Mãe de percussionista baleado em Salvador ainda não sabe que o filho morreu
O corpo de Paulo Fernando Rego dos Santos, 52, foi enterrado nesta sexta-feira (20)
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Maysa Polcri
maysa.polcri@redebahia.com.br
A mãe do percussionista Paulo Fernando Rego dos Santos, 52 anos, que foi baleado no bairro Macaúbas, na quarta-feira (18), ainda não sabe que o filho morreu. Piquete Brasil, como era conhecido, era responsável pelos cuidados da mãe junto com dois irmãos. A idosa tem 85 anos e está acamada desde que foi atropelada, em 2016.
Segundo o irmão mais velho de Paulo Fernando, a mãe acha que o filho está viajando a trabalho. Ele era percussionista da banda Catadinho do Samba e costumava viajar para fazer shows no Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo. "Ele sempre saía às pressas para viajar. Ela está reclamando que ele não ligou para ela, mas ainda não temos como falar [sobre a morte]", contou Gener Rego, que ainda não conseguiu assimilar a morte do irmão.
O cuidado com a mãe era prioridade na vida do percussionista. Colegas contam que era comum que ele atrasasse para os ensaios da banda por conta dos cuidados com ela. "Ele era uma pessoa muito comprometida com os cuidados com a mãe. Às vezes ele chegava atrasado nos ensaios, a gente pensava em puxar a orelha dele, mas ele mandava mensagem dizendo que estava cuidando dela", falou Manoel Lázaro, vocalista da Catadinho do Samba.
O cantor, que é conhecido como Tito Sambista, estava com Paulo Fernando Rego no último domingo (15), quando a banda fez um show em um evento privado. "Fizemos uma roda de samba como sempre, com muita energia. Ele estava alegre, sem demonstrar nada de diferente. Creio que não tinha o que demonstrar porque era uma pessoa íntegra na sociedade", falou o vocalista. Tito e Piquete eram amigos desde a infância e foram unidos, na vida adulta, pelo amor ao samba. "Estou arrasado porque a ficha não cai pela forma como que foi [a morte]. Era um cara que só levava alegria e felicidade", lamentou o amigo.
O corpo de Paulo Fernando foi enterrado no início da tarde desta sexta-feira (20), no Cemitério Municipal de Brotas. O enterro estava previsto para às 11 horas, mas o corpo do percussionista só chegou ao local por volta do meio-dia. Amigos, familiares e sambistas se reuniram para prestar as últimas homenagens. A despedida foi marcada por dúvidas e indignação, afinal, ninguém sabe o que teria motivado a morte do músico.
"A gente voltava dos shows de madrugada, às vezes 1 hora ou 2 horas da manhã, e nunca teve problema. O caminho para a minha casa passa pela dele, sempre deixava ele lá", lembrou Tito Sambista. No final de semana, a banda fará show, mesmo sem clima para celebração. "Está muito difícil, essa tragédia nos abalou. Mas temos que tentar manter a serenidade para cumprir a agenda. Sei que ele vai ficar contente por ver a gente continuar", completou.
O irmão mais velho de Piquete Brasil estava no momento que ele o percussionista foi atingido por disparos de arma de fogo. Ambos fugiram, mas Piquete não conseguiu escapar. "Até agora não sabemos de nada sobre os motivos. Eu estava no momento, corri, mas ele foi atingido porque eram muitos tiros", contou abalado.
Relembre o crime
Paulo Fernando Rego dos Santos, 52 anos, foi surpreendido e executado na noite de quarta-feira (18), no bairro de Macaúbas, em Salvador. O caso foi registrado por volta das 20h, quando a vítima estava na Rua Barão de Macaúbas e virou alvo de diversos disparos, sem chance de defesa.
Procurada, a Polícia Militar da Bahia (PM-BA) informou que uma equipe do Comando de Policiamento Regional da Capital (CPRC) BTS foi acionada por conta da ocorrência. No entanto, quando os agentes chegaram ao local do crime, constataram que Paulo já estava morto.
O Departamento de Polícia Técnica (DPT) foi acionado para realizar a perícia e a remoção do corpo. A 3ª Delegacia de Homicídios (DH/BTS) vai apurar as circunstâncias, autoria e motivação do crime.