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Irmãos idênticos vão comandar cozinha na preparação de caruru a São Cosme e Damião


 

Dupla coleciona semelhanças com os santos gêmeos, que vão desde aparência física até o desempenho da mesma profissão e fé

  • Larissa Almeida

Publicado em 27/09/2024 às 06:00:00
O caruru de São Cosme e Damião foi declarado patrimônio imaterial da Bahia pelo Conselho Estadual de Cultura (CEC). Crédito: Divulgação

Os santos gêmeos Cosme e Damião, que são tradicionalmente festejados na Bahia nos dias 26 e 27 de setembro – o primeiro dia para os católicos e o último para os adeptos às religiões de matrizes africanas – ganharam santidade, dentre outros motivos, pela caridade que dedicaram em vida aos enfermos, pondo em prática as habilidades medicinais sem pedir nada em troca. O exemplo deixado por eles, que também se tornaram populares pela associação com a infância e os erês, ganharam contornos e espaços próprios no estado. Um deles, neste ano, será a cozinha do Restaurante Chão, no bairro do Rio Vermelho, que terá pela primeira vez dois irmãos no comando do caruru em homenagem aos santos gêmeos.

Samuel e Eneas Jesus Santos, os cozinheiros irmãos escalados para essa missão têm tantas semelhanças com Cosme e Damião que quase dá para perder de vista. Além de serem frequentemente confundidos pela aparência física, ambos dividem a mesma profissão, professam a mesma fé e até têm um terceiro irmão, assim como os santos tinham Doum. “Temos Paulo, que é nosso irmão mais velho”, conta Eneas. “Nós também temos o amor pelo que fazemos, que é uma semelhança incrível por gostarmos de cozinhar”, frisa.

A iniciativa de reuni-los para fazer o caruru de São Cosme e Damião veio de Emanuele Nascimento, proprietária do restaurante. Ela conheceu Samuel em 2021, quando tinha um restaurante na Pituba. Ao se mudar e abrir o novo estabelecimento, contou com a ajuda dele para montar a nova equipe de trabalho e recebeu como indicação os serviços de Eneas.

“Samuel me disse que mandaria uma pessoa para o restaurante e disse que era o irmão dele. Só que eu achei que ele estava se referindo a um amigo, não um irmão biológico. Então, quando Eneas chegou, demorou um tempo para dar uma ajustada na minha cabeça, porque ele é a cara de Samuel. Eles são muito acostumados a serem confundidos e já viveram situações hilárias. Eu mesma já falei com um quando deveria falar com o outro, clientes brincaram com um achando que era o outro e já teve até paquera de um mexendo com o outro”, relata Emanuele, aos risos.

Diante de tanta semelhança, ela diz que teve a ideia de fazer – também pela primeira vez – um caruru de Cosme e Damião para homenageá-los. “Uma vez que os dois estão juntos aqui, eu falei que faria o caruru. Pedi para Samuel, que não fica fixo no restaurante, para não marcar nenhum compromisso. Eles fizeram uma folia com a ideia e eu quis fazer uma foto dos dois. O resultado foi ambos vestidos com as vestes que usam nos seus terreiros, que são trajes importantes para eles”, detalha.

Os mesmos trajes devem ser utilizados pelos irmãos no dia 27 de setembro, quando estarão no Restaurante Chão a partir do meio-dia. A comida baiana feita pelos dois contará com 12 itens – caruru, vatapá, arroz, uma proteína, feijão fradinho, feijão preto, pipoca, farofa, banana da terra frita, abará, acarajé e rapadura – estará disponível para os clientes por R$ 45. Na frente do restaurante, haverá um cesto de doces e uma baiana para dar banho de cheiro e de pipoca para quem quiser.

Segundo Samuel, será a oportunidade ideal para homenagear São Cosme e Damião e se divertir. “Minha relação com Cosme e Damião, assim como a de Eneas, é de longos anos, de muito amor, respeito e fé. Eles acompanham sempre os orixás por serem considerados Ibejis [orixás que representam a pureza e a alegria, encarregados da proteção dos bebês e crianças]. Vai ser muito prazeroso fazer essa homenagem aos dois do lado do meu irmão e de Manu”, diz.

Por sua vez, Eneas acredita que a ocasião será um transporte para o passado. “Na época que tinha esses carurus, era uma felicidade na casa da gente. Éramos adolescentes e crianças, comíamos a comida que as pessoas faziam nas ruas e era aquela felicidade e bagunça. Depois, veio o axé e a devoção a Cosme e Damião. É uma alegria estar nesse meio e compartilhar tudo isso com as pessoas”, finaliza.