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Júri popular absolve policial suspeito de matar menina de 11 anos


 

Geovanna Nogueira foi morta no portão de sua casa, em 2018

  • Da Redação

Salvador
Publicado em 21/08/2023 às 18:52:01
Maria Ângela, mãe de Geovanna Nogueira. Crédito: Ana Albuquerque/CORREIO

O resultado do júri popular de Nildson Jorge Sousa França, um dos policiais envolvidos na morte de Geovanna Paixão, de 11 anos, resultou na absolvição do réu. A decisão veio devido à insuficiência de informações no laudo policial para determinar de onde partiu o disparo que matou a menina. O julgamento aconteceu no Fórum Ruy Barbosa, em Nazaré.

“Houve ali uma troca de tiros, nós temos ali vários projéteis que são de policiais, mas também são de traficantes, e é impossível determinar qual foi a arma do crime que matou a vítima. E, como não foi feita a perícia no local, como não foi feito o isolamento da área corretamente, o júri entendeu que, pela dúvida, o réu tem o direito de ser absolvido”, disse o advogado de defesa, Daniel Keller. Segundo ele, Nildson sempre acreditou na própria inocência e, por isso, já previa o resultado.

Durante todo o processo do caso, que já dura seis anos, a família questiona a versão da polícia, que informou, na época, que houve uma troca de tiros. "Eles têm mania de dizer que houve troca de tiros. Só teve três tiros e um deles pegou nela. O lugar sendo bonito ou feio, não justifica eles entrarem atirando", afirmou a mãe de Geovanna, Maria ngela de Jesus Nogueira, antes do júri.

A morte de Geovanna aconteceu no dia 24 de janeiro de 2018. A menina estava abrindo o portão de sua casa para receber o avô, quando foi alvejada com um tiro na cabeça pelos agentes da 48ª CIPM, que realizavam uma ação no bairro. A menina foi socorrida, mas não resistiu.

De acordo com o laudo pericial, no momento do crime, mesmo os policiais alegando no inquérito que houve troca de tiros, isso é negado por testemunhas, que afirmam que os tiros pegaram a vítima de surpresa, impossibilitando a defesa da criança.

Para a advogada da família, Lorena Pacheco, essas situações têm sido normalizadas perante a polícia, e o resultado é sempre a morte. “Geovana também tinha uma vida. Ela era violinista, ela era uma estudante, ela era uma menina da igreja, e ela não teve a oportunidade de ter um futuro. E, infelizmente, hoje os jurados também decidiram que não é possível determinar a autoria dessa morte”, afirma.

Sobre a possibilidade de recorrer à sentença, a advogada da família, a advogada afirmou que a chance existe quando a decisão do júri é oposta às provas presentes nos autos, o que não aconteceu hoje. “Não há uma prova inconteste, eu não acredito que haja. Eu acredito que pode haver a possibilidade [de recorrer], mas não sei se é a posição do Ministério Público, porque o resultado do júri é um resultado unânime e, para garantir a nossa democracia, é importante que a gente decida e respeite a decisão desses jurados e juradas”, diz.

O Ministério Público foi procurado para responder sobre a possibilidade de recorrer ao resultado do júri, mas não se manifestou até o fechamento da matéria.

Maria Ângela ainda lembra dos últimos momentos que teve com a filha e guarda um dos vestidos preferidos da menina como recordação. "Ela dormiu abraçada comigo a noite toda. Quando foi de manhã, aconteceu", disse.