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Morre homem que sequestrou mãe e bebê na Engomadeira


 

Sequestrador estava sendo procurado pela polícia desde 2020

  • Gil Santos

Publicado em 05/08/2024 às 15:37:31
Momento da saída de Carrasco. Crédito: Marina Silva/ CORREIO

Morreu o sequestrador Gilvan Dias Damasceno Santos, mais conhecido como Carrasco, que fez uma mulher de 19 anos e o bebê dela, um menino de 1 ano e 3 meses, reféns no bairro da Engomadeira, em Salvador, nesta segunda-feira (5). Ele foi baleado durante o processo de negociação, socorrido para o Hospital Geral Roberto Santos, no Cabula, mas não resistiu aos ferimentos. A mulher também foi baleada e está internada. O bebê escapou sem ferimentos.

Era por volta das 5h quando Carrasco invadiu a casa da manicure Raíssa, 19 anos, na Rua São Tomás, próximo ao final de linha. A mulher estava com o filho quando foi surpreendida. A Polícia Militar informou que o criminoso tem passagens por homicídios e tráfico de drogas, com mandado de prisão em aberto e era considerado foragido do sistema prisional desde 2020.

A PM informou também que, no momento da ocorrência, o bandido estava fugindo de equipes do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), mas não explicou o contexto que levou a perseguição.

O caso mexeu com a rotina do bairro. Moradores lotaram a pequena rua São Tomás e outros acompanharam a negociação das sacadas e varandas das casas vizinhas. Os militares formaram um cordão de isolamento e fizeram a multidão recuar cerca de 50 metros enquanto negociavam a rendição do bandido. Foram mais de 7h de negociação.

Durante esse processo, novas viaturas da 23ª Companhia Independente da PM (CIPM/ Tancredo Neves) e da Rondesp Central reforçaram o policiamento, e uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) ficou posicionada na esquina. O marido de Raíssa tentou entrar no imóvel com uma mamadeira para o bebê, que ainda permanecia sobre a mira de Carrasco, sem sucesso.

Testemunhas contaram que os policiais usaram bombas de gás lacrimogêneo para afastar a população e que poucos minutos depois Raíssa foi retirada da casa baleada no lado esquerdo do rosto. Os policiais garantem que ela foi atingida pelo sequestrador, enquanto moradores culparam os militares de terem atirado. A mulher foi posta em uma viatura e socorrida para o Hospital Geral Roberto Santos, no Cabula, onde segue internada. O estado de saúde dela é considerado grave.

Desfecho

Alguns minutos depois da mulher ser socorrida, a criança foi entregue ao pai, os dois atravessaram a multidão emocionada e entraram em uma casa. Em seguida, os policiais retiraram Carrasco do imóvel, enrolado em um lençol, colocaram na parte traseira de uma viatura e seguiram para o Hospital Geral Roberto Santos.

Houve um momento de tensão na saída de Carrasco. Moradores hostilizaram a corporação e atiraram objetos contra os policiais, como cones, pedaços de madeira e garrafas pets. Uma mulher passou mal e desmaiou. Uma moradora, que pediu para não se identificada, acusou os militares de truculência.

"Eles chegam no bairro atirando, tratando todo mundo como bandido e xingando pai e mãe de família. Queremos que o ferimento de Raíssa seja investigado, queremos saber a verdade sobre como ela foi baleada, porque eles não deixaram ninguém acompanhar de perto a negociação", disse, emocionada.

Os militares entraram nas viaturas e saíram logo após o socorro a Carrasco. O comandante da 23ª CIPM, Luciano Jorge, contou que o sequestrador foi intransigente durante a negociação, que ele baleou a vítima e que foi atingido em seguida. Uma pistola e munições foram apreendidas com o bandido.

"O mais importante era liberação do refém. Nossa prioridade era o bebê de 1 ano e 3 meses. Ele foi encaminhado ao Samu para os primeiros atendimentos. Infelizmente o criminoso se mostrou insensível à negociação a ponto de fazer o disparo. A casa vai ter perícia e todo esse desfecho vai aparecer nas investigações", afirmou.

Carrasco cumpria uma pena no regime semiaberto quando foi beneficiado pela saída temporária. O motivo não foi divulgado. Segundo a Secretaria de Administração Penitenciária (Seap), ele deveria retornar ao presídio, mas não voltou. A evasão aconteceu em 17 de junho de 2020, e ele passou a ser considerado foragido.

A advogada de Carrasco, Desirée Ressutti, contou que ele foi atingido três vezes no peito e duas vezes na cabeça. A mulher disse que, durante a negociação, ela tentou fazer contato com o cliente, mas foi impedida pelos negociadores da PM. Ela denuncia que foi atingida nas pernas pelas bombas de gás lacrimogêneo.

"Quando eu cheguei, o comandante não me deixou entrar. Eu dei a volta na rua com o pessoal da comunidade para tentar ficar mais próxima da casa e foi aí que os militares jogaram bombas em cima da gente", disse.

Moradores disseram que o uso das bombas foi desnecessário. O CORREIO questionou a Polícia Militar sobre o contexto em que o equipamento foi usado, mas a corporação não se manifestou. Por conta do conflito, os ônibus pararam de circular na Engomadeira, sem previsão de retorno.