'Não sei onde ele está', diz advogado de dono de ferro-velho suspeito por sumiço de funcionários
Defensor afirmou que mala que aparece em imagem com amigo de Marcelo, que levantou suspeitas de fuga para fora do país, não é dele
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Carol Neves
caroline.neve@redebahia.com.br
O empresário Marcelo Batista da Silva, suspeito de envolvimento no desaparecimento de dois jovens em Salvador, ainda não se entregou e o advogado dele não sabe quando ele deve se apresentar à polícia, embora fale que a defesa tem intenção de colaborar com a investigação. Paulo Daniel Pereira e Matusalém Muniz estão desaparecidos há dez dias, desde que saíram para trabalhar no ferro-velho de Marcelo, no bairro de Pirajá, na altura da BR-324.
Imagens das câmeras de segurança do prédio de Marcelo mostram ele saindo do prédio e não voltando mais. Duas pessoas autorizadas por ele entraram no apartamento, depois, para buscar uma mala, o que alimentou suspeitas de que o dono do ferro-velho possa ter fugido e até saído do país. O advogado de Marcelo, Júnior Magnavita, disse que hoje estava acompanhando o depoimento à polícia do amigo de Marcelo, identificado como Léo Mendes, que aparece nas imagens com a bagagem.
"Ele veio esclarecer os fatos. Ele ficou no apartamento de Marcelo no dia 29, dias antes do fato, que ele chegou de São Paulo. Terminou se hospedando no apartamento de Marcelo, que é uma pessoa que ele conhece há mais de 10 anos, conforme informou aqui perante o delegado", disse o defensor, em entrevista à TV Bahia. "Como ele já havia saído do apartamento de Marcelo no dia seguinte, e tinha deixado uma duas malas lá, ele foi, depois dos fatos, apenas retirar a mala dele. A mala era de Léo Mendes. Ele tem comprovante, nota fiscal, tudo direitinho", garantiu.
Questionado sobre onde está Marcelo, o advogado disse não saber. "Não sei qual o paradeiro dele ainda. Não sei onde ele está, não tenho falado com ele, só com os familiares dele, diariamente", disse. "Estamos aguardando a conclusão do inquérito, coleta de todos os elementos e realização da perícia para poder tomar uma decisão com relação à apresentação dele, porque é interesse da defesa colaborar com a apuração de todos os fatos", acrescentou.
Familiares dos jovens desaparecidos fizeram um protesto na manhã de hoje, em frente ao ferro-velho. Eles seguravam cartazes e chegaram a queimar pneus e outros objetos no local, pedindo celeridade nas investigações.
Um veículo que seria do empresário foi encontrado ontem, em uma loja de Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador (RMS). O carro, avaliado em cerca de R$ 750 mil, deve passar por perícia para investigar possíveis vestígios de sangue. O veículo também teria sido levado ao local pelo mesmo amigo de Marcelo.
Procurada pelo CORREIO, a Polícia Civil confirmou que aguarda o resultado da perícia. "Diligências periciais estão em andamento e os laudos do Departamento de Polícia Técnica (DPT) irão contribuir para elucidação de qualquer vestígio, porventura, encontrado", disse a corporação, em nota.
Entenda o caso
Paulo Daniel Pereira e Matuzalém Silva estão desaparecidos desde o dia 4 de novembro. Os dois foram trabalhar em um ferro-velho, no bairro de Pirajá, mas não retornaram para suas casas. Após denunciar o desaparecimento dos jovens, as famílias suspeitam que o dono do ferro-velho, Marcelo Batista Silva, onde eles trabalham tenha envolvimento no sumiço. Na última quinta-feira (7), o Corpo de Bombeiros foi até o local para realizar buscas e retornou no dia seguinte com a Polícia Civil e uma ordem judicial, mas os jovens não foram encontrados.
A Polícia Civil da Bahia pediu a prisão preventiva do empresário, que já foi processado pelo crime de tortura contra pessoas que empregou. Em 2018, o Ministério Público Estadual (MPE), denunciou o empresário após um inquérito policial apontar a prática criminosa por ele cometida no ano de 2017.
"No dia 25 de setembro de 2017, por volta das 13h30min, no interior da empresa de reciclagens Pró Metais, no Km 9, bairro Pirajá, nesta capital, o denunciado constrangeu as duas vítimas mediante emprego de violência e grave ameça, com a finalidade de obter informações acerca da autoria da prática de suposto crime de furto na sua empresa", descreveu o MPE na denúncia submetida contra ele.
No documento, foram apresentados os laudos médicos que comprovaram as lesões dos funcionários que prestaram queixa contra Marcelo. No dia do crime, de acordo com o inquérito, o empresário teria prendido as duas vítimas no ferro-velho, acusando de pegar materiais do local.