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Execuções brutais: conflito entre BDM e CV espalha sangue na Federação


 

Homem foi morto com 49 tiros no bairro, na madrugada dessa terça-feira (3)

  • Wendel de Novais

Publicado em 04/09/2024 às 05:00:00
49 cápsulas foram encontradas no local do crime, no Alto da Bola. Crédito: Ana Albuquerque/ CORREIO

Em 14 dias, a Federação registrou dois crimes brutais. Os casos aconteceram durante a madrugada e assustaram pela violência, com rajadas de tiros acordando moradores nas ruas do bairro. O primeiro ocorreu na Rua Onze de Agosto, quando um casal, que dormia em um carro abandonado, foi surpreendido e alvejado por homens armados. O segundo aconteceu no Largo do Ferreira Santos, na localidade do Alto do Bola, quando um homem foi arrancado da própria casa e executado em via pública com ao menos 49 tiros.

Para um policial, que conversou com a reportagem sem se identificar, os casos deixam em evidência a insegurança provocada pela presença simultânea de duas facções criminosas disputando território no bairro: o Comando Vermelho (CV) e o Bonde do Maluco (BDM). “Essa área tem atuação antiga do BDM e uma chegada recente e agressiva de traficantes do CV. Assim como em outros pontos, essa chegada é acompanhada de assassinatos brutais que, além de eliminar inimigos, querem passar uma mensagem clara de que a facção está disposta a tudo pelo controle”, diz a fonte.

A situação é ainda mais delicada quando se considera a proximidade geográfica entre os dois grupos criminosos dentro do bairro. Entre o Alto do Bola, que tem atuação do CV, e a Rua Onze de Agosto, onde o BDM permanece, são cerca de 500 metros. Por estarem próximos, os criminosos acabam se encontrando de forma recorrente nas ruas e entrando em confronto armado. Mesmo quem tenta fugir dessa disputa acaba sendo alcançado de maneira rápida dentro da Federação.

Foi o caso de ‘Mirato’, como era conhecido o homem morto com a companheira dentro do veículo na Rua Onze de Agosto. Na ocasião, um PM chegou a contar que ele tinha escapado de um ataque um dia antes. "Tentaram matar ele antes no Alto da Bola, mas ele conseguiu fugir e escapar para cá [Rua Onze de Agosto]. Tanto lá como aqui é BDM e ele tentou se proteger, se esconder. Só que há uma tentativa de invasão do CV nessa região já avançada e eles conseguiram encontrá-lo", relata.

No caso de Cícero Andrade dos Santos, de 44 anos, a vítima dessa terça-feira (3), a ação começou dentro da casa dele. Uma fonte policial chegou a contar à reportagem que Cícero tinha ‘vinculação’ com o BDM e, por isso, virou alvo do CV. Não há, no entanto, histórico de processos criminais contra ele no Tribunal de Justiça da Bahia (TJ). Para a fonte ouvida pela reportagem, os assassinatos só confirmam uma sensação vivida pelos moradores.

Polícia isolou local onde Cícero foi morto. Crédito: Ana Lucia Albuquerque/CORREIO

“Quem mora naquele local, cresceu ali e, mesmo não sendo traficante, tem uma proximidade com integrantes de facção corre perigo. A gente vive uma realidade em que ter relação de amizade, com alguém que você cresceu e está em facção, pode ser uma sentença de morte. Morar no lugar ‘errado’ também. Então, os moradores vivem em um estado de alerta total”, completa o policial.

Segundo o Instituto Fogo Cruzado, o bairro registrou 20 tiroteios entre 1º de janeiro e 2 de setembro, com 12 mortos e três feridos. No mês de agosto, o Fogo Cruzado contabilizou 25% das mortes na Federação em 2024, com três mortos em três tiroteios entre 1º de agosto e 2 de setembro. Outras três pessoas ficaram feridas nos confrontos. Os dados não incluem o caso dessa terça-feira.

Em outro ponto da capital, um exemplo do risco é o caso registrado, há menos de uma semana, de um jovem que acabou sendo esfaqueado por dois suspeitos após revelar que morava em Pernambués.