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Escolas com maiores médias no Enem chegam a custar R$70 mil/ano


 

Levantamento da reportagem aponta quais são as mensalidades mais caras dos colégios com melhores desempenhos na prova

  • Maysa Polcri

Publicado em 18/10/2023 às 05:30:54
No topo do ranking de desempenho no Enem, o Colégio Bernoulli tem a segunda maior mensalidade, ficando atrás  do Anglo-Brasileiro. Crédito: Divulgação

Os colégios particulares da Bahia que tiveram o melhor desempenho no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) têm, além das maiores médias, outro denominador em comum: os altos custos de mensalidade. Um levantamento realizado pela reportagem indica que pais gastam até R$70.626 por ano para que os filhos estudem nas escolas mais bem posicionadas no ranking. Os custos são ainda maiores se a taxa de matrícula, material didático e uniforme entrarem na conta.

Entre os dez colégios mais bem ranqueados no Enem na Bahia, o Anglo-Brasileiro é o que possui a mensalidade mais cara. Neste ano, pais e responsáveis de alunos do terceiro ano desembolsaram R$5.885,52 por mês - valor que ainda será reajustado no próximo ano. O colégio teve a sexta maior média geral no Enem do ano passado, de acordo com o ranking elaborado pela edtech AIO Educação e divulgado na segunda-feira (16) pelo CORREIO.

Fundado em 1993, no bairro Patamares, o Anglo-Brasileiro privilegia o ensino de línguas estrangeiras. Entre o 6º e o 9º ano são oferecidas aulas de inglês, francês, espanhol e mandarim. No terceiro ano do ensino médio, os estudantes têm aulas todos os dias, das 7h às 15h. Apesar de se manter entre os dez com melhor desempenho, o colégio caiu duas posições no ranking entre 2020 e 2022. Há três anos, a média do Enem foi 685,46 - quase 15 pontos a mais do que no ano passado.

De acordo com Débora Guimarães, Diretora do Colégio Anglo-Brasileiro, a mensalidade é justificada pelo número reduzido de alunos por sala. “No 3º ano do Ensino Médio, temos apenas duas turmas com, em média, 20 alunos cada, uma realidade que não vemos em outras escolas da Bahia”, afirma. 

A diretora pontua ainda que a característica se aplica a todas as turmas da escola, do 1º ano do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio. “São poucas turmas com poucos alunos em cada uma delas, o que garante uma atenção quase individualizada aos estudantes. Outra característica do Anglo que justifica o investimento mensal das famílias e mostra nosso foco no ensino de excelência, que não fica limitado à preparação para o ENEM e para os vestibulares, é a proporção de professores por alunos: temos um professor para cada sete alunos, o que também é incomum na maioria das escolas do Brasil”, destaca.

Sobre a colocação no ranking, a representante do Anglo defende que essa oscilação é natural e esperada porque, a cada ano, os alunos são diferentes. “ Observamos, inclusive, que a diferença na pontuação ano a ano e, também, entre a maioria das escolas do ranking, é muito pequena. Para nós, essa diferença não é representativa. O importante é a estabilidade de estarmos sempre entre as primeiras colocações, desde que o ENEM começou a divulgar os resultados por escola.

O Colégio Bernoulli, que se manteve em primeiro lugar na lista das instituições baianas mais altas do Enem nos últimos três anos, é o que possui a segunda mensalidade mais cara. Neste ano, o valor mensal chegou a R$5.595 para alunos do terceiro ano da unidade, localizada na Pituba. Em 12 meses, o custo ultrapassa os R$67 mil. Por esse valor, os alunos realizam dez simulados que possuem o mesmo método de correção do Enem, a Teoria de Resposta ao Item (TRI).

Além do ensino médio, o Bernoulli possui duas opções de cursinho pré-vestibular. O intensivo, de seis meses, que custa R$10.714, e o extensivo, de R$16 mil. Há ainda o valor a ser desembolsado com material didático, que não sai por menos de R$2 mil. O colégio, assim como os outros com melhores desempenhos no Enem, oferece bolsas de estudos que podem chegar a 100%. A porcentagem do desconto depende do resultado de uma prova a que os futuros alunos são submetidos.

Mesmo com a bolsa, as mensalidades respondem por uma fatia considerável do orçamento das famílias. Há oito anos, a filha da educadora financeira Liz Midlej conseguiu uma bolsa de 40% para estudar no Sartre Escola SEB Itaigara - que ocupa o nono lugar no ranking de desempenho no Enem. “Eu penso que a educação é um investimento e dou prioridade para isso no orçamento”, diz Liz, que paga R$2.100 de mensalidade com o desconto.

