'Não caiu a ficha de que não tenho mais ele para beijar e abraçar', diz tio de jovem que morreu soterrado
Jovem teve corpo localizado na manhã da última sexta-feira (29)
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Larissa Almeida
lpalmeida@redebahia.com.br
Após 48 horas de incertezas e espera, a família de Paulo Andrade, 18 anos, recebeu a notícia de que o jovem foi encontrado sem vida sob a lama e os escombros da casa soterrada em Saramandaia. As buscas para encontrar o rapaz tiveram fim na manhã desta sexta-feira (29), período em que a dor dos familiares ganharam uma nova camada, que substituiu a angústia pelo luto.
Segundo o tio do jovem, o pedreiro e pintor Lauro Fernandes, 59 anos, ainda estava sendo assimilar a morte. "Nós nos víamos todos os dias, nós nos abraçávamos e eu beijava ele. Era meu sobrinho, sangue do meu sangue. Não caiu a ficha de que não tenho mais ele para beijar e abraçar. Dar dois beijos em Heitor, meu sobrinho mais novo, não vai substituir os beijos que eu daria em Paulo", disse, emocionado.
De acordo com Lauro Fernandes, Paulo era estudioso e tinha o sonho de se tornar professor. Ele ainda cursava o Ensino Médio e tinha sido contratado para integrar a equipe de um curso preparatório do qual foi aluno. Lá, ele dava reforço escolar para outros alunos. A promoção havia ocorrido há cerca de dois meses.
"Ele dizia 'ô meu tio, eu quero ser que nem sua filha, que é professora'. Ele era o mais inteligente. Eu ainda não consegui ligar para minha filha, que mora em Aracaju, para contar. Me sinto um peixe fora d'água. Não quero fazer nada além de orar para Deus confortar o coração de todos os familiares", acrescentou Lauro.
Assim que os bombeiros confirmaram a morte do jovem, familiares e vizinhos que aguardavam na rua do bairro por uma atualização das buscas não contiveram as lágrimas. Uma tia de Paulo chegou a passar mal, desmaiou e foi socorrida no local. Logo em seguida, os parentes se recolheram em casa e não saíram nem para acompanhar a remoção do corpo, que ocorreu nove horas depois.
Esposa de um outro tio de Paulo, Débora Andrade, 35, contou que todos estavam em desespero. "Por mais que a gente esperasse e soubesse que já tinha passado muito tempo, ao receber a notícia todos ficamos destruídos. É muito difícil perder um jovem que acabou de perder 18 anos. Dia 11 de novembro foi o aniversário dele e dia 16 comemoramos na laje da casa. Não sabíamos, mas estávamos nos despedindo dele, que era um garoto carinhoso, carismático, brincalhão, respeitador e muito bem criado", finalizou.