Família denuncia execução de estudante por PMs em Narandiba
Familiares estão inconformados com acusações dos policiais, de que menino estaria armado
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Bruno Wendel
bruno.cardoso@redebahia.com.br
Embora o estudante Kauan Santiago dos Santos, de 16 anos, tenha suplicado pela presença da mãe, acreditando que o colo pudesse mais uma vez sará-lo, desta vez, nada ela poderia fazer. "A médica me contou que ele chegou na emergência chorando: 'Chama a minha mãe, chama a minha mãe'. Mas estava muito pálido, perdeu muito sangue", lamentou a mãe do adolescente, na manhã deste domingo (16), enquanto subia a rampa do Instituto Médico Legal (IML) Nina Rodrigues. Ela foi ao local para liberar o corpo do filho, morto numa ação da Polícia Militar, na noite deste sábado (15), no bairro de Narandiba. Segundo ela, que preferiu ter seu nome preservado por questão de segurança, Kauan estava na porta da casa do pai, quando PMs chegaram atirando.
"Ele foi levado para a sala de cirurgia. A médica disse que fez de tudo, mas os tiros perfuram os rins, pulmão, baço e outros órgãos vitais. Meu filho estava todo coberto de bala", contou a mãe de Kauan. O adolescente conversava com amigos, na comunidade de Ubatã, localiza em frente à 23ª Companhia Independente da PM, quando, por volta das 19h, a localidade foi tomada por policiais.
"Alguns estavam encapuzados. Eles chegaram atirando. Os bandidos que estavam armados correram na direção de Kauan e pularam numa vala, escaparam da polícia. Mas meu filho, que estava lá, que não era envolvido com nada, não correu. Aí eles mataram", contou a mãe.
Kauan foi levado por uma viatura ao Hospital Geral Roberto Santos, no Cabula. "Na ocorrência, eles disseram que foi resistência, mas Kauan era um menino bobão, uma pessoa muito dada. Nunca se meteu com coisa errada, não usava drogas. O pessoal aqui do DPT (Departamento de Polícia Técnica) disse que, como houve resistência, será feito exame nas mãos dele para ver se há realmente vestígios de pólvora", disse um tio do adolescente.
Segundo a família, Kauan era aluno do Colégio Estadual Heitor Villa Lobos. "Assim como foi ele, outros também já morreram por causa de uma polícia despreparada. A gente sabe que os policiais têm que trabalhar, mas não desta forma, atirando para todos os lados, matando inocentes", desabafou uma parente do adolescente. O pai do rapaz também estava no IML, mas preferiu não dar detalhes. "Não vai trazer meu menino de volta", encerrou ele, revoltado. Kauan era filho único.
O CORREIO solicitou um posicionamento sobre o resultado da operação às polícias Civil e Militar. Em nota, a PM disse que na noite de sábado (15), "policiais militares da 23ª CIPM realizavam o policiamento preventivo quando visualizaram vários homens armados na Travessa Ubatã, no bairro de Narandiba que ao perceberem a aproximação dos pms, dispararam contra os militares, sendo necessário o revide".
Acrescentou que "após os tiros, um homem foi encontrado ferido, sendo socorridos de imediato para o Hospital Geral Roberto Santos, onde não resistiram aos ferimentos. Com ele foi encontrado um revólver calibre 32 e uma porção de maconha. Todos os materiais apreendidos foram apresentados sede do DHPP, onde a ocorrência foi registrada".
Já a Polícia Civil informou que a morte de Kauan, "por intervenção de um agente de segurança pública", foi registrada no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), no sábado (15). "De acordo com os policiais militares, a guarnição, que fazia patrulhamento na região, visualizou cinco homens que dispararam contra a viatura. Houve confronto e um dos suspeitos foi atingido e encaminhado para o Hospital Roberto Santos, mas não resistiu. Guias periciais e de remoção foram expedidas. Os militares apresentaram um revólver cal 32 com seis munições, dois smartphones, uma tesoura e um isqueiro", diz a nota.