Motorista de aplicativo desobedece o tráfico, tem carro crivado de balas e morre
É o segundo óbito na categoria em três dias na capital baiana
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Bruno Wendel
bruno.cardoso@redebahia.com.br
Quem mora em comunidades de Salvador dominadas por facções criminosas sabe que infrigir as regras de convivência com o tráfico pode custar a vida - e isso serve também para quem trabalha prestando serviços nestes locais. Na noite desse sábado (2), o motorista por aplicativo Demeval da Silva Oliveira Sobrinho, 59 anos, morreu após ter o carro crivado de balas no bairro de Saramandaia, região controlada pelo Comando Vermelho (CV). De acordo com moradores, ele não teria obedecido a ordem para parar. Esta é a segunda morte na categoria em quatro dias em Salvador.
O crime aconteceu pouco antes das 20h de sábado, próximo à Praça Euclides da Cunha. "Falam que ele veio pegar alguém e os caras se assustaram com ele. Mandaram baixar os vidros, mas ele não fez, provavelmente se assustou, e continuou", contou um morador. "Fiquei surpreso porque isso não é de acontecer, porque os 'meninos' não mexem com ninguém. Todos os motoristas (por aplicativo) entram e saem daqui 'de boa' porque já sabem como devem proceder", disse o outro morador.
Parentes de Demeval estiveram na manhã deste domingo (3) no Instituto Médico Legal (IML). "Ele foi atingido nas costas e no braço. O carro tinha umas seis perfurações e ainda ficou com amassados nas laterais, provavelmente, foi logo depois que ele perdeu o controle da direção e saindo batendo em tudo", contou o irmão do motorista de aplicativo. Ele disse também que Demeval estava no carro da mulher, um Sandero, e que o veículo tem película nos vidros.
Segundo ele, os traficantes obrigaram um casal socorrer o irmão. "Na certa, viram que Demeval era um trabalhador e não policial e abordaram um um carro. Mandaram o rapaz prestar o socorro, enquanto mantinham a namorada dele como refém. Eles liberaram ela quando tiveram a confirmação que Demeval já estava no hospital", contou o irmão da vítima. Mas Demeval chegou morto no Hospital Geral Roberto Santos, no Cabula.
Demeval morava na Barra e era casa e não tinha filhos. Horas antes do trágico episódio, ele estava com a mulher em um aniversário de criança em São Caetano, quando recebeu uma ligação de um cliente, pedindo para ir buscar uma senhora em Patamares. "A esposa disse pra não ir, mas ele não sabe dizer não para ninguém", disse uma sobrinha da vítima, que também preferiu o anonimato.
Ela e os outros parentes não souberam explicar como Demeval foi parar na Saramandaia. "Realmente não sabemos. O que podemos dizer é que neste dia ele não estava trabalhando, mas foi atender um pedido de uma pessoa com quem ele tinha uma boa relação", disse a sobrinha. A família não quis informar quando e onde será o sepultamento.
Em nota, a Polícia Civil informou que, conforme informações preliminares, os criminosos armados interceptaram um casal que saía de um prédio próximo ao bairro e exigiu que eles dessem socorro ao baleado até o Hospital Geral Roberto Santos, onde ele já chegou sem sinais vitais. A autoria e motivação estão sendo apuradas.
IAPI
Este foi o segundo caso envolvendo motorista por aplicativo nesta semana. Cleyton Pereira Santos, de 30 anos, morreu após ser baleado ainda dentro de um carro no bairro do IAPI, na noite de terça-feira (29). O crime aconteceu na Rua Conde de Porto Alegre.
Segundo a Polícia Civil, o veículo que Cleyton dirigia foi recolhido e passará por uma perícia do Departamento de Polícia Técnica, cujos laudos ajudarão na apuração do caso.
O Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) investiga o crime.