A educadora financeira lembra ainda que outros custos pesam no orçamento, além do valor mensal. “Não é só a escola, tem custos com material, fardamento e todas as atividades que envolvem os colégios de alto nível, como passeios. Os próprios colegas frequentam lugares caros”, afirma Liz Midlej. A reportagem tentou entrar em contato com o Sartre SEB para saber os valores das mensalidades, mas não obteve retorno.

Depois do Anglo-Brasileiro e Bernoulli, o colégio com a maior mensalidade é o Villa Global Education, localizado na Avenida Paralela. Por lá, a mensalidade para o terceiro ano é de R$5,3 mil. O colégio ocupa o terceiro lugar na lista de desempenho no Enem, com média geral de 681,91.

Orçamento apertado

A empresária Ana Paula Matos sempre colocou a educação das duas filhas como prioridade dentro de casa. Mesmo com os esforços para fechar as contas, manter as adolescentes estudando no Colégio São Paulo, em Salvador, ficou inviável, ainda em 2017.

Com a sétima maior média do Enem na Bahia, a mensalidade do colégio será de R$5.135 no ano que vem, o que corresponde ao quarto colégio mais caro entre os dez que obtiveram melhor desempenho na prova. No Enem de 2020, a escola obteve média de 653,83. Dois anos depois, a média subiu para 662,97 e o colégio avançou dez posições no ranking. 

Em dois anos de Enem, o Colégio São Paulo subiu 10 posições no ranking. Crédito: Divulgação

“Se elas continuassem no colégio, eu não teria mais como arcar com as despesas. Os nossos salários não acompanham o aumento das mensalidades a cada ano”, diz a empresária. A saída encontrada por Ana Paula foi buscar colégios similares e com mensalidades mais em conta. No ano que vem, uma das filhas vai ingressar no terceiro ano. “O último ano é o que custa mais e não tem jeito. A gente tira dinheiro de outros lugares para bancar a educação, que é o principal”, desabafa.

Completam a lista das maiores mensalidades os colégios: Leffler (R$4.314,82), Módulo (R$4.175), Mendel Vilas (R$3.040) e Acesso (R$2.565). Este último é localizado em Feira de Santana e ocupa o quatro lugar no ranking de desempenho. Seu concorrente direto, o Colégio Helyos disse que não recebe alunos para o terceiro ano. Os que entram no último ano do ensino médio são, obrigatoriamente, estudantes que cursaram o segundo ano na instituição.

Diante dos custos, surge o questionamento: os colégios mais caros são os que ensinam melhor? Não, necessariamente. Pelo menos é o que diz Jorge Tadeu Coelho, presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino da Bahia (Sinepe-BA). Para ele, mensalidades e aprovação no Enem não são os únicos critérios que definem se uma escola é boa ou não. 

"Cada escola tem características que influenciam no ensino, como a qualidade dos profissionais e dos material didáticos, ambiente escolar e o incentivo que se dá aos alunos", afirma. Utilizar o critério de média do Enem, para Jorge Tadeu, é pouco para classificar as instituições. "Aprovar no Enem é uma medida de sucesso, mas não é a única. A finalidade da escola não é só aprovar. A escola é um ambiente de aprendizagem e desenvolvimento", completa. 

Pressão sofrida pelos alunos pode ser prejudicial para o desempenho no vestibular

O último ano do ensino médio já costuma ser, por si só, um momento de tensão para os adolescentes. É o período em que eles precisam decidir qual profissão seguir e lidam com a competitividade, que aparece até mesmo entre os colegas de classe. Em colégios de alto nível, a pressão dos investimentos dos pais e responsáveis pode ser ainda mais prejudicial para os estudantes.

“Existe a ideia de que os alunos precisam corresponder ao ‘investimento’ feito pelas famílias. Muitos se cobram e se sentem pressionados por isso”, explica Roberta Saback, psicóloga clínica e especialista em Psicologia da Educação. Para uma estudante de 18 anos de um dos colégios que aparece na lista, a pressão vem de todos os lados. Ela deseja cursar Medicina e sente na pele a responsabilidade dos investimentos dos pais.

“Sei de todo o esforço que meus pais fazem para bancar meus estudos e tenho medo de precisar fazer cursinho, se não passar de primeira”, diz a aluna que prefere não se identificar. Para a psicóloga Roberta Saback, é importante que os pais e responsáveis acolham as demandas emocionais dos estudantes, especialmente na reta final do ano letivo. 

por

Roberta Saback

"É preciso acolher os adolescentes e ajudá-los a manejar as dificuldades inerentes ao processo de finalização do ensino médio. Os pais devem estar em comunhão com a escola e orientar que os alunos busquem referências dentro dos colégios  "