Moradores se mobilizam para desencalhar filhote de baleia em Itapuã
Bahia já registra oito encalhes este ano; sobrevivência do animal depende de reencontro com a mãe
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Raquel Brito
mrbrito@redebahia.com.br
Gritos de solidariedade, torcida e expectativa: foi assim a manhã de muitos dos que passavam pela praia de Itapuã nesta terça-feira (1º). A mobilização aconteceu devido ao encalhe de um filhote de baleia nas pedras da praia no fim da madrugada. O socorro foi iniciado pelos próprios moradores e pescadores do bairro e teve reforço da Polícia Ambiental e de institutos de proteção marinha.
Entre as tentativas de resgate, a baleia foi repetidamente libertada e trazida de volta para a parte rasa pela maré, enfraquecida pelo esforço e pelos arranhões das rochas. Este ciclo continuou até aproximadamente 12h30, quando o animal foi retirado das pedras pela última vez e seguiu sua viagem.
Cristiano Loureiro, presidente da organização Porto das Baleias, formada por moradores de Itapuã, explica que o animal foi avistado nas rochas no início da manhã, por volta das quatro horas. “O filhote veio para cá com a maré cheia e não conseguiu voltar, porque a maré secou. Com a ajuda da comunidade, ele conseguiu retornar para o mar aberto. Foram os nativos de Itapuã, que têm convivência com as baleias há anos, que fizeram a baleia voltar”, afirma.
Um dos moradores da região que ajudou no desencalhe foi Melquisedeque Teixeira. Para o personal trainer de 40 anos, esta seria apenas mais uma manhã em que ia encontrar um amigo na praia após o trabalho. Entretanto, ao ver o animal em perigo, não pensou duas vezes antes de entrar na água e integrar o grupo que tentava desencalhar a baleia.
“Quando eu cheguei, tinha bastante gente ajudando no resgate, mas é um animal grande, apesar de ser um filhote, então eu quis fazer a minha parte. Poderia ser qualquer animal ali, assim como um ser humano, e eu estaria ajudando também, porque é um ser vivo. É um sobrevivente”, afirma.
De acordo com Gustavo Rodamilans, coordenador do Projeto Baleia Jubarte e doutor em medicina veterinária, por mais que o filhote tenha seguido para o mar aberto, a sobrevivência do animal não é certa. “Ele só sobreviverá se encontrar com a mãe, pois se alimenta apenas de leite nessa fase de vida. São cerca de 200 litros de leite por dia”, diz.
Também na praia de Itapuã, um filhote de baleia foi avistado em fevereiro deste ano, época em que não é comum que os animais sejam encontrados na costa baiana, uma vez que estão fora do período de reprodução. Na ocasião, a baleia quase encalhou, mas remadores que praticavam nas proximidades acompanharam-na até que pudesse voltar ao mar aberto.
Só este ano, oito baleias já encalharam na costa baiana, sendo as duas mais recentes no primeiro dia de agosto. A informação é do Projeto Baleia Jubarte e da Rede de Encalhes e Informação de Mamíferos Aquáticos do Brasil (REMAB). Ao lado do Espírito Santo, também com oito, a Bahia lidera a lista dos estados com mais encalhes.
Os encalhes tornam-se mais frequentes entre julho e outubro, na temporada de reprodução das baleias. Durante esses meses, os animais migram para as águas quentes do litoral brasileiro para acasalar e ter seus filhotes.
Os filhotes representam metade dos encalhes que ocorrem durante a época de reprodução. O principal motivo é a dificuldade dos recém-nascidos em acompanhar a velocidade de nado da mãe e também a velocidade dos ventos, o que faz com que estejam mais suscetíveis a se perder e serem direcionados para a parte rasa.
Os encalhes são evitáveis?
Rodamilans conta que é comum que a Bahia seja o estado com mais casos, porque é a unidade com mais baleias, e que ainda é difícil falar em prevenir que os encalhes aconteçam, uma vez que cada praia tem a sua estrutura.
“Nós não devemos nos preocupar, mas sim nos preparar para atender os encalhes, tanto de animais vivos quanto dos mortos, orientando os órgãos municipais a dar a devida destinação para a carcaça”, diz.
Para William Freitas, diretor do instituto de proteção oceânica RedeMar, é necessário que haja um diálogo entre o Estado e as instituições, num trabalho integrativo de monitoramento de costas, sobretudo no período de reprodução das baleias.
“É preciso que nós comecemos a criar um consenso de coordenação e treinamento, para saber como acionar e o que fazer no encalhe, e que tenhamos um programa mais acessível de monitoramento, porque, por exemplo, sábado teve um encalhe no Conde, hoje foi em Itapuã, amanhã pode ser em outro lugar”, afirma.
Histórico
Além da ocorrência de Itapuã, o primeiro dia de agosto foi marcado por outro encalhe, este no baixo sul da Bahia, na Baía de Camamu. Neste caso, a baleia não resistiu. De acordo com o Instituto Baleia Jubarte, o animal era um adulto de cerca de 12 metros e apresentava marcas de mordida de tubarão.
No início de julho, o caso de uma baleia jubarte de 12 toneladas e aproximadamente oito metros que encalhou na praia do Caípe, em São Francisco do Conde, chamou a atenção. Isso porque, além de encalhar duas vezes, no dia 8 e no dia 9, a baleia parecia chorar em imagens divulgadas na internet.
Entretanto, o que aparentava ser o olho lacrimejando era a glândula contra ressecamento agindo. O óleo produzido busca proteger o globo ocular, especialmente com a baleia na terra, sujeita ao vento, o que resseca mais os olhos do animal. A morte da baleia foi confirmada pelo Projeto Baleia Jubarte no dia 17 do mês passado.
Um pouco mais tarde, no dia 26, mais um caso, este em Porto Seguro: um filhote de baleia jubarte, de cerca de cinco metros, encalhou na Praia dos Coqueiros, no distrito de Trancoso. De acordo com o g1, o Projeto Baleia Jubarte foi acionado, mas trabalhadores de uma barraca ajudaram no desencalhe do animal e já haviam o devolvido ao mar.
*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro