Assine

Mais de 285 mil baianos vivem em casa de taipa ou madeira


 

IBGE aponta que 2% da população vivem em imóveis construídos com materiais inadequados e mais risco

  • Larissa Almeida

Publicado em 13/12/2024 às 03:30:00
Casa de taipa. Crédito: Shutterstock

No Brasil colônia, a técnica de taipa de pilão era vista como novidade no ramo da construção. Com o tempo e o avanço da engenharia, o material ficou para as pessoas pobres e negras, uma vez que a taipa é vulnerável às condições climáticas e ao aparecimento de doenças. Essa foi apenas mais uma das ações silenciosas da cruel política de exclusão contra a população negra e socialmente vulnerável que, apesar de datar de pelo menos 500 anos, segue presente na atualidade. Não à toa, mais de 285 mil baianos vivem em casas de taipa ou madeira, conforme aponta o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A informação se baseia nos resultados sobre Características dos Domicílios do Questionário da Amostra do Censo Demográfico 2022. Ao total, 286.820 pessoas – 2% do total da população do estado, que é de 14,14 milhões – vivem em imóveis com paredes construídas com materiais menos adequados.

Entre eles: taipa sem revestimento (55.313 pessoas, ou 0,4% dos moradores em domicílios particulares permanentes); madeira para construção (49.042 ou 0,3%); madeira aproveitada de tapume, embalagens e andaimes (8.856 ou 0,1%), e materiais como zinco, plástico, folha ou casca de vegetais (173.609 pessoas ou 1,2% dos moradores).

Para Clímaco Dias, geógrafo e professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal da Bahia (Ufba), a habitação em locais construídos com esses tipos de materiais, sobretudo a taipa, torna a população muito mais vulnerável. “A casa de taipa é algo clássico de hospedar animais, tipo o barbeiro, que é responsável por Doença de Chagas, uma doença incurável. Então, além de outras questões de insalubridade que esse tipo de habitação provoca, é uma característica da nossa desigualdade”, afirma.

Desigualdade

O historiador Rafael Dantas conta no passado recente ainda era possível encontrar casas de taipa em zonas rurais. “Isso mostra a dificuldade de acesso a alguns materiais de construção e algumas técnicas construtivas também. [...] Hoje, ver casas assim mostram que há uma questão social tocante a essas dificuldades ainda estão presentes em algumas comunidades”, reitera.

Segundo Mariana Viveiros, supervisora de disseminação de informações do IBGE, a madeira de construção é o material considerado menos inadequado em relação aos demais. Ela lembra, inclusive, que a região Sul do Brasil tem tradição de construção de casas com esse tipo de madeira, mas na Bahia tal uso configura precariedade, já que não há tradição e método adequado para garantir segurança para os moradores.

“A madeira pode tornar o domicílio mais vulnerável a intempéries, a situações de emergência climática, além de poder configurar algum tipo de risco para as pessoas em termos de proteção quanto à possibilidade de doenças e animais que podem adentrar aquele espaço”, alerta Mariana.

O estudo ainda mostra que a maior parte dos baianos (98%) moram em domicílios particulares permanentes com paredes de alvenaria (com ou sem revestimento) ou taipa com revestimento – o que totaliza 13.817.335 habitantes. A proporção do estado é maior do que a nacional (94,6%) e a 13ª entre as 27 unidades da Federação, num ranking liderado por Rio de Janeiro (99,5%), Minas Gerais (99,4%) e Rio Grande do Norte (99,4%).

Em Salvador, 98,7% das pessoas (2.377.038) moram em domicílios com as paredes externas de alvenaria (com ou sem revestimento) ou taipa com revestimento, enquanto 1.238 (0,05%) moram em residências de madeira para construção; 1.090 (0,04%), em domicílios de taipa sem revestimento; 520 (0,02%) em domicílios de madeira aproveitada de tapume, embalagem, andaime, e 28.204 (1,2%) vivem em domicílios feitos de outros materiais.