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Missa e procissão encerram trezena de homenagens à Santa Dulce dos Pobres


 

Os fiéis caminharam pelas ruas do Bonfim em celebração ao dia da primeira santa brasileira

  • Gilberto Barbosa

Publicado em 13/08/2024 às 22:38:53
Celebração encerrou trezena de Santa Dulce. Crédito: Paula Fróes/CORREIO

"Salve, salve Santa Dulce do amor", "Veja, veja os grandes feitos do senhor". O refrão do Hino da Beata Dulce dos Pobres embalou os fiéis que seguiram em procissão pelas ruas do bairro do Bonfim, durante o dia de Santa Dulce dos Pobres, celebrado nesta terça-feira (13).

A procissão saiu às 19h do Largo de Roma. Antes, uma missa foi realizada no local, com a presença de mais de 5 mil pessoas. A cerimônia foi comandada pelo Arcebispo de Salvador Dom Sérgio da Rocha, que esteve acompanhando de outros religiosos, como o reitor do Santuário de Santa Dulce Frei Ícaro Rocha.

A santa saiu acompanhada de Nossa Senhora da Conceição da Praia, padroeira da Bahia, sob aplausos do público que jogava flores e agradecia as bençãos dadas pelo Anjo Bom da Bahia. A representação de Santa Dulce foi colocada em um andor e os devotos acenderam velas e cantaram músicas em homenagem à santa, enquanto aguardavam para iniciar a caminhada pelas ruas.

Uma voz se destacava em meio a cantoria: a do professor e historiador Joselito Cardim, 40 anos. Natural de Valença, no extremo-sul, ele conta que teve o primeiro contato com Dulce na basílica de Nossa Senhora da Conceição da Praia, onde ela foi sepultada.

“Sempre que eu estava presente, eu orava diante de sua sepultura e pedia para que eu conseguisse ser um pedacinho da bênção que ela foi no mundo de hoje. Ela é a santa não somente dos milagres, mas do evangelho vivo. Ela não escreveu nenhuma enciclopédia, nenhuma bíblia sagrada, mas a vida dela fala da experiência feita da sua devoção”, afirmou.

Joselito conta que ouvia seus pais contando as histórias sobre a atuação da então freira em Salvador. Para ele, a figura de Santa Dulce representa um exemplo de fé, amor às pessoas e de perseverança, que se manteve firme na missão de caridade, independente das dificuldades. Ele relembra quando a santa intercedeu para a cura de sua avó, que lutava com um câncer.

“Ela tinha um tumor na garganta e foi curada graças à Santa Dulce, que intercedeu junto ao Senhor do Bonfim pela cura de minha avó, que tinha um tumor do tamanho de uma laranja na garganta. Ela tinha cerca de 75 anos na época e só veio a falecer aos 81, depois de Santa Dulce conceder o descanso eterno para ela, que estava sofrendo tanto”, finalizou.

Fiéis acompanharam cortejo de Santa Dulce dos Pobres. Crédito: Paula Fróes/CORREIO

Alguns fiéis se emocionaram durante a saída das representações das santas do largo. Entre eles, a técnica de enfermagem Solange Ramos, 70, que trabalhou nas Obras Sociais Irmã Dulce (Osid) e, atualmente, trabalha como voluntária no Centro de Acolhimento e Tratamento de Alcoolistas, voltado para a recuperação de pessoas dependentes em álcool.

“Ela era uma pessoa muito humana e próxima dos funcionários e dos pacientes. Quando saia, as pessoas aglomeravam em volta dela porque sabiam que ela fazia de tudo para ajudar o povo. Eu cultivei essa fé porque tive o privilégio de conhecer esse ser humano que cuidava dos pobres e se tornou santo”, disse.

A aposentada Vanilza Araújo foi uma das fiéis que seguiu o cortejo. Com uma vela na mão, ela conta que sua relação com Dulce começou quando o seu avô precisou ser internado no Hospital Santo Antônio para o tratamento de complicações da diabetes. Ele também viveu no Abrigo Dom Pedro II, onde ficou até falecer.

“Ela o acolheu nas suas casas e cuidou dele até a sua morte. Minha mãe era devota dela e chorava toda vez que ouvia o nome de Dulce. Esse é um ambiente de amor, louvor e adoração a Jesus e aos santos, para mim, é como estar no céu. Quando criança, eu visitava meu avô no abrigo e nunca imaginei que estaria caminhando por ela como santa. Eu estou aqui desde 8h e só saio após o último show”, declarou.

Outro presente no cortejo foi o cantor Vandal. Ele conta que passou a ser devoto de Dulce durante o leito de morte de sua avó, que esteve internada no Hospital Santo Antônio. “Eu convivi aqui, ouvi as histórias de Santa Dulce e vi o quanto a energia dela é presente. Eu fui contaminado por essa positividade e tento propagar isso dentro da música e dos meus atos. Hoje é um dia de celebração da unidade do povo, de ver as pessoas juntas com um objetivo em comum. Era isso que ela queria: a unidade e o amor entre as pessoas e que a gente se visse no outro”, disse.

O dia 13 de agosto foi escolhido pelo Vaticano após a canonização de Santa Dulce, em 2019. A data tem um significado importante na trajetória da religiosa, uma vez que marca o dia em que a religiosa fez os votos e recebeu o seu hábito na Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, em São Cristóvão, no estado de Sergipe e se tornou oficialmente freira.

“Hoje lembramos o exemplo da nossa santa que viveu entre nós fazendo o bem nas ruas da Cidade Baixa. Nós temos tantas pessoas aqui na procissão, porque com ela seguimos a Jesus. O legado de Santa Dulce segue vivo porque seguimos acolhendo os mais necessitados, os doentes e encontrando em cada irmão que bate a nossa porta o próprio Jesus como ela encontrava”, disse o frei Ícaro Rocha.

A missa e a procissão fazem parte da programação do último dia da trezena em celebração à festa da primeira santa brasileira. A Osid estima que mais de 80 mil pessoas passaram pelo Largo de Roma e pelo Santuário de Santa Dulce dos Pobres durante os treze dias do evento, iniciado em 1º de agosto.

*Com orientação da subeditora Fernanda Varela