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Fiéis da irmandade do Bonfim fazem manifestação em apoio ao padre Edson


 

O protesto repudia os conflitos envolvendo o antigo juiz da congregação, Jorge Nunes Contreiras, e o reitor da Basílica

  • Priscila Natividade

Publicado em 08/10/2023 às 10:31:19
Manifestação foi em apoio ao Padre Edson, reitor da Basílica do Bonfim. Crédito: Priscila Natividade/CORREIO

Vestidos com camisas estampadas com a mensagem "A Irmandade do Bonfim Somos Nós”, devotos da Irmandade da Basílica do Senhor do Bonfim realizaram durante a missa no início da manhã deste domingo (08), um ato em apoio ao padre Edson Menezes, reitor do templo. O protesto repudia os conflitos envolvendo o antigo juiz da congregação, Jorge Nunes Contreiras e o religioso.

"Nós somos a maioria da devoção. Uma minoria de 14 pessoas criou esse movimento contra o padre. Nós estamos aqui em defesa do padre Edson que está sendo injustiçado", afirmou Levi Charles, membro da Irmandade há 20 anos.

A missa das 7h30 estava com igreja lotada, inclusive, com cadeiras na área do gradio e nos corredores da sacristia e da sala de milagres. No final da celebração, os manifestantes subiram no altar e puxaram o coro 'Padre Edson será abençoado'. O religioso foi aplaudido.

Por orientação jurídica, o padre disse a reportagem que não poderia se manifestar naquele momento. Nas costas da camisa dos apoiadores do movimento, a hashtag '#todosporpadreedson'. "Faremos todos os movimentos possíveis. O pensamento de todos nós é manter padre Edson à nossa frente", disse a médica e integrante da irmandade, Rosenildes Mendes.

Fiéis protestam durante a missa de domingo e movimento deve ganhar outras ações. Crédito: Priscila Natividade/CORREIO

Para o também membro Domingos Renato Falcão, o ato é uma atitude a favor da paz e da justiça dentro da organização. "Um grupo só quer destruir a irmandade, ao criar essa celeuma toda. Padre Edson é nosso líder espiritual. Sem a Devoção, a igreja perece. A Devoção foi criada para servir a igreja. Precisamos trazer essa paz de volta para a irmandade".

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Domingos Renato Falcão

"Sem a Devoção, a igreja perece. A Devoção foi criada para servir a igreja. Precisamos trazer essa paz de volta para a irmandade"

Entenda o caso

A Irmandade da Basílica do Senhor do Bonfim foi criada há mais de dois séculos e meio pelo capitão Theódozio Rodrigues de Faria, com a missão de evangelizar. A Devoção é formada por fiéis que ingressam na Irmandade por meio de uma proposta avaliada por uma comissão. As eleições acontecem trienalmente.

Os conflitos entre o padre Edson e a Irmandade, envolvendo umas das igrejas mais simbólicas da Bahia, começaram no início do ano, quando o antigo juiz Jorge Nunes Contreiras além de ter tentado interferir na programação da Festa do Bonfim, exigiu que o padre Edson Menezes fosse registrado como empregado da Irmandade e que tivesse a carteira de trabalho assinada pela função que ocupava na organização com remuneração de quatro salários mínimos.

As desavenças não pararam por aí. Contreiras defendeu a proibição do acesso aos valores das coletas feitas pela igreja durante as missas das sextas-feiras e cofres laterais. O pároco também estava impedido de promover o comércio de água benta e outros itens no interior basílica. O recolhimento das taxas de serviços como casamentos e batizados era outro recurso financeiro que ficaria sob responsabilidade da irmandade. Outra medida era o fechamento da loja do Projeto Bom Samaritano - iniciativa social criada pelo padre que atende a famílias carentes.

Padre Edson não concordou com as determinações e aí começou toda a polêmica. Ainda que a Arquidiocese de Salvador tentasse uma conciliação entre os envolvidos, no início de agosto, o pároco foi afastado da capelania da Devoção, que cuidava de projetos sociais na gestão da Irmandade. O cardeal Dom Sergio da Rocha determinou ainda o afastamento do juiz da Irmandade Jorge Nunes Contreiras, nomeando José Abel Carvalho Pinheiro como interventor na Devoção.

Mesmo com a intervenção na Devoção, o padre Edson continuou como reitor da Basílica, onde segue como reitor da Basílica e pode celebrar missas. Para o membro da irmandade há 20 anos, Arthur Napoleão, o padre está sendo caluniado e difamado. "Isso é um absurdo. Padre Edson é um marco na história da colina sagrada. Existe um antes e um depois. Graças a ele, a Basílica do Senhor do Bonfim é o que é hoje".

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Arthur Napoleão

"Padre Edson é um marco na história da colina sagrada. Existe um antes e um depois. Graças a ele, a Basílica do Senhor do Bonfim é o que é hoje"

Também membro da irmandade, Jorge Teixeira, concorda: "Nossa irmandade é formada por quase 200 irmãos. Em voto, são 100. São 14 pessoas desse grupo todo que estão difamando o padre Edson. Dos 7 membros da gestão, apenas 2, estão contra ele. O projeto Bom Samaritano ajuda 300 famílias e o padre presta conta disso à Igreja Católica. A figura do Padre Edson está umbilicalmente ligada à igreja do Bonfim. O que acontece é que o padre sempre foi muito acolhedor de todas as religiões, principalmente, das de matriz africana. Então, ele também está sendo criticado por isso".

Na última semana, o manifesto assinado por cinco dos sete membros da Diretoria da Irmandade convocou a manifestação em defesa do padre. No documento, os diretores afirmam que 14 representantes da Mesa Diretora da Irmandade, que elege os ocupantes dos mais altos cargos da congregação, caluniaram o religioso “de forma injusta e infundada”. O manifesto ocorre após 14 membros da Devoção entrarem com uma ação judicial contra a Arquidiocese de São Salvador alegando suposto acobertamento de irregularidades. O processo corre em segredo de justiça.

CONFIRA OS DESDOBRAMENTOS NA LINHA DO TEMPO

. Janeiro de 2023 – No mesmo período em que o antigo juiz da Irmandade do Senhor do Bonfim Jorge Nunes Contreiras toma posse, começam também as primeiras desavenças entre a diretoria da irmandade e o padre Edson Menezes, com interferências na programação da festa do Bonfim, evento organizado pelo pároco há 16 anos.

. Maio de 2023 - Jorge Nunes Contreiras convoca uma reunião extraordinária para o dia 1 de junho com objetivo de alterar aspectos do funcionamento da igreja e dos poderes instituídos ao padre Edson.

. Junho de 2023 - A reunião extraordinária é suspensa após a repercussão polêmica que o caso ganhou. O então juiz, na época, justificou que o encontro foi suspenso considerando que a "Arquidiocese pretende manter um canal aberto para novos diálogos, no sentido de sanar os pontos conflituosos que originaram a necessidade da convocação da reunião".

. Agosto de 2023 - O cardeal Dom Sergio da Rocha decretou uma intervenção na Irmandade Devoção do Senhor do Bonfim, culminando no afastamento imediato de Jorge Nunes Contreiras. O padre Edson Menezes foi afastado da capelania da Devoção, porém, permaneceu como reitor da Basílica do Bonfim. Na Irmandade, padre Abel Pinheiro assumiu a função de interventor.

. Outubro de 2023 – Depois que 14 membros da Devoção entrarem com uma ação judicial contra a Arquidiocese de São Salvador, cinco dos sete membros da Diretoria da Irmandade assinaram um manifesto em apoio ao padre Edson e convocaram um ato em defesa do pároco para a manhã desse domingo (08). O movimento recebeu o nome de “A Irmandade do Bonfim Somos Nós”.