'Linha de guerra', diz moradora sobre tiroteio no Alto das Pombas
Confronto foi causado por uma invasão do CV ao local, que tem atuação do BDM
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Wendel de Novais
wendel.novais@redebahia.com.br
"Um grupo ficou no fim da rua e o outro chegou até o meio. Pareceu linha de guerra formada", conta uma moradora da Rua Teixeira Mendes, no Alto das Pombas, que prefere não dizer o nome. Por lá, um confronto entre facções no início da madrugada desta sexta-feira (30) se formou após homens do grupo criminoso Comando Vermelho (CV) invadirem o local, que tem atuação da facção Bonde do Maluco (BDM).
A troca de tiros terminou com um homem morto, que foi identificado como William de Jesus Costa pela Policia Civil (PC). Ainda de acordo com a policia, ele chegou a ser socorrido ao Hospital Geral do Estado (HGE), mas não resistiu aos ferimentos. Além da morte de William, foi registrado que outras quatro pessoas acabaram baleadas durante o tiroteio. A identidade das vítimas não foi revelada.
A moradora, porém, afirma que uma mãe e o filho acabaram baleados no confronto. "Dessa vez, eles vieram cedo e ainda tinha gente na rua quando começou. Uma mãe e uma criança foram baleadas, mas não morreram. Eles estavam andando aqui como normalmente todo mundo faz, mas estão bem e fora de perigo", relata. A informação não foi confirmada pela policia.
O confronto também deixou danos materiais no local. Pelo menos dez carros que estavam estacionados na Rua Teixeira Mendes amanheceram com perfurações causadas por bala. Segundo outra moradora, que não se identifica por medo de represálias, as marcas sugeriam que o armamento usado pelos homens era forte.
"O negócio foi tão feio que vários carros da rua ficaram furados de bala. O carro do meu marido foi atravessado dos dois lados. Ficou com uma broca tão grande que pareceu até tiro de fuzil. A mesma bala que furou o carro dele pegou também no portão da loja de gás", afirma.
Essa mesma moradora conta que chegou a sentir um mal estar enquanto ouvia os tiros sendo disparados. "Quando a gente ouviu os primeiros tiros, foi um susto. Eu corri pra debaixo da cama e me escondi. Comecei a passar mal porque tomo remédio pra dormir e a ansiedade disparou. Foi um terror mesmo, parecia que não acabava", relata.
Um outro morador que mora de frente para onde a troca de tiros acontecia conta que foi impossível dormir. "Eu estava no cômodo de frente para a rua. Essa noite não preguei o olho por conta dos tiros. Começou meia-noite e o barulho foi muito grande. Ninguém consegue dormir no medo que eu estava", conta, também sem dizer o nome.
O morador conta que os tiroteios na região são comuns, mas destaca que nunca deixam de causar temor. "A gente só não acostuma porque é impossível achar normal ter uma guerra na sua porta. Ainda mais que parece que ninguém troca tiro de pistola, é só arma pesada na mão deles", completa ele.
O Instituto Fogo Cruzado, que monitora a violência armada em Salvador e na Região Metropolitana (RMS), já registrou 779 tiroteios em 2023. Destes, 90 aconteceram em disputas, que é como o instituto nomeia os casos que envolvem grupos armados, incluindo milícias.