Na Casa do Rio Vermelho, amor e amizade estão em todos os cantos
Lar de Jorge Amado e Zélia Gattai por quase cinco décadas, espaço foi construído com contribuições de amigos como Carybé e Lina Bo Bardi
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Raquel Brito
mrbrito@redebahia.com.br
Rio Vermelho, Rua Alagoinhas, número 33. A fachada da Casa do Rio Vermelho chama a atenção para o que, de outro jeito, seria apenas mais uma residência escondida no fim da ladeira da rua estreita. A casa de Jorge Amado e Zélia Gattai, entretanto, carrega memórias de mais de cinco décadas de arte: ali, foram criados todos os livros de Zélia e vinte dos de Jorge.
A morada nasceu nos anos 50, após a venda dos direitos autorais de Gabriela, Cravo e Canela. Foi adquirida pelo casal, após os anos de exílio, porque eles queriam ficar mais perto da família e dos amigos. E a casa adorava receber visitas: fez questão de ter o quarto de hóspedes como seu primeiro cômodo construído e sempre recebeu todos que quisessem visitá-la, de entes próximos a leitores que queriam conhecer o berço de suas obras favoritas. De casa a museu, o espaço sempre carregou em si um pouco de cada um que passou por ali.
Se, para Jorge, na vida só vale o amor e a amizade, os amigos retribuíam o carinho e acolhimento com presentes que embelezam todos os cômodos até hoje. Os Cangaceiros de Carybé e As Baianas de John Graz acompanharam e inspiraram Jorge em seus dias sentado à máquina de escrever na sala de estar, seu local preferido para trabalhar. A sereia de Mário Cravo ornamentava a piscina, e as cartas trocadas com Saramago são hoje expostas num dos quartos dos hóspedes. Os presentes são exibidos com orgulho pela casa por toda parte, da sala principal ao jardim.
O gradil feito por Mário Cravo, pratos com poemas de Tom Zé na parede da cozinha e sugestão de Lina Bo Bardi para os mosaicos de azulejos no piso são outras contribuições das amizades. “O casal sempre teve o costume de deixar à mostra os presentes de amigos e isso foi mantido no museu. A casa tem um dedinho de cada amigo de Jorge e Zélia”, explica Clarissa Nascimento, museóloga que trabalha há cinco anos no local.
O argentino Carybé, grande companheiro do casal, teve participação essencial na construção do aspecto de lar que Jorge e Zélia queriam para o imóvel: são de sua autoria os azulejos nas paredes dos quartos e da sala, além das vigas em formato de peito de pássaro, um pedido específico de Jorge, prontamente atendido pelo amigo.
Maria João Amado, neta do casal e gestora do atual museu, afirma que a casa é feita de simbolismos. Para ela, manter o espaço é um modo de retribuir tudo que a Bahia fez pela família Amado. “Desde os azulejos feitos por Carybé até cada obra de arte que Jorge chumbava na parede, ela foi feita cuidadosamente, com auxílio dos amigos, artistas da terra e de fora”, diz Maria João.
**Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo