Maternidade da Ufba já acompanhou a gravidez de oito homens trans
Maternidade Climério de Oliveira dá assistência a homens trans gestantes desde 2021
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Raquel Brito
mrbrito@redebahia.com.br
Entre 2021 e 2024, a Maternidade Climério de Oliveira (MCO), da Universidade Federal da Bahia (Ufba), acompanhou a gestação de oito homens trans, com um total de nove bebês. A assistência é feita através do programa Transgesta, idealizado pela maternidade há três anos.
Um deles foi Pietro Cauê, de 21 anos. O jovem, que é natural do interior da Chapada Diamantina e veio para Salvador aos 15 anos, tinha desde os 16 o sonho de ser pai. Há nove meses, ele deu à luz a duas meninas, e foi acompanhado pelo MCO durante toda a gravidez.
“O processo foi maravilhoso. Todo mundo me acolheu, me deu apoio, me tratou com respeito. Mais tarde, quando as meninas estiverem maiores, acho que vou tentar um menino, que é meu sonho”, conta.
E o décimo bebê está a caminho, filho de Bernardo Costa, de 24 anos. “Hoje, estamos no pré-natal com mais um paciente. É uma alegria saber que esse direito reprodutivo dessa população é garantido, que é possível de forma segura, evitando comorbidades, mortalidades e outros danos”, diz a superintendente da maternidade, Sinaide Coelho.
Para auxiliar nesse acompanhamento, foi lançada nesta quinta-feira (2), pela maternidade, vinculada à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), a primeira caderneta de acompanhamento gestacional de homens transexuais. A partir disso, serão contempladas as especificidades da gravidez de homens trans, como o modo que o uso de hormônios pode afetar a gravidez e a definição de como será a fase de aleitamento.
Como funciona o acompanhamento?
A caderneta de pré-natal para homens trans foi desenvolvida de forma multidisciplinar e com a presença desses homens, com o objetivo de levar para o papel o trabalho de assistência voltada a esse público que a maternidade já faz desde 2021 através do Programa Transgesta.
A cartilha é essencial no decorrer da gravidez. Entretanto, o padrão do SUS tem como base a gravidez de mulheres cisgênero, referindo-se à pessoa gestante no feminino e sem considerar os cuidados especiais da gravidez transmasculina. Dois dos principais exemplos dessas particularidades são como o uso de hormônios pode afetar a gravidez e como será a fase de aleitamento.
“Nós não podemos deixar de falar que existe todo um investimento hormonal, toda uma alteração que ocorre antes do gestar e que são fundamentais para o desenvolvimento de uma criança saudável e para a saúde da pessoa que gesta também. Às vezes existe todo um processo de alteração corporal que pode ocorrer durante esse processo, que não impede de gestar e parir, mas que precisam de cuidados de um olhar especializado, multidisciplinar e que dê um cuidado seguro a essa população”, explicou a superintendente da MCO, Sinaide Coelho. Segundo ela, o uso da caderneta poderá gerar também dados que contribuam para a criação de políticas públicas voltadas para as pessoas trans.
*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro