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‘Eu só ouvi o barulho de tudo caindo’, diz testemunha de prédio que desabou


 

Edifício ficava no bairro do Comércio e durante 107 anos foi sede do restaurante Colon

  • Gil Santos

Publicado em 25/01/2024 às 15:34:47
Pavimentos superiores cederam. Crédito: Ana Albuquerque/ CORREIO

Há cerca de duas semanas parte do reboco do prédio onde funcionava o restaurante Colon, no bairro do Comércio, soltou. Funcionários de uma papelaria que fica ao lado do edifício, na Praça Conde dos Arcos, viram quando o pedaço de argamassa se espatifou na calçada deixando os tijolos a amostra e avisaram a Defesa Civil. Nesta quinta-feira (25), dois pavimentos superiores vieram abaixo, por volta de 12h, levando com eles um pedaço importante da história de Salvador.

A promotora de vendas Rafaela Santos, 36 anos, contou que estava passando pela região quando viu as pessoas correndo e a nuvem escura logo atrás. “Eu só ouvi o barulho de tudo caindo, as pessoas correndo e depois muita poeira. Teve uma senhora idosa que ficou toca coberta de pó, mas ninguém ficou ferido. Foi só o susto mesmo”, afirmou.

Uma funcionária da papelaria disse que primeiro caíram algumas partes de reboco, que as rachaduras aumentaram e, em seguida, parte do prédio ruiu. Ela estava na frente do edifício e contou que escapou por pouco. No momento do acidente, o engenheiro da Defesa Civil José Casqueiro estava ampliando a faixa de isolamento que tinha sido colocada no dia anterior durante uma vistoria da Codesal.

“Eu estive no local, pela manhã, com técnicos do Iphan para avaliar o prédio. Decidimos que a melhor alternativa seria escorar a estrutura. No final da manhã eu retornei e percebi que a calçada estava cheia de pedrinhas e pedaços de reboco. Isso era o indício de que a estrutura estava cedendo. Decidi ampliar a área de isolamento e foi nesse momento que o prédio caiu”, contou.

Estrutura já apresentava rachaduras. Crédito: Foto: Arisson Marinho/ CORREIO

Além do térreo, existia mais dois pavimentos superiores e o sótão. Os dois últimos ruíram. O prédio estava vazio e já apresentava diversas rachaduras, em alguns trechos o reboco tinha caído e em outros havia vegetação, um indício de que as paredes estavam com infiltração. No dia 8 de janeiro, um pedaço grande do reboco que ficava na lateral do edifício, entre o térreo e o primeiro andar, soltou. Nesta quarta-feira (24), a Codesal fez uma vistoria e decidiu interditar a rua em frente, tanto para carros como para pedestres.

Durante 107 anos, o prédio serviu como sede do restaurante Colon, famoso na cidade, mas era alugado. Em 2021, depois de receber uma notificação da Defesa Civil e em meio a crise provocada pela pandemia, o estabelecimento encerrou as atividades e devolveu o imóvel ao dono. Agora, a opção de escorar o que sobrou foi descartada. Segundo o diretor geral da Codesal, Sosthenes Macedo, a melhor alternativa é demolir. Atualmente, a pasta monitora a situação de cerca de 3 mil casarões na cidade. 

“Essa é uma área que estamos monitorando há muito tempo. Em 2020, fizemos a primeira notificação para que o proprietário e os responsáveis pelo restaurante Colon tomassem as providências legais de recuperação baseada na Lei de Manutenção Predial, mas infelizmente nenhuma providência foi tomada. Fizemos novas vistorias e no período da Lavagem do Bonfim a região foi isolada”, explicou Sosthenes.

A Defesa Civil informou que não há necessidade de interditar os imóveis próximos. O prédio que caiu fica na esquina, entre a Praça Conde dos Arcos e a Rua Conde D’Eu. Ao lado fica uma papelaria, onde trabalham dez funcionários, e nos fundos um prédio colonial que está desocupado.

Escombros ficaram pela calçada. Crédito: Ana Albuquerque/ CORREIO

Em nota, o Iphan informou que tem um processo aberto de fiscalização, desde 2022, para apurar possível degradação do imóvel, que está em área tombada pelo órgão. O Instituto disse também que o prédio está em estado de degradação e que por se tratar de imóvel particular, a responsabilidade pela conservação de bens tombados é dos proprietários.

"O Iphan vem acionando órgãos públicos a fim de se ter os nomes dos proprietários do bem para adoção das medidas cabíveis, podendo gerar multa, em caso de negligência. Houve informação recente sobre o nome do proprietário e o auto de infração está sendo emitido em seu nome", diz a nota enviada pelo Iphan.

Procurada, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano (Sedur) informou que vai notificar o responsável pela edificação. "De acordo com o Código de Polícia Administrativa de Salvador (Lei nº 5503/99) e com o Decreto Municipal nº 13251/01 é dever do proprietário zelar pela unidade imobiliária e realizar a manutenção preventiva e periódica das edificações", diz a nota.

Já a Transalvador interditou a Rua da Holanda, na Praça Conde dos Arcos. A orientação para os motoristas é seguir pelo contra fluxo, ou seja, na contramão, na Rua Alvares Cabral. Agentes do órgão estão no local para orientar condutores e pedestres. O desabamento ocorreu após chuvas intensas em Salvador.