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Módulo onde ocorreu fuga em presídio é comandado pelo Bonde do Maluco; três lideranças conseguiram fugir


 

Dois dos líderes atuavam em Vila de Abrantes, no município de Camaçari

  • Wendel de Novais

Publicado em 23/10/2023 às 14:32:47
Geleia e Cabeça são líderes do BDM em Abrantes. Crédito: Reprodução

Os sete criminosos que fugiram do Complexo Penitenciário Lemos Brito (PLB), na Mata Escura no último sábado (21), fazem parte do Bonde do Maluco (BDM), facção criminosa que foi criada em 2015 no próprio Complexo Prisional da Mata Escura, que tem o PLB como uma de suas unidades. O pavilhão V, de acordo com fontes de dentro da Polícia Militar da Bahia (PM), é conhecido por ser um módulo do grupo, já que, nas unidades prisionais, os detentos de facções rivais são separados para evitar confrontos.

“Ali no módulo V só são colocados os traficantes que têm ligação com o BDM, além de outros condenados que não têm nada a ver com esses grupos. A princípio, pode parecer que facilita ações como essa fuga, mas a divisão é feita para evitar uma carnificina em confronto entre traficantes rivais. Então, todos os sete que conseguiram sair eram do BDM e, entre eles, estavam três lideranças lá de dentro do módulo”, explica uma fonte da forças de segurança, que prefere não se identificar e nem revelar seu cargo.

Procurado, o Sindicato dos Servidores Penitenciários do Estado da Bahia (Sinspeb) confirmou que o local é, historicamente, um módulo onde detentos vinculados ao BDM são colocados. Os fugitivos foram identificados como Virgínio de Alcântara Filho, Elivelton de Jesus Santos, Jeferson Silva Souza, Íkaro da Costa Santos, Jeferson Silva de Carvalho, Flávio Bastos Carneiro e Fábio Souza dos Santos. Nenhum deles foi alcançado pelas forças de segurança até o momento.

Uma das lideranças é Fábio Souza dos Santos, que é conhecido como ‘Geleia’ e comandava as ações da facção Bonde do Maluco (BDM) na localidade Vila de Abrantes, em Camaçari, Região Metropolitana de Salvador (RMS), até ser preso no Paraguai em 2018. Um dos crimes atribuídos a Geleia é o assassinato do investigador Luiz Alberto dos Santos, que trabalhava na Delegacia de Abrantes. Segundo a polícia, Geleia mandou matar o policial em 2017 por causa das ações das polícias Civil e Militar em Abrantes.

O fugitivo teria, inclusive, participado de esquema onde pagava cerca de R$ 50 mil para policiais penais e terceirizados que facilitassem a entrada de celulares no PLB. O outro líder identificado por fontes da polícia é Íkaro da Costa Santos, conhecido como ‘Cabeça’, que também atuava pelo BDM na região de Abrantes, assim como Geleia. Apesar de não haver registros de homicídios, Íkaro estava preso por tráfico de drogas e ‘condutas afins’. A terceira liderança, no entanto, não foi identificada pela fonte da polícia.

A fuga dos sete detentos aconteceu às 12h40 do sábado. No entanto, o Sinspeb afirma que o Batalhão Geral da PM sabia de uma ‘movimentação estranha’ no módulo desde às 9h30 do mesmo dia. Revion Pimentel, presidente do sindicato, afirma que o comando do batalhão tem que detalhar o que ocorreu.

"A fuga ocorreu porque a PM não fez seu papel. A vigilância perimetral é de responsabilidade da PM através do batalhão de guarda. O comandante do BG deve explicação à sociedade, ele deve explicar porque as guaritas foram abandonadas", diz, lembrando que as guaritas do batalhão estavam sem agentes no momento da fuga.

A reportagem procurou a PM, que recomendou contato com a Secretaria de Segurança Pública do Estado (SSP-BA). No entanto, até o fechamento desta matéria, não houve retorno sobre o que aconteceu dentro da prisão para que os detentos conseguissem fugir.