Nova Motelaria: motéis investem em inovação e tecnologia para atrair público baiano
Automatização de atendimento, extinção da cama redonda e nova arquitetura são algumas das mudanças para alavancar o setor
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Larissa Almeida
lpalmeida@redebahia.com.br
Não muito tempo atrás, os letreiros vibrantes na parte superior ou acima dos edifícios de Salvador caracterizavam, de longe, os locais voltados à sedução, ousadia e liberdade sexual. Era esse o caso dos motéis, que, desde a década de 80 até o início dos anos 2000, registravam enormes filas de clientes – solteiros e casados – que buscavam um local para se relacionar intimamente e sem compromisso. Essa realidade durou até o começo do século, quando o setor moteleiro começou a declinar. Agora, depois de anos contabilizando baixos índices de faturamento e movimento, o segmento está superando as dificuldades na capital baiana através do investimento em um processo de modernização sustentada pelo uso de inovação e tecnologia.
Chamado de ‘Nova Motelaria’, o momento nasceu em 2020 com o empresário e consultor gaúcho Vinicius Roveda, sócio da Zeax, empresa dona da rede Drops de motéis. Foi ele um dos precursores do movimento de reformulação do segmento, que consiste no reposicionamento das empresas dentro das novas expectativas do mercado, envolvendo quatro pilares: o moteleiro, os serviços, o marketing e a arquitetura.
De acordo com Adroaldo Neiva, um dos diretores da Associação Brasileira de Motéis (ABMotéis) e sócio-diretor do motel soteropolitano Fantasy, a mudança era necessária para dar resposta às transformações ocorridas na sociedade. “Tivemos mudança no perfil do consumidor com novas expectativas em relação a produtos e serviços, buscando uma experiência mais completa, bem como alterações no conceito da arquitetura das suítes, com ambientes mais clean e com mais tecnologia e conforto”, pontua.
O foco é proporcionar não apenas um quarto, mas um momento diferenciado e sofisticado para a clientela. No motel Fantasy, no Imbuí, em Salvador, Adroaldo conta que duas suítes, denominadas Acqua e Design, já estão adaptadas a esse novo estilo, que alia conforto, sofisticação, tecnologia, gastronomia, além da limpeza e segurança.
Ele ressalta que os estabelecimentos que aderiram a esse movimento, via de regra, investem em inovação. “É possível ver a tecnologia empregada nas suítes desde a presença dos mais modernos equipamentos de TV, som e iluminação, bem como na utilização da automação através de equipamentos como Alexia e ainda QR Code para acessar o sistema do motel e ver cardápio digital, fazer pedidos, responder pesquisa de satisfação, se cadastrar em programa fidelidade, pagar a conta”, elenca.
O motel Scala, no bairro do Comércio, avançou no processo de automatização dos serviços moteleiros desde a pandemia, quando a proprietária Cristiana Neves passou a conhecer mais a ideia de modernização do segmento. Desde então, o cliente pode fazer a reserva e sair do local sem precisar entrar em contato com ninguém.
“Nós entendemos que, quando alguém vai a um motel, hoje, não quer ser visto ou se comunicar. Quer entrar e sair muito rápido. Então, automatizamos toda a parte da entrada. O cliente faz a escolha da sua suíte no tótem digital, entra, faz o pagamento no quarto através do aplicativo. Buscamos dar ao cliente uma autonomia e rapidez, e colocamos em prática um processo de personalização dos serviços através de pacotes, como para comemoração de casamentos”, fala.
Parte fundamental da experiência, a decoração é um dos pontos mais vislumbrados da Nova Motelaria. Para isso, há investimento em novas arquiteturas e eliminação de itens que caracterizavam a ‘Velha Motelaria’. Dentre eles, está a cama redonda que, segundo a arquiteta Daniela Dantas, não tem mais espaço nos motéis modernos.
“Este item foi, por muito tempo, um elemento que caracterizava a suíte de motel, porém ele não faz parte dos projetos atuais, primeiramente porque seu formato não é confortável para as pessoas utilizarem e até para o funcionamento interno de organização ela não ajuda, já que não existe roupa de cama nesse formato”, explica.
A especialista, que foi responsável pelo novo projeto arquitetônico do motel Auge, em Feira de Santana, conta que a arquitetura dos quartos da Nova Motelaria tem como prioridade maximizar a vontade do cliente de ficar tal como em um hotel. “Buscamos transformar estes locais em espaços que as pessoas se sintam confortáveis e queiram ficar por mais tempo. Utilizamos recursos modernos como a automação ligada à iluminação e sistema de áudio e vídeo, equipamentos e eletros que não faziam parte das suítes como cervejeira, adega, cafeteira, além de camas e itens de enxoval de qualidade”, completa.
Daniel Dantas, também diretor da ABMotéis e proprietário do motel Auge, aponta que a quebra de tabus relacionados ao sexo teve papel importante para provocar a estabilidade do setor. “Eu digo que antigamente o motel era um item de necessidade, mas com o passar dos anos ele deixou de ser. A liberdade sexual avançou, as famílias permitem os namorados nos quartos, então as pessoas não querem mais se hospedar em motéis [da Velha Motelaria]. Esse movimento novo veio querendo mudar isso”, constata.
Segundo ele, já é possível vislumbrar alguns avanços decorrentes dessas mudanças. “Tem muitos motéis que vínhamos acompanhando os números através da ABMotéis. Eles estavam em decadência de faturamento, vendas, médias de diárias e taxa de ocupação. A partir dessa reinvenção, muita gente já está colhendo resultado no Sul da Bahia, Salvador e Região Metropolitana, e a tendência é crescer”, projeta.
*Com orientação da subeditora Monique Lôbo