Músicos do projeto Neojiba retomam os ensaios e já têm apresentação marcada
Grupo vai se apresentar em Salvador e também no Chile, em fevereiro
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Gil Santos
gilvan.santos@redebahia.com.br
O músico Eliel Reuel tinha 14 anos quando pisou pela primeira vez em uma filarmônica, em Dias D'Ávila. O objetivo era ser percussionista, mas decidiram que ele tocaria trombone. Só que no primeiro dia já houve um problema. O braço do garoto não era longo o suficiente para alcançar a última nota, e ele foi remanejado para o saxofone. Essa história tem seis anos. Nesta quinta-feira (15), os músicos do Neojiba retornaram das férias e retomaram os ensaios. Eliel entrou orgulhoso na sala de música com um trombone apoiado no ombro e deu um show.
"Eu fiquei pouco tempo na filarmônica [onde tocava sax], porque meus pais não me deixavam viajar. Quando saí, fui para uma banda, com meu irmão, mas acabei saindo pelo mesmo motivo. Até que um colega que estava em uma filarmônica falou de uma vaga. Era para trombonista de novo. Eu fui, mesmo depois daquele teste falho. Dessa vez deu certo, e pouco depois, em 2020, eu fiz a prova para a Orquestra Castro Alves. Entrei para o grupo infantojuvenil", conta.
No ano passado, Eliel foi aprovado para a orquestra principal do Neojiba. Hoje, o músico, um trombonista tenor, é monitor, auxilia os alunos de trombone da orquestra e dá aulas particulares de música. Membro de uma família de dez irmãos, Eliel foi o único que seguiu o caminho artístico. Ele também foi aprovado na Escola de Música da Universidade Federal da Bahia (Ufba). "A música mudou a minha vida", afirma.
Antes de entrar na sala para o primeiro ensaio da temporada de 2024, o maestro Ricardo Castro, responsável pelo projeto Neojiba, frisou que a orquestra tem uma função social que vai além do entretenimento. Ele lembrou que, durante a pandemia, os músicos atenderam centenas de jovens de forma on-line e afirmou que o projeto tem como meta alcançar e mudar a realidade de muitas famílias.
"A gente desenvolveu toda uma geração que não somente sabe música, mas é comprometida socialmente e entende a função de um músico remunerado com recursos públicos. Ele não pode se contentar em somente se apresentar para a plateia, ele tem muito mais o que fazer no âmbito do atendimento psicossocial. Temos um comprometimento com a sociedade que vai além do entretenimento, e esse é o principal diferencial da Neojiba", afirmou.
Atualmente, o projeto tem 13 núcleos, 2.400 integrantes e uma fila com 3 mil crianças e jovens, de 6 a 28 anos, aguardando por uma vaga. A meta da instituição é criar mais seis núcleos territoriais na Bahia nos próximos três anos. A sede do grupo, no Parque do Queimado, na Liberdade, está passando por reforma e ampliação. Nesta quinta-feira, os jovens lotaram a sala de música e deram as primeiras notas. O maestro orientou. "Calma, vocês estão indo muito rápido. Vamos de novo, dessa vez mais devagar", disse.
Enquanto isso, no andar de cima, na Sala do Coro, o professor dava as notas no piano e os jovens acompanhavam as partituras. Camila Ceuta, 23 anos, teve recentemente a missão de interpretar o papel da morte da ópera Dulcinéia e Trancoso, uma espécie de vilã na trama. No ano passado, a turnê passou por Mossoró (RN), João Pessoa (PB), Manaus (AM) e teve três sessões a mais no Teatro Vila Velha, em Salvador, todas lotadas. As apresentações serão retomadas em abril.
"Minha relação com a música começou desde muito nova, ouvindo Beyoncé e assistindo a Disney. Não imaginei que seria uma cantora lírica. Foi no ensino médio que fiz um curso de música e descobri essa paixão. Em 2018, conheci o Neojiba, fiz a audição e consegui uma vaga. Aprendemos muito no projeto, porque temos a oportunidade de ter contato com profissionais excelentes do país inteiro", afirmou. Ela também é estudante de música na Ufba.
No domingo (25), será realizada a primeira apresentação do grupo em Salvador e faz parte da série Todo Domingo no Parque. O evento é gratuito, às 11h, no Parque do Queimado. No dia anterior, o maestro Ricardo Castro e parte dos músicos do Neojiba estarão no Chile como convidados para o encerramento da Academia de Orquestras Latino-americanas. Em 2025, haverá uma turnê internacional pela Europa, em países como França, Alemanha, Holanda, Áustria, Itália, Polônia, Eslovênia e Principado de Liechtenstein.
"Nós formamos músicos de altíssima qualidade. É uma pedagogia muito específica e tão importante que nesse momento a gente está fazendo uma seleção para jovens da Suíça virem para aqui estagiar e tivemos mais de 40 candidatos para seis vagas. Isso ocorre porque nossa metodologia interessa ao mundo", afirmou o maestro.