Ginastas do Subúrbio fazem vaquinha para competir no exterior
Jovens realizam arrecadação para arrecadar o total de R$ 40 mil, que garantirá a viagem e a estadia
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Vitor Rocha
vitor.leandro@redebahia.com.br
"Eu vou fazer de tudo para alcançar meu sonho". A determinação da ginasta Maria Clara das Neves, 13, é compartilhada com outras três atletas do Subúrbio de Salvador, que penam com falta de apoio para competições. Sem verba para despesas de viagens, hospedagens e uniformes, elas - que integram a equipe do centro de treinamento Talent, Barris - realizam vaquinhas para garantir a quantia de R$ 40 mil para participar de campeonatos internacionais.
Ao lado de Maria Clara, Kerem Santos, 11, e Ellen Vitória Correia, 18, se classificaram para o campeonato Pan-Americano de Ginástica Aeróbica, que será realizado no Panamá, entre os dias 18 e 19 de novembro próximo.
Para arcar com os custos, as atletas fizeram uma arrecadação virtual (https://bit.ly/3UnElUn) com a meta de R$ 30 mil. Criada no último sábado (19), as meninas já arrecadaram R$ 2.403. “Além da vaquinha, estamos vendendo coisas para poder conseguir dinheiro. Esperamos muito bater a meta para poder viajar. Estou muito confiante que vai dar certo. Com a ajuda de todos, nós conseguiremos tornar possível”, disse a ginasta de 13 anos.
Kerem compartilha da mesma ideia da colega e conta que está muito animada para sua segunda competição internacional. “A minha primeira foi no Peru. Para mim, foi uma grande experiência viajar para fora do Brasil pela primeira vez. Agora, na segunda vez, estou me sentindo muito honrada de ser escolhida e saber que meu esforço valeu a pena. Estou muito feliz porque eu vou representar o Brasil e a Bahia. Tenho certeza que eu vou fazer um bom resultado”, declara.
Além do trio da ginástica aeróbica, a pequena Bruna Sacramento, 9 anos, está entre as atletas selecionadas para competir no Campeonato Sul-Americano de Ginástica Rítmica, que será realizado em Aracaju, 03 a 09 de dezembro. A garota pede o auxílio de R$ 10 mil em sua vaquinha (https://bit.ly/4e1NitD) e, até o momento, conseguiu R$ 580. “Estou animada e acho que vou ganhar a competição”, afirma.
No centro de treinamento Talent, as jovens são orientadas pelo casal Eliana e Adison Mirales. A treinadora de ginástica rítmica diz que se identifica com as meninas, pois também foi uma atleta de alto rendimento, mas teve que deixar o sonho por conta de problemas financeiros. Após perder o pai aos 15 anos, a professora precisou desistir da carreira de esportista e, aos 18 anos, depois de se casar com Adison, formou o Talent.
“Essa luta que as meninas enfrentam hoje, eu já enfrentei na infância e adolescência e tive que desistir do que eu amava por não ter condições. Hoje, luto e defendo o sonho delas. Muitas vezes, as meninas chegam sem ter uma refeição dentro de casa. Nas competições, essas restrições são ainda mais delicadas. Se elas não têm alimento, como vão ter R$ 30 mil para arcar com um campeonato?”, questiona.
O projeto teve início no Subúrbio de Salvador, mas adquiriu uma segunda unidade nos Barris, dentro do colégio Assunção, que possui uma estrutura melhor. Nesta segunda unidade, no entanto, as ateltas de alto rendimento, que moram no Subúrbio Ferroviário, enfrentam o desafio do deslocamento, o que dificulta a rotina para elas e para as famílias.
Avó de Maria Clara, Ana Rita das Neves diz que a neta sai de casa, em Mirantes de Periperi, às 6h e volta apenas às 21h30. Apesar da correria, ela destaca que o tempo com a pequena vale a pena. “É um sentimento maravilhoso [ter uma atleta na família]. A família fica maravilhada e um pouco enciumada com a decisão”, brinca. Ginasta desde os quatro anos, Kerem conta que a ideia de praticar um esporte não tão popular veio da principal parceira: a mãe. “Minha mãe sempre me via fazendo um monte de maluquice dentro de casa. Ela falou que era para eu parar, para não me machucar e viu que na minha escola tinha um espaço de ginástica, então ela me colocou. Ela me ajuda em tudo”, declara.
A atleta de onze anos ainda acrescenta que a decisão de entrar para a ginástica mudou não somente sua condição física, mas sua mentalidade e maturidade. “Quando estou praticando ginástica, me sinto muito feliz e realizada com um sonho”, finaliza.
Com a orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro