Na Bahia, mulheres devem mais do que homens; entenda por que
Público feminino corresponde a 52,8% da população inadimplente do estado
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Larissa Almeida
lpalmeida@redebahia.com.br
Seja por débitos com bancos ou cartões de crédito, endividamento com empresas financeiras ou com o varejo, as mulheres são as que mais devem na Bahia. Das 4.570.611 pessoas inadimplentes no estado, 2.413.282 (52,8%) correspondem à população feminina. Isso é o que revelam os dados da Serasa, empresa brasileira que registra o comportamento financeiro dos consumidores.
Para Fernando Gambaro, gerente da Serasa, as mulheres serem as mais endividadas na Bahia não é uma surpresa. “Essa divisão já era esperada. Quando avaliamos o sexo, até mesmo por conta da representatividade na população, tem um pouco mais de mulheres do que homens”, constata.
O consultor e educador financeiro Raphael Carneiro lembra que também são as mulheres aquelas que, muitas vezes, assumem sozinhas a responsabilidade econômica da casa. “Em muitos casos, inclusive, são mães solo. Com a dificuldade financeira e por serem as únicas responsáveis das economias da casa, [elas] acabam tendo uma tendência de endividamento maior. No caso das mães solo, junta a questão financeira com a questão da sociedade, da falta de amparo e de companhia”, aponta.
Além disso, o educador financeiro Edisio Freire traz à tona a fama de ‘gastadeiras’ que as mulheres têm. Ele afirma que essa associação ocorre porque há uma concentração de responsabilidades financeiras que o público feminino é levado a assumir, mesmo quando há apoio dentro de casa. “Isso faz com que elas acabem consumindo mais porque são responsáveis pelos gastos da família. Quem faz os supermercados, a compra das roupas das crianças, dos brinquedinhos e, às vezes, das roupas dos próprios parceiros são as mulheres”, ressalta.
Uma administradora de 34 anos, que preferiu não ter seu nome exposto, conta que tem dívidas com dois cartões de créditos e instituições justamente pela sobrecarga com as despesas da casa em que vive com seu marido e seu filho. “Me enrolei financeiramente com as contas do dia a dia, responsabilidade com aluguel e alimentação. As dívidas chegam a R$10 mil e, nesse momento, não tenho perspectiva alguma de pagar”, fala.
Por sua vez, uma atendente de 45 anos, que também preferiu não ser identificada, relata que se rendeu às ofertas de crédito de um banco para lidar com os gastos mensais, mas acabou ficando endividada após um problema de saúde que dificultou sua obtenção de renda. “Minha dívida está em aproximadamente R$750, porque tive que me afastar do trabalho, então não tive como quitar o débito com o cartão de crédito”, diz.
Para além dos gastos com a casa e com a família, Edisio Freire acrescenta que as despesas das mulheres com serviços e produtos para si mesmas costumam ser mais caros, o que pode contribuir para o contexto de maior inadimplência. “O perfil feminino tende a ter um nível de consumo maior, talvez não só em quantidade, mas em ticket médio. Os itens femininos, via de regra, são mais caros que os itens masculinos. Então, isso é um ponto também que fortalece esse indicador”, finaliza.
*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro