Frequentadores do Porto do Moreira lamentam a morte de Chico Moreira
Dono do estabelecimento faleceu nesta sexta-feira aos 77 anos
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Gilberto Barbosa
gilberto.neto@redebahia.com.br
A morte de Chico Moreira, dono do restaurante Porto do Moreira, aos 77 anos foi sentida pelos antigos frequentadores do estabelecimento, que fechou há cerca de um ano. O local é considerado um marco na história da boêmia baiana e foi frequentado por figuras como Jorge Amado, Caetano Veloso e Glauber Rocha.
O jornalista e presidente da Associação Baiana de Imprensa (ABI), Ernesto Marques foi pela primeira vez ao Porto do Moreira em 1988, aos 20 anos, levado por um colega de profissão e seguiu frequentando o local por mais de 30 anos. Ele participou da mobilização para impedir o fechamento do local, em dezembro de 2022.
“Chico era o último fio de esperança para quem ainda sonhava com a reabertura do Porto do Moreira. Agora só lembranças e histórias suficientes para inspirar obras documentais e ficcionais em todas as linguagens possíveis. E por mais que se faça para lembrar os irmãos, o velho, o Porto, nada será como antes. Impressiona a nossa indiferença quando a cidade tem esse tipo de perda, quando a alma da Cidade da Bahia morre mais um pouquinho”, disse.
Para o jornalista Nestor Mendes Júnior, o falecimento de Chico representa a perda da memória de uma época pujante do centro da cidade, entre os anos 50 e 80, onde o Porto do Moreira era um lugar de reencontros e um ponto de referência para as novas gerações aprenderem com as figuras históricas que passavam pelo restaurante. Ele conta que Antônio e Chico se completavam na administração do estabelecimento.
“Chico era o cara da retaguarda, cuidando do balcão e fazendo a ponte com a cozinha. Já Antônio fazia a parte de relações públicas, atendendo a clientela e atraindo o público com o jeitão dele. Com o passamento de Chico, nós ficamos com a sensação de que perdemos uma parte do coração de Salvador e da memória das épocas em que o centro era o coração da cidade”, contou.
O advogado e conselheiro federal da OAB, Luiz Coutinho frequentou o Porto do Moreira por mais de 20 anos. Para ele, o falecimento de Chico representa uma perda histórica para Salvador e o fechamento de um período histórico na Bahia.
“A Bahia fica em luto pela perda do último remanescente do restaurante, que além de um amigo, era uma pessoa querida e apreciada por todos. Tive momentos muito felizes no Moreira e sentirei falta das tardes de sexta-feira, onde podíamos nos reunir na mesa, ouvir boas histórias e cultuar a memória da Bahia”, afirmou.
Outro frequentador do Porto do Moreira foi o diretor teatral e presidente da Fundação Gregório de Mattos (FGM), Fernando Guerreiro que exalta a importância do restaurante na memória da cidade.
“Eu adorava a moqueca de ovo e o pão que era feito na boca do fogão. Uma parte da memória gastronômica e cultural da cidade está se perdendo. Além da gastronomia o restaurante era um ponto de encontro de artistas e intelectuais, além de figuras emblemáticas da cidade”, relatou.
*Com orientação da subeditora Monique Lôbo