Familiares e amigos pedem por justiça em sepultamento de mulher morta no Bonfim
Segundo a família, o policial militar João Paulo Freire, casado com a vítima há cinco dias, teria matado a companheira a tiros
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Vitor Rocha
vitor.leandro@redebahia.com.br
Familiares e amigos se reuniram no Cemitério 1ª Ordem de São Francisco, em Cidade Nova, para se despedir de Gleice da Silva Bonfim. A cerimônia, realizada na tarde desta segunda-feira (16), foi marcada por indignação e gritos por justiça pela jovem de 26 anos. Segundo a família, o policial militar João Paulo Freire, casado com a vítima há cinco dias, teria matado a companheira a tiros. As Polícias Militar e Civil não confirmaram o agente como suspeito do crime de feminicídio, mas não descartaram a possibilidade.
Na sala 1 da instituição, uma multidão se juntou em torno do caixão da caçula, que estava coberto por um véu branco. Os presentes, em maioria vestidos de preto, coloriram o funeral com flores azuis, amarelas e brancas. Com a voz embargada, Kelly Bonfim, uma das seis irmãs de Gleice, descreveu a vítima como uma pessoa alegre e amorosa. Ela também descartou a possibilidade de suicídio, uma das hipóteses cogitadas pela investigação policial. “Ela era uma pessoa amorosa, jamais teria feito isso [tirado a própria vida]. A gente quer Justiça porque ele [João Paulo] está solto. Queremos uma resposta”, declarou.
Muitos não conseguiram conter as emoções durante a cerimônia e precisaram ser amparados por outras pessoas. Assim, familiares e amigos acompanharam o caixão de Gleice até a carneira onde a vítima foi sepultada. No momento do adeus, Eduardo Dias, cunhado da jovem, encerrou a cerimônia com um alerta para as outras mulheres. “Mais um caso de feminicídio. Mulheres que passam por violência dentro de casa, saiam destes elementos. Mais uma vítima de uma pessoa que era para proteger a sociedade e tirou a vida de uma inocente. A verdade vai vir à tona”, disse.
Atendente no restaurante da mãe, Gleice havia casado na última terça-feira (10). Ela deixa uma filha de sete anos. Segundo familiares, o relacionamento entre ela e João Paulo sempre foi muito tranquilo, mas havia problemas com o cunhado e a sogra. Para Maria de Fátima Leite, amiga da família, a jovem era uma pessoa doce e estava em êxtase com o casamento. “A gente não consegue entender o motivo, porque a pessoa estava bem, os dois se amavam. Também tem aquela questão de que ele é policial, então podem estar protegendo ele. Se fosse ao contrário, a pessoa já estaria presa ou morta”, afirmou.
Relembre o caso
Gleice foi encontrada morta com um tiro no abdômen e outro na cabeça dentro de sua própria residência no bairro do Bonfim. De acordo com informações de vizinhos, João Paulo afirmou que iria para um hospital buscar atendimento. No entanto, segundo a família, retornou para pegar alguns pertences e sumiu logo depois. O policial está lotado na 16ª Companhia Independente (CIPM/Comércio).
Ainda muito abalados, os familiares conversaram com a reportagem e confirmaram que ele voltou na casa para pegar a arma, as munições e o celular de Gleice. A Polícia Militar, porém, informou ter recolhido duas armas do PM - uma pistola de uso particular e outra pertencente à corporação -, mas não disse quantas o homem tinha. “Pegou a arma, botou no baú da moto e levou a mãe e o irmão. Além disso, levou o aparelho celular dela. Se não matou, por que ia fazer isso? Desde então, ninguém sabe dele”, falou um familiar, sem se identificar, afirmando que existe um vídeo que comprova isso.
Conforme divulgado pelo CORREIO, o sargento da 16ª Companhia da Polícia Militar pediu “Alfa 11”, um código de alerta geral, comumente usado por militares em situação de risco. Quando usado, viaturas que estão no entorno são deslocadas para o local.
Em um áudio, o PM diz: “Alfa 11, pelo amor de Deus aqui na minha casa, quem pode me dar esse apoio aqui, Alfa 11, Alfa 11, pelo amor de Deus”. No áudio, o militar aparenta desespero. Logo depois, ele é visto entrando no Hospital Agenor Paiva, acompanhado da mãe e do irmão. Fontes disseram que o militar e o irmão foram levar a mãe, que passava mal por conta do que ocorreu com Gleice.
Pelas redes sociais, Kelly Bonfim, irmã de Gleice, afirmou que os familiares estão com medo. ”Está sendo muito difícil para a família. Ele [o PM] não foi preso ainda. A família está com medo, não consegue mais raciocinar nada. Não deixe essa notícia cair. Queremos justiça pela vida da minha irmã”, disse ela em um vídeo publicado na manhã desta segunda-feira (16).
A reportagem teve acesso a um vídeo de como estava o apartamento de Gleice após ela ser encontrada morta. Nas imagens, é possível ver a casa revirada, com itens espalhados pelo chão e marcas do que pode ter sido uma briga.
Em nota, a Polícia Militar lamentou o ocorrido e se comprometeu a ajudar nas investigações: "A Polícia Militar da Bahia lamenta profundamente a morte registrada e presta solidariedade aos familiares e amigos da vítima neste momento de dor", declarou a corporação, em nota.
*Com orientação da subeditora Carol Neves