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Mãe denuncia racismo em escola particular de Salvador: 'Nojenta e pele estragada'


 

Lorena Matos diz que diretoria não deu atenção devida para caso; vítima tem apenas 5 anos

  • Esther Morais

Publicado em 16/09/2024 às 12:58:46
Lorena diz que Sophia chegou a pedir um creme para clarear a pele. Crédito: Acervo pessoal

A mãe de uma criança de 5 anos denuncia que a filha sofreu racismo em uma escola no bairro do Imbuí, em Salvador. Segundo Lorena Matos, a menina chegou em casa, há cerca de três semanas, dizendo que uma outro colega estava a tratando mal. 

"Ela começou dizendo que uma amiga chamou ela de nojenta e que tinha a pele estragada, que começou a excluí-la das brincadeiras porque ela era preta", conta. A mãe ainda diz que foi até o colégio, conversou com a professora, mas a filha continuou ouvindo as ofensas. 

Na última sexta-feira (13), a coordenação decidiu separar as duas meninas, que estudam em turmas diferentes, mas se encontram no intervalo. Lorena ainda recebeu a orientação de contratar um psicólogo para a filha lidar com a situação. Ela, no entanto, reclama que a escola Logo Kids - especializada no ensino infantil do G1 ao G5 - não propôs uma reunião conjunta com os pais da outra criança.

"A impressão que tive é que a escola estava beneficiando um lado só e sem querer se posicionar. A escola não chamou a minha filha para conversar. Isso me feriu. As crianças são reflexo do que escutam e veem em casa. A minha surpresa é a escola não ter se posicionado, mas tratado como algo banal", afirma.

A direção da escola rebate a afirmação de que teria sido omissa. "Teve acolhimento, a coordenadora chamou as duas famílias por duas vezes", diz ele. "Temos 37 anos de educação e foi a primeira vez que aconteceu isso na escola. Temos muitos alunos autistas, alunos negros, somos diversos, nós incluímos. Escola é para educar, não para penalizar. Orientamos as crianças, os professores. Se ela pensa que vou penalizar a criança, de 4 anos, eu não vou. Acolhemos as duas", diz o diretor Aderbal Miranda.

O diretor acrescenta que as duas alunas continuam na escola e serão acompanhadas.

Lorena diz ainda que outra criança, também negra, sofreu comentários preconceituosos da mesma aluna. A informação foi confidenciada a ela por um funcionário do local e ela não sabe identificar quem é a aluna. O colégio diz não ter recebido outras denúncias.

"Não culpo a coleguinha, ela não tem noção", diz Lorena. Ela conta que a coordenação chamou a mãe da menina para conversar sobre a situação, mas elas não dialogaram juntas.

Em nota, a Logo Kids informou que a denúncia já está sendo apurada pela equipe pedagógica e diretiva e ressaltou que possui um programa de educação para a diversidade, que aborda temas como racismo, preconceito e respeito às diferenças.

"Nossos valores estão fundamentados no respeito à diversidade, na promoção da igualdade e na construção de um ambiente escolar inclusivo e acolhedor", garantiu. 

Após a publicação da matéria, a escola divulgou outra nota reafirmando que não teve comportamento omisso. Confira:

"Desde o momento em que fomos notificados sobre o ocorrido, agimos de forma rápida e responsável, adotando as seguintes medidas:

• Atendimento imediato às famílias: Entramos em contato com as famílias das alunas envolvidas, oferecendo todo o suporte necessário e ouvindo atentamente suas preocupações.

• Medidas cautelares: A fim de garantir a segurança e o bem-estar de todos os envolvidos, foram adotadas medidas cautelares, como a separação provisória das crianças em ambientes comuns, durante o período de apuração dos fatos.

• Reuniões e orientações: Realizamos reuniões individuais com cada uma das famílias, oferecendo orientações e esclarecimentos sobre o ocorrido, inclusive na última sexta-feira.

• Investigação rigorosa: Instituímos uma comissão para apurar os fatos de forma criteriosa e imparcial, ouvindo todos os envolvidos e analisando todas as evidências.

• Ações pedagógicas: Desenvolvemos atividades pedagógicas com os alunos, visando a promover a conscientização sobre a importância do respeito às diferenças e a combate ao racismo.

É importante ressaltar que, em nenhum momento, a escola favoreceu uma das partes envolvidas. Todas as medidas adotadas tiveram como objetivo garantir a segurança, o bem-estar e a educação de todos os alunos e promover um ambiente escolar mais justo e equitativo.

A acusação de omissão e parcialidade veiculada na matéria jornalística é infundada e prejudica a reputação de nossa instituição. A escola tem um histórico de ambiente escolar altamente inclusivo, com contínuas práticas educativas de valorização da identidade étnico-racial, em combate ao racismo.

Este é o primeiro ano da criança em Salvador 

A pequena Sophia, de 5 anos, nasceu na Inglaterra e se mudou junto com a família para Salvador neste ano. Lorena conta que a pequena nunca passou pela situação em outros lugares. Agora, o plano é começar o acompanhamento psicológico para a estudante, trocar de escola e fazer uma denúncia formal. 

"Depois disso, ela sempre se questiona o porquê de ser dessa cor, o porquê da amiguinha não brincar com ela. Ela fala muito sobre cor, com todo mundo, e eu vejo que está tomando proporção maior", lamenta. 

Em um vídeo publicado nas redes sociais, Lorena ensina a filha a se defender. "Se ela falar que você tem pele estragada, o que você vai dizer?", pergunta. "Que isso é racismo", responde a criança. 

A reportagem não localizou o contato da família da outra criança.