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Nos últimos três anos 50 policiais foram feridos em serviço na Bahia


 

Nesse mesmo período 250 viaturas foram alvejadas no estado

  • Gil Santos

Publicado em 22/07/2024 às 18:22:23
Tropa cobra mais proteção. Crédito: Divulgação 

O número de viaturas alvejadas e de policiais feridos levantou um alerta da Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP). Nos últimos três anos, 250 viaturas foram atingidas e, pelo menos, 50 policiais foram mortos ou ficaram machucados em serviço. O número total de veículos da tropa não foi informado. Policiais cobram mais armamentos e ações de inteligência para lidar com os traficantes, enquanto o governo acredita que a audácia dos bandidos está associada à tática de enfrentamento adotada pelas novas facções criminosas.

Policiais civis da 3ª Delegacia (Bonfim) estavam passando pela Avenida Jequitaia, no bairro do Comércio, quando a viatura em que eles estavam foi atingida por um tiro. O caso foi em junho. Um mês antes, um policial militar foi baleado no pé esquerdo durante uma ronda na Prainha do Lobato. No mês anterior, um PM do Batalhão de Operações Especiais (Bope) foi atingido na perna durante uma troca de tiros com traficantes em Mirantes de Periperi.

Um militar que atua em Salvador contou, sob anonimato, que a aumento da violência preocupa porque os bandidos estão cada vez mais bem armados. Ele disse que os conflitos estão ficando mais intensos, mas frisou que é preciso ações de investigação para desarticular as quadrilhas.

"Hoje em dia a gente apreende fuzil e granadas com uma frequência que não existia há alguns anos, então, é claro que isso assusta, porque se o estado não acompanhar a evolução dos meliantes, a tropa fica vulnerável. Tem que blindar as viaturas, comprar armas para fazer o enfrentamento e realizar ações de inteligência e, principalmente, a justiça precisa manter eles [bandidos] presos", afirmou.

O dado foi divulgado pela Secretaria de Segurança Pública (SSP) durante um evento que anunciou a convocação de mais 3.095 PMs, bombeiros e peritos, incluindo profissionais que estavam na reserva, para reforçar o quadro de segurança do estado. O encontro foi realizado no auditório do Centro de Operações e Inteligência (COI), no CAB, e contou com a presença de diversas autoridades.

A audácia dos criminosos tem chamado a atenção dos policiais. O titular da SSP, Marcelo Werner, afirmou que o governo tem investido na capacitação da tropa, em tecnologia e na compra de viaturas semiblindadas, de coletes balísticos e de armamento.

"Estamos trabalhando com várias frentes. Primeiro, a prisão de lideranças. Foram 56 este ano e 33 no ano passado. Estamos fazendo a apreensão de armas de grosso calibre. Foram 42 fuzis este ano e 55 no ano passado. Tivemos aumento de pessoas presas, de armas apreendidas, a desarticulação de laboratórios e a apreensão de dinheiro usado pelos criminosos", afirmou.

O secretário explicou que tem sido uma tática dos bandidos enfrentar as forças de segurança e que o confronto, antes evitado pelos traficantes, hoje parece ser o objetivo de algumas facções, e frisou que segurança não é uma questão apenas de polícia. Durante o evento foi anunciado um novo Reda na Polícia Civil para sociólogos, arquitetos, urbanistas e estatísticos que vão atuar no estudo da mancha criminal.

Anuário

O governador Jerônimo Rodrigues (PT) anunciou novos concursos para policiais militares, bombeiros e peritos. Ele convocou 3.095 profissionais já aprovados para tomar posse e chamou outros 612 que estavam na reserva. Na semana passada, o Anuário Brasileiro de Segurança Pública apontou que, pelo terceiro ano consecutivo, a Bahia é o estado com o maior número de mortes violentas intencionais do Brasil. Foram 6.578 ocorrências registradas no ano passado. O governador comentou.

"Tivemos um primeiro semestre com dados favoráveis à gente. Se dependesse de decreto ou de mais recurso, eu tiraria de um canto e colocaria em outro, mas não é só isso. Estamos enfrentando as facções, fazendo operações diárias com prisões e apreensões de armas e drogas, além das ações de inteligência. Tenho expectativa de que no ano de 2024 os números positivos continuarão crescendo", afirmou.

Segundo o governo, no primeiro semestre de 2024, o número de mortes violentas caiu 13% em comparação ao mesmo período do ano passado. Nesta terça-feira (23), o governador vai à Brasília para uma reunião com o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski. A pauta do encontro será a situação da segurança na Bahia, a apresentação de projetos desenvolvidos pelo governo do estado e a parceria entre os governos para ações de inteligência. 

O ministro está elaborando uma Proposta da Emenda à Constituição (PEC) para melhorar a atuação da União na segurança pública no país. No dia seguinte haverá um encontro entre os secretários da segurança de todos os estados e, depois, uma reunião entre as pastas especificamente do Nordeste. O governado afirmou que vai participar também desses encontros.

Repercussão

Para o coordenador geral da Associação de Policiais e Bombeiros Militares do Estado da Bahia (Aspra), Marco Prisco, os ataques contra as viaturas e policiais evidenciam o poder bélico das facções e reforçam a necessidade de investimento na proteção da tropa.

"Todas as viaturas deviam ser blindadas por conta do armamento que a criminalidade tem que é muito superior ao da polícia. Eles têm mais munição e mais condições do que o estado. É um cenário muito preocupante. Como podemos oferecer segurança para a sociedade se o próprio policial não tem segurança pra ele?", questionou.

Já o presidente da Sindicato dos Policiais Civis da Bahia (Sindpoc), Eustácio Lopes, contou que os conflitos que deixam policiais feridos são mais comuns na PM, já que policiais civis não costumam fazer ações ostensivas com frequência, e frisou que a investigação e a inteligência são fundamentais no enfrentamento e na desarticulação dos grupos criminosos.

"A polícia comprou umas ferramentas de extração de dados inteligentes e a gente tem focado na investigação com a interceptação telefônica e no relatório de investigação financeira para desarticular o capital dessas organizações criminosas e das facções", afirmou.

O CORREIO não conseguiu contato com a Associação de Praças da Polícia e Bombeiro Militar da Bahia (APPMBA).