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Enterro de enfermeira morta pelo ex-marido é marcado por dor e revolta


 

Renata Santana de Freitas foi morta na noite de domingo (19)

  • Raquel Brito

Publicado em 20/11/2023 às 20:53:29
Enterro aconteceu nesta segunda-feira (20). Crédito: Ana Lúcia Albuquerque

A menina do batom vermelho: era assim que Renata Santana de Freitas, 37 anos, era conhecida entre os colegas de trabalho. Os lábios maquiados e sua gentileza com todos ao seu redor tornaram-se sua marca registrada, contam eles, emocionados. Nesta segunda-feira (20), se reuniram no Bosque da Paz para dar o último adeus a Renata, morta pelo ex-marido André Luís Sena de Oliveira, 44 anos, na noite de domingo (19). O homem, que tirou a própria vida pouco tempo após o assassinato, também foi enterrado no Bosque da Paz nesta tarde.

“O sentimento que fica para a gente que convivia com ela é de um buraco. Sempre éramos recebidos com abraços, com alegria. É uma perda tanto para nós, como para a família e para a enfermagem. Perdemos uma grande profissional e uma grande mulher”, diz Driane Ligier, que trabalhava com Renata há dois anos.

Durante a cerimônia, amigos e familiares cercaram a sala onde Renata era velada, cantando louvores como ‘Vai Passar’, do cantor Gerson Rufino. Ao mesmo tempo, André Luís era velado na sala ao lado. Ele foi enterrado antes, por volta de 16h50, sob aplausos. O corpo de Renata foi sepultado vinte minutos depois, num momento também marcado por aplausos e dor. A maioria das pessoas que acompanharam o caixão de André Luís ficaram pro enterro dela. Muitos dos presentes eram conhecidos dos dois, que foram casados por vinte anos e estavam em processo de separação. Eles deixam um filho de 15 anos.

Segundo amigos, Renata não costumava falar sobre o relacionamento, mas eles sabiam que André Luís sentia ciúmes em excesso. De acordo com eles, ela não podia ter contato com outros homens, tirar fotos com outros homens ou seguir em redes sociais.

Emocionada, uma amiga do casal assistia afastada ao velório. Segundo ela, ambos eram pessoas maravilhosas e não aparentavam ter conflitos. “Que tristeza, meu Deus. Nós vivemos escravas dos homens”, disse.

Para Aleksandro Nascimento, também colega de trabalho de Renata, a reação ao ver a colega partir é de revolta. "Todas as mulheres que estiverem passando por isso, falem, cheguem para um amigo, um irmão, um pai ou um colega de trabalho e falem. Porque isso não pode acontecer, não existe. A enfermagem perdeu um anjo, uma pessoa do bem”, afirma, abalado.

Outra colega da vítima, que compareceu ao enterro durante o intervalo do plantão, diz estar em estado de choque. “A gente passou a noite sem acreditar. O plantão de hoje foi um caos”, conta.

O crime

Na noite de domingo (19), Renata  saiu de casa para participar de uma confraternização na casa de uma amiga. O imóvel fica na mesma rua e a alguns metros de onde ela vivia com o filho. A irmã dela e outras amigas também participaram do encontro.

André Luís chegou no portão e chamou por "Bica", como a enfermeira era conhecida. As amigas mandaram que ele entrasse, mas o segurança recusou o convite e pediu para chamarem Renata. Quando a vítima saiu, ele sacou a arma e fez os disparos. Segundo testemunhas, a enfermeira foi baleada três vezes, no abdômen e na cabeça. Houve correria e as amigas tentaram ajudar, mas Renata morreu no local.

Casa onde aconteceu crime em Mussurunga. Crédito: Gil Santos/CORREIO

Depois de matar a ex-esposa, o segurança entrou no carro e seguiu para casa, no Setor I, também em Mussurunga. Ainda dentro do carro, com os vidros fechados, ele se despediu do filho por telefone, e depois tirou a própria vida. Ele foi sargento do Exército, mas atualmente não fazia mais parte das Forças Armