Funcionários relataram que elevador que caiu teve três problemas esse mês, diz sobrinho de vítima
"Pessoal do prédio só fez tratar a gente mal, querendo encobrir", criticou
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Millena Marques
milena.marques@redebahia.com.br
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Carol Neves
caroline.neve@redebahia.com.br
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Elaine Sanoli
elaine.oliveira@redebahia.com.br
Marlos Souza, sobrinho de Manoel Francisco da Silva, de 54 anos, um dos trabalhadores que morreu na queda de um elevador nesta quinta-feira (14), no Horto Florestal, questionou se houve negligência na manutenção do ascensor. Ele afirmou que funcionários relataram que o mesmo elevador já havia tido problema essa semana e ao longo do mês as situações chegaram a três. Marlos também reclamou da falta de apoio à família neste momento.
"O pessoal do condomínio, a empresa onde ela trabalha, ninguém deu um suporte ainda a gente, chamou para falar nada. Não estou querendo jogar a culpa em ninguém, só quero que não negligenciem nada. Se teve erro do prédio...", disse ele. "Funcionários me informaram que o prédio já teve problemas essa semana, nesse mesmo elevador. Se fosse o elevador social, onde descem os bacanas, pessoas que têm dinheiro, será que tava ok? Será que não tinha parado? Por que é o dos funcionários deixam isso acontecer?", questionou.
Ele continuou dizendo que a família quer que o caso não seja esquecido. "Se houve negligência porque era o de serviço, já tinha dado problema, e são os funcionários que usam, pode cair? Não pode, não, é um ser humano como qualquer outro. A gente quer que tenha Justiça e acompanhamento disso. Era meu tio, e não quero que isso fique impune", acrescentou.
De acordo com Marlos, essa seria a terceira vez que o elevador apresentou problema. "A primeira vez o elevador conseguir frear, segundo informações que consegui colher. Freou a primeira vez, na segunda vez conseguiram parar e mesmo assim não fizeram... Esse mês disseram que já teve três incidentes", disse. "Se teve problemas antes e ainda assim continuaram trabalhar e deixar utilizar? Essa é minha indignação e de toda família".
O sobrinho também disse que a família foi maltratada no local. "Pessoal do prédio só fez tratar a gente mal, querendo encobrir, botar a gente para fora. Não deram suporte ainda para gente", criticou.
Acidente
O elevador estava no sexto andar e despencou cerca de 25 metros, na manhã desta quinta-feira (14). Dois trabalhadores que estavam dentro dele morreram. Eles foram identificados como Manoel Francisco da Silva, de 54 anos, e Ariston de Jesus, de 61.
O prédio onde aconteceu o acidente se chama Splendor, e fica na Rua Waldemar Falcão. Os dois funcionários estavam no elevador de serviço. Eles eram contratados de uma empresa de mudança chamada Bom Preço.
Lourival Santos, funcionário de outra empresa, que estava fazendo um serviço para moradores do mesmo apartamento, disse que não notou nenhum problema no elevador, que usou para transportar gesso. "A gente também pegou elevador, acredito que foi Deus mesmo, poderia ter acontecido com a gente", afirmou. Ele disse que no momento do acidente o impacto foi grande. "Eu pensei que tivesse sido uma construção desabando, porque foi um impacto muito forte".
Os dois corpos foram recuperados pelos bombeiros e o Departamento de Polícia Técnica (DPT) chegou ao local por volta das 14h para remoção e identificação formal, além da perícia.
O Corpo de Bombeiros informou que o local era de difícil acesso. "A nossa maior dificuldade foi conseguir acessar a última vítima, pois estava no fosso do elevador e tínhamos pouquíssimo espaço pra montar um sistema pra puxar e trazer ela até nós", explicou o major André Moreira.
Responsabilidade
Funcionários da Atlas, responsável pelo elevador, foram ao local. A empresa divulgou nota lamentando as mortes. "A empresa lamenta profundamente a fatalidade ocorrida em um edifício residencial em Salvador e se solidariza com as vítimas e familiares. Informa que está cooperando com as autoridades na investigação das causas do acidente, bem como trabalhando com o condomínio e todas as outras partes envolvidas. Reitera, mais uma vez, as profundas condolências à família das vítimas", diz o texto.
A empresa empregadora dos dois funcionários se pronunciou publicamente sobre o caso. Em um vídeo, o advogado da empresa lamentou as mortes e afirmou que a responsabilidade jurídica do acidente deve recair sobre a gestão do condomínio.
No vídeo, o advogado da Bom Preço Mudanças, explica que um dos trabalhadores era funcionário da empresa e o outro atuava como freelancer e que a empresa está prestando apoio às duas famílias das vítimas. "Estamos a toda disposição dos familiares, amigos e de todos que quiserem. Nós, assim como o Seu Alberto [dono da empresa], estão abalados com essa notícia. Perder uma vida é triste, perder duas é demais. A responsabilidade é exclusiva do condomínio", disse.
"Poderia acontecer com qualquer pessoa. Infelizmente, aconteceu com esses dois pais de família, mas a Bom Preço e o Seu Alberto se colocam à disposição, inclusive para colocar os seus advogados para ajudar as famílias, porque a responsabilidade é toda e exclusiva do condomínio", afirmou o advogado.
A administradora Solução&Cia foi procurada pelo CORREIO e afirmou que é responsável apenas pela contabilidade e não possui informações sobre as questões administrativas do condomínio.