Final de semana de tiros: IAPI viveu dias de confrontos com novo ataque do CV
Grupo criminoso mira a localidade de Nova Divinéia, que tema atuação do BDM
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Wendel de Novais
wendel.novais@redebahia.com.br
A morte de um suspeito na madrugada desta segunda-feira (29) foi mais um marco da violência armada que tomou conta do bairro do IAPI ao longo do final de semana. Por lá, de acordo com moradores, a Rua Conde de Porto Alegre, via principal do bairro, virou palco de tiroteios mais de uma vez. Nos confrontos, integrantes das facções do Comando Vermelho (CV) e Bonde do Maluco (BDM), que são rivais, trocaram tiros em uma disputa territorial em que o primeiro grupo tenta invadir uma área cobiçada.
Uma fonte policial, que terá nome e cargo preservados, diz que a Nova Divinéia, localidade do IAPI e onde o BDM tem atuação no tráfico, é uma área visada pelos chamados bondes, que são grupos de homens armados, do CV. “Há anos, vemos uma disputa naquele ponto específico de entrada da Nova Divinéia. Tiroteios e assassinatos são registrados ali, porque é a porta de entrada que o CV quer acessar, mas o BDM resiste”, explica.
No local indicado pelo policial, que é o encontro entre a Rua Conde de Porto Alegre e as ruas Cosme e Damião e José Olímpio da Silva – ambas da Nova Divinéia -, a reportagem ouviu moradores. Nos relatos, houve a confirmação da disputa protagonizada no final de semana. “Tem tiroteio deles direto e, nesse final de semana, houve mais uma vez. É toda hora que eles sobem, cada um do seu lado, e se encontram aqui. Essa marca de tiro aqui é de sábado”, conta um vendedor que trabalha na região.
O comerciante não se identifica, assim como outro morador ouvido pela reportagem, que tem medo da violência dos grupos armados o faça de vítima também. “A gente fica acuado porque eles não têm medo de nada. Trocam tiro aqui na principal qualquer hora, durante o dia ou no início da noite. Sábado, aqui, na Conde de Porto Alegre, estava todo mundo na rua e eles fazendo isso. A guerra continuou o final de semana todo e, quando foi hoje de madrugada, a PM matou um”, conta o morador.
A morte lembrada por ele é de um suspeito atingido em confronto com agentes da 37ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM/Liberdade) nas primeiras horas do dia desta segunda-feira. O caso foi registrado no Largo do Tamarineiro, após policiais serem acionados por uma denúncia da presença de homens armados na área. De acordo com a Polícia Militar, houve confronto após a chegada dos agentes no local.
Após a troca de tiros, um suspeito foi encontrado ferido e foi socorrido para o Hospital Ernesto Simões Filho, onde não resistiu e morreu. Com ele, foram apreendidos um revólver calibre 38 e munições, 50 pedras de crack, 64 porções de cocaína, 16 porções de maconha, uma balança, um rádio, 19 munições de fuzil calibre 7.62, três aparelhos celulares, dois câmbios automáticos de veículos e uma calça camuflada.
Entre a Nova Divinéia e o Largo do Tamarineiro, há 1km de distância. No entanto, não está descartada a ligação da presença dos homens armados no segundo local, com a tentativa do CV de invadir o primeiro. Isso porque, o suspeito morto, com quem foi encontrado material que ‘homens de confiança’ das facções podem carregar, seria identificado pelo vulgo de ‘Gustavinho’, um dos líderes do CV no bairro do IAPI.
A área de atuação de Gustavinho, segundo a fonte policial ouvida pela reportagem, é a localidade do Bem Amado que, junto com o Brongo e o Milho, completa uma zona tida como complexo do CV na região. O traficante seria um dos responsáveis por diversos ataques feitos pela facção na Nova Divinéia e, por isso, tem um histórico de confronto contra equipes policiais que, assim como nesta segunda, se colocavam dentro dos tiroteios para dar fim a disputa e estabelecer a tranquilidade no bairro.
Essa participação ativa de Gustavinho o coloca como mais um dos suspeitos de ter matado o policial militar Guilherme Alves Pinheiro, que foi atingido por disparos em uma ação no Bem Amado no dia 2 de janeiro. No dia seguinte, um primeiro suspeito foi preso. Segundo a polícia, ele confessou ser um dos autores dos disparos que atingiram a viatura onde estava o policial.
No dia 5 de janeiro, em Vila de Abrantes, no município de Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador (RMS), um segundo suspeito foi morto. Gustavinho seria o terceiro envolvido no confronto que vitimou o policial Alves.
Segundo levantamento do Instituto Fogo Cruzado, o bairro do IAPI soma, do primeiro dia do ano até o dia 28 deste mês, 18 tiroteios, sendo seis deles fruto de ações policiais. Ao todo, foram 13 mortos, cinco em operações da polícia, e 8 feridos, sendo 3 fruto dessas ações.
Na última semana, ainda segundo o instituto, o bairro teve dois tiroteios, com um ferido.