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Galinheiro onde Irmã Dulce acolheu enfermos se torna marco zero do Memorial em homenagem à santa


 

Museu em homenagem ao Anjo Bom da Bahia será reaberto ao público no dia 5 de novembro

  • Larissa Almeida

Publicado em 25/10/2024 às 14:08:37
Memorial Santa Dulce dos Pobres. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

O galinheiro que abrigou os 70 enfermos acolhidos por Irmã Dulce na década de 40, ao lado do Convento Santo Antônio, em Salvador, agora é o ponto inicial do tour guiado pelo Memorial Santa Dulce dos Pobres. Após passar por uma requalificação que durou aproximadamente um ano, o espaço de memória e preservação da trajetória da santa abrirá as portas para o público, gratuitamente até o final do ano, a partir do dia 5 de novembro. Com novo nome – antes, o local se chamava Memorial Irmã Dulce –, o equipamento cultural e religioso foi completamente transformado e adaptado para receber idosos, crianças e pessoas com deficiência.

Na manhã desta sexta-feira (25), foram apresentadas as novidades do museu. Se antes quem chegava para visitar o espaço ia direto para a exposição sobre a vida de Irmã Dulce, agora é preciso ir direto para os fundos, de volta para onde tudo começou. “Era um desejo nosso ter o marco zero, porque o galinheiro é muito emblemático para as pessoas que nos visitam e, especialmente, para que os nossos profissionais nunca percam as origens. Nós começamos de um galinheiro e nos tornamos uma grande empresa com os mesmos valores de quando começamos”, afirma Maria Rita Pontes, superintendente das Obras Sociais Irmã Dulce (Osid) e sobrinha da santa.

“O galinheiro simboliza o momento em que ela [Santa Dulce] decide mudar totalmente, abraçar a vocação como religiosa, acolher os mais pobres. Ela, que era professora, sentiu o chamado de Deus para cuidar das pessoas que mais precisavam dela. Isso é o que esse Memorial mostra o tempo todo”, pontua Maria Rita.

O galinheiro foi reformado, ganhou um gradil ornamentado com desenhos de galinhas e duas fotos inéditas de Irmã Dulce cuidando dos pobres que passou por ali durante os dez anos em que o espaço funcionou como local de acolhimento. Além disso, a estrutura do museu ganhou novos recursos de acessibilidade, como rampas de acesso, elevadores, corrimões, monitores bilíngues e de Libras. O local ainda passou a ter um novo roteiro de visitação, com salas divididas por ordem cronológicas dos fatos marcantes da vida da primeira santa brasileira.

As novidades também incluem um corredor lúdico que reúne objetos que remetem à infância do Anjo Bom da Bahia: representações de mamonas – fruto que as crianças jogavam umas nas outras –, pipas, bolas de gude e a camisa do Ypiranga, o clube de futebol pelo qual ela torcia. No local, ainda há um espaço para contação de histórias sobre a trajetória dela até a santidade. Outras salas contam com telas interativas integradas a dispositivos de áudio, que narram pedaços da vida de Dulce, fotografias inéditas e um espaço para retratar a devoção dela a Santo Antônio, incluindo objetos, esculturas e relatos inusitados que testemunham essa relação.

Márcio Didier, gestor do Complexo Santuário Santa Dulce dos Pobres e um dos idealizadores da reformulação museológica do Memorial, contou que a ideia de implementar as mudanças que resultou na obra de qualificação surgiu através de uma história inusitada. Em 2014, o Memorial foi colocado na lista de 8 museus para serem visitados no mundo, em uma lista elaborada pelo TripAdvisor. A indicação foi recebida com surpresa pelo acervo limitado que existia à época, o que provocou curiosidade e desejo de expansão.

“Vimos que o que nos levou à indicação era forma e a emoção com que os monitores contavam a história dela [Santa Dulce]. Então, pensamos em um processo de qualificação em que fosse preciso que não perdêssemos isso, mas trouxéssemos tecnologia para o museu, experiências audiovisuais e um espaço infantil para formarmos os devotos de amanhã através do cartum. É um mergulho no legado e nos valores que ela deixou para nós, e que garante a continuidade dessa história”, enfatiza Márcio Didier.

Se depender da comissária de bordo Maru Marrero, a história de Santa Dulce dos Pobres vai continuar não apenas entre os brasileiros, mas também entre os europeus. Ela, que é belga e vive em La Hulpe – um município da Bélgica próximo à capital Bruxelas –, ouviu falar da santa brasileira pela primeira vez em 2021. Em 2022, durante um passeio turístico no país, Maru decidiu conhecer a fundo a história do Anjo Bom da Bahia e se encantou. 

“Eu fiz a visita ao antigo Memorial e fiquei impressionada com essa pessoa tão carismática, precursora e inspiradora de valores. Eu não acreditava que as pessoas, gerações depois, ainda faziam de tudo para ajudar a continuar as obras que ela fazia. Foi então que eu perguntei se poderia fazer voluntariado para ajudar e deu certo. Ano passado foi a primeira vez que estive aqui fazendo voluntariado e foi uma dessas coisas que mudam a vida da gente”, relata.

A mudança foi tanta que Maru retornou neste ano para repetir o período de ajuda à serviço da Osid. Ela integrou a equipe do Abraço Acolhedor, um projeto da Osid que acolhe os pacientes e acompanhantes que chegam em Salvador vindos do interior do estado ou de regiões mais distantes, auxiliou o Bazar e outras ações sociais, como a distribuição de brinquedos para crianças carentes no último Dia das Crianças e a distribuição de café para dependentes alcóolicos.

Com retorno programado para Bélgica nesta sexta-feira, Maru afirma que vai embora com a expectativa de voltar em 2025, mas até lá quer seguir os ensinamentos de Dulce. “Ela é uma inspiração para mim. É uma mulher que tinha determinação e nos mostrou que tudo é possível com amor, carinho, atenção e dedicação. Essa é a mensagem principal dela”, finaliza.