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Mais de 4 mil baianos morreram por doenças cardiovasculares no primeiro semestre


 

Pessoas acima de 60 anos representaram 3.628 registros, correspondendo a uma taxa de 88,7%

  • Vitor Rocha

Salvador
Publicado em 15/10/2024 às 07:30:00
Transplante de órgão. Crédito: Shutterstock

Ex-participante do reality show  "A Fazenda", a baiana Raquel Brito recebeu o diagnóstico de miocardite aguda na sexta-feira (11), após ser internada ao passar mal durante uma prova do reality show, no último domingo (6). Assim como a influenciadora, 46.394 baianos foram internados por doenças cardiovasculares no primeiro semestre de 2024, o que resultou em 4.090 óbitos no estado. Conforme dados do DataSus, pessoas acima de 60 anos representaram 3.628 registros, correspondendo a uma taxa de 88,7%.

De acordo com o Ministério da Saúde(MS), as doenças cardiovasculares (DCV) são a causa mais recorrente de morte no país. Entre os óbitos brasileiros por doenças crônicas não transmissíveis, as DCVs correspondem a, aproximadamente, 30% das ocorrências. O MS afirma que, além do coração, essas enfermidades também afetam os vasos sanguíneos e têm como principais fatores de risco a hipertensão arterial, diabetes, obesidade, tabagismo, inatividade física, alimentação inadequada, consumo de álcool e idade acima de 60 anos. Vale destacar que diabéticos têm de duas a quatro vezes mais chances de sofrer um infarto.

Coordenadora do serviço de cardiologia do hospital MaterDei Salvador, Marianna Andrade explica que as doenças podem acometer os vasos e o coração de forma isolada. "Existem várias formas de acometimento. Desde doenças que afetam somente o vaso, doenças que afetam o sistema elétrico, que determina o ritmo do coração, doenças que afetam o músculo do coração. Elas podem estar ligadas ou não. Então, pacientes que têm doenças nos vasos podem ter também problemas no músculo do coração e vice-versa, mas elas também podem se apresentar de maneira isolada", esclarece.

Homens e mulheres

Entre os registros do estado, 2.134 homens foram contabilizados, o que representa 52% dos casos totais na Bahia, contra 1.956 baianas. Para o médico cardiologista e professor da Universidade Federal do Sul da Bahia Eduardo Freire, o equilíbrio nos números se dá por motivos diferentes.

"As mulheres, na pós-menopausa, têm uma manifestação pior das doenças cardiovasculares em relação ao homem. Para se ter uma ideia, quando as mulheres entram na menopausa, elas aumentam, praticamente, duas vezes o risco de morte súbita de doença do coração em relação aos homens. As mulheres têm fatores hormonais. [...] O homem está mais exposto à farra, alimentação  inadequada, aquela cerveja do final de semana. O homem aumenta mais os fatores de risco externos do que as mulheres", afirma.

Apesar do maior número de casos no gênero masculino, o especialista ressalta que as mulheres são subnotificadas, uma vez que têm uma menor atenção. "O homem, quando sente qualquer coisa,  é levado imediatamente para o pronto-atendimento. Todo mundo se preocupa em cuidar de qualquer sintoma que o homem sinta. As mulheres, muitas vezes, possuem sintomas cardiovasculares e deixam passar", revela.

Dentro do recorte analisado, o mês de julho teve a maior quantidade de casos, com 668. A baixa ficou por conta do mês de fevereiro, que contabilizou somente 539 registros. Eduardo garante que a sazonalidade não influencia no aumento ou diminuição das doenças, mas fatores políticos podem alterar os dados. "Nessa época de eleição, muitos prefeitos, em várias cidades, aumentaram o número de postos e atendimentos", analisa.

O tratamento, prevenção e diagnóstico para doenças cardiovasculares podem ser realizados através do Sistema Único de Saúde gratuitamente. Nas Unidades Básicas de Saúde, são oferecidas ações para prevenir problemas cardíacos, como o monitoramento de fatores de risco, incluindo hipertensão e diabetes. Em caso de confirmação da doença, o paciente é encaminhado para atenção especializada, onde terá acompanhamento de especialistas para tratar o problema de saúde identificado.

Infarto 

No banco de dados do DataSus, que leva em conta arritmias e insuficiências cardíacas, por exemplo, o infarto agudo do miocárdio foi a morbidade cardíaca que mais levou baianos a morte: 484 ocorrências. 

Eduardo esclarece que o infarto consiste em uma obstrução nas artérias do coração, o que leva a falta de bombeamento devido do sangue em determinadas regiões. No entanto, ele esclarece que o problema de saúde é diagnosticado de forma genérica.

"Em emergências, os médicos, muitas vezes, diagnosticam como infarto sem realizar uma necropsia. O indivíduo pode ter sofrido arritmia ou miocardite e não, necessariamente, um infarto. A gente tem um problema grave no Brasil: a ausência de cardiologistas em uma emergência. Muitas vezes, o colega dando plantão é dermatologista, radiologista, clínico geral e, as vezes, se confundem com os sintomas e atestam como infarto", conta.