Familiares de mortos em queda de elevador vão processar condomínio e empresas
Manoel Francisco da Silva, 54, e Ariston de Jesus, 61, trabalhavam como carregadores quando elevador despencou em prédio de luxo
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Maysa Polcri
maysa.polcri@redebahia.com.br
As famílias de Manoel Francisco da Silva, 54, e Ariston de Jesus, 61, mortos em queda de elevador, na quinta-feira (14), em Salvador, vão processar o condomínio e as empresas envolvidas no incidente. A informação foi confirmada por Gustavo Neiva, advogado dos familiares, nesta segunda-feira (18). Segundo a defesa, relatos de moradores demonstram que houve negligência, já que o elevador que despencou teria apresentado falhas dias antes.
"Entendemos que as provas reunidas até agora são suficientes para que ingressemos com o processo. Recebemos ligações de pessoas que se prontificaram em ser testemunhas. Elas trabalham no condomínio e vivenciaram, durante muito tempo, as falhas que ocorriam no elevador. Não foi algo isolado", analisa Gustavo Neiva.
O processo deverá ser aberto no âmbito trabalhista nesta semana. Também serão feitos pedidos de indenização por danos morais e materiais.
Na última quinta-feira (14), as vítimas utilizavam o elevador de serviço do edifício Splendor Reserva do Horto para transportar mudanças de uma apartamento no 6º andar. A cabine ficou completamente destruída, e Corpo de Bombeiros, que foi acionado às 10h21, só terminou o resgate duas horas depois. As causas do incidente estão sendo investigadas pela 6ª Delegacia de Polícia/Brotas.
O que dizem os envolvidos
A administração do condomínio do edifício afirmou que a manutenção estava em dia e a última avaliação do equipamento havia sido feita no dia 9 de novembro, quando um técnico validou a segurança. Segundo o Splendor, o condomínio tem contrato para manutenção dos elevadores com a Atlas, que é fabricante dos equipamentos, desde fevereiro de 2021.
A manutenção acontecia mensalmente nos dois elevadores sociais e nos dois de serviço, diz o texto, "e, segundo a empresa, estavam em perfeitas condições de operação no momento do ocorrido". Manoel Francisco da Silva, 54, e Ariston de Jesus, 61, prestavam serviço para Bom Preço Mudanças. A empresa defende que a responsabilidade jurídica do acidente deve recair sobre a gestão do condomínio.
"Poderia acontecer com qualquer pessoa. Infelizmente, aconteceu com esses dois pais de família, mas a Bom Preço e o Seu Alberto [dono da empresa] se colocam à disposição, inclusive para colocar os seus advogados para ajudar as famílias, porque a responsabilidade é toda e exclusiva do condomínio", afirmou o advogado da Bom Preço Mudanças.
A Atlas, fabricante do elevador e responsável pela manutenção, lamentou a morte dos trabalhadores e afirmou que está cooperando com as autoridades na investigação. Para Gustavo Neiva, advogado dos parentes das vítimas, as partes envolvidas não querem assumir a responsabilidade.
"Nem o condomínio, nem a empregadora, nem a empresa de elevadores entraram em contato para absolutamente nada. Está um jogo de empurra, em que cada um diz que a responsabilidade é do outro. Na nossa parte, estamos trabalhando para ajuizar a ação junto à Justiça do Trabalho", analisa Gustavo Neiva.
As vítimas
Além de funcionários da mesma empresa de mudança, as duas vítimas que morreram na queda do elevador no bairro do Horto Florestal, em Salvador, eram vizinhas e amigas há anos. Ariston de Jesus e Manoel Francisco da Silva moravam no bairro de Paripe, no subúrbio ferroviário da capital baiana, e eram conhecidas como pessoas alegres e trabalhadoras.
A despedida das vítimas ocorreu no Cemitério Parque Bosque da Paz, em Nova Brasília, na sexta-feira (15). Em meio a uma multidão vestida de preto, carregando flores, o clima era de comoção e indignação. O enterro estava planejado para acontecer às 14h30, mas houve atraso na chegada dos corpos para a cerimônia.
Os presentes, que estavam atordoados com a perda, caíram em lágrimas quando os caixões entraram nas salas 4 e 5 do cemitério. Uma coroa de flores prestava uma última homenagem às vítimas: “Com todo amor e carinho de sua família”.
Familiares denunciaram que os corpos de Ariston e Manoel foram trocados no Instituto Médico Legal (IML) Nina Rodrigues, o que é negado pelo Departamento de Polícia Técnica (DPT).