

Daniel em um dia de treinamento em Pau da Lima. Crédito: Jefferson Peixoto/Secom

Todas as vezes que o rodoviário fala sobre o filho, o faz com bastante entusiasmo. Acompanha todos os passos de Daniel e investe energia e dinheiro para dar todo o suporte que um atleta de alto rendimento necessita. Sem grandes patrocínios, não mede esforços na hora de sair pelo bairro batendo na porta de pequenos e médios empresários em busca de apoio. Quando consegue, em troca, faz divulgação no Instagram do garoto, que conta com quase 600 seguidores.

“Peço ajuda cara a cara, através dos status no WhatsApp e no Instagram, de qualquer forma e valor, para ajudar nas competições. Alguns ajudam uma vez, mas na próxima já não podem mais. Faço rifas e tento trocar a ajuda que eles dão por divulgação da marca no Instagram do Daniel, que ainda tem poucos seguidores, mas esperamos que cresça”, comenta Uelder.

Para equilibrar as contas e investir na carreira do filho, ele já pediu desconto na escola do adolescente e, mais recentemente, em uma academia de musculação do bairro, já que o karateca, que está em fase de crescimento, precisa ganhar força muscular. No caso do espaço de atividade física, foi concedido acesso gratuito. Agora, ele alinha os treinos na associação de moradores com aulas de musculação de três a quatro vezes por semana.

Daniel faz parte do Bolsa Atleta, um incentivo da prefeitura de Salvador concedido para atletas que não dispõem de recursos financeiros para gastar com inscrições, viagens e preparação. O programa possui duração de 12 meses e o valor varia entre R$ 300 e R$ 2 mil mensais, a depender da categoria do atleta. O karateca recebe o valor mínimo.

O adolescente quer ir mais longe. Almeja subir no pódio de uma competição internacional. Daniel teve a chance, em 2022, de participar de um torneio mundial na Itália. À época, a seleção brasileira de karatê o convocou para representar o país em sua categoria, mas os custos da viagem para a Europa, que incluíam passagens aéreas, alimentação e inscrição, chegaram a R$ 14 mil, valor que a família não podia pagar.

Naquela ocasião, o sonho precisou ser posto de lado, mas, finalmente, o garoto terá a chance de enfrentar outros karatecas de todo o mundo. Mais uma vez, Daniel foi convocado pela seleção brasileira no mundial de karatê, em outubro, em Buenos Aires, Argentina. Dessa vez, a viagem ficou mais acessível, sem contar que as passagens aéreas foram pagas pelo projeto da gestão municipal, do qual ele faz parte desde 2023. Mesmo assim, alguns gastos terão que sair do bolso da família.

O adolescente está focado em voltar para casa com mais uma medalha, de preferência aquela de maior valor. “O grande foco está no mundial, onde vou ter que lidar com o nervosismo, pois é a primeira vez que vou sair do país para competir", diz Daniel.

O seu treinador, Cleber Pinho, que também participará do mundial como atleta, o acompanhará na viagem. “Estamos nos preparando tranquilamente, mas com bastante foco na questão técnica, tática e na preparação física, com auxílio até do pai, para que ele possa estar apto a representar o Brasil muito bem”, comenta.