Informalidade entre negros atinge 54,3% na Bahia, o maior patamar em 8 anos
Pesquisa Mercado de Trabalho para a População Negra na Bahia aponta para desigualdade entre os trabalhadores no estado
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Maysa Polcri
maysa.polcri@redebahia.com.br
O cotidiano de Matheus Santos de Carvalho, 22, consistia em se dividir no trabalho como auxiliar de padeiro e frequentar as aulas do ensino médio. Tudo mudou quando ele perdeu o emprego, há cerca de quatro anos, e decidiu virar entregador. Em cima de uma moto e sem carteira assinada, Matheus roda 12 horas por dia para ajudar no sustento da família. A realidade do jovem se repete para milhares de pessoas na Bahia, estado em que a informalidade entre negros atingiu o maior patamar em oito anos.
Apesar de o número de pessoas negras em cursos de ensino superior na Bahia ter aumentado 105% em dez anos, mais da metade dessa população (54,3%) trabalha sem carteira assinada no estado. A taxa de informalidade é a maior desde 2014, quando atingiu o patamar de 54%, de acordo com o estudo ‘Mercado de Trabalho para a População Negra na Bahia’, divulgado nesta sexta-feira (10).
A pesquisa aponta que em oito anos, entre 2012 e 2020, havia tendência de queda no número de trabalhadores negros informais no estado, com exceção do ano de 2018. O cenário se inverteu a partir da pandemia, quando a taxa de informalidade cresceu sete pontos percentuais em dois anos e atingiu 2,7 milhões de pessoas. Enquanto isso, a taxa de trabalhadores não negros (brancos, amarelos e indígenas) diminuiu e chegou a 48,5% no ano passado.
“Quando a pandemia chegou ao Brasil, já estávamos em um momento de estagnação econômica. A situação piorou e muitas pessoas ficaram desempregadas. Quando as pessoas puderam voltar a trabalhar depois do isolamento social, buscaram trabalho na informalidade”, explica Ana Georgina Dias, supervisora do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
O estudo foi feito pelo Departamento em parceria com as secretarias estaduais de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi) e de Emprego, Trabalho e Renda (Setre). Além de lançar luz sobre a informalidade na Bahia, a pesquisa aponta que mesmo quando os negros possuem maior escolaridade, enfrentam mais obstáculos para se inserir no mercado de trabalho com carteira assinada.
Na casa do entregador Matheus Costa, na Federação, a situação se repete entre os familiares. O pai dele é dono de um pequeno comércio no bairro e a mãe trabalha como empregada doméstica, quando as oportunidades aparecem. “Assim a gente sobrevive, um vai ajudando o outro”, afirma. Aos 22 anos, Matheus já carrega a responsabilidade de ajudar no sustento da casa.
O desejo dele é sair da informalidade mas, com apenas o ensino médio completo, é difícil encontrar oportunidades. “Falar em futuro é até um pouco constrangedor. Não tenho expectativa de viver para sempre em cima de uma moto, mas falta oportunidade”, diz.
Ângela Guimarães, titular da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial do Estado da Bahia (Sepromi), que esteve presente no evento de divulgação de pesquisa, no Pelourinho, pontuou que a informalidade entre pessoas negras é uma realidade histórica. “O racismo orienta as relações sociais e determina que, mesmo com maior escolaridade, os negros não alcancem posições de destaque”, diz.
Para ela, o cenário deve ser combatido com políticas públicas assertivas. “Fazer esse levantamento é o primeiro passo para a consolidação de ações embasadas e efetivas”, ressalta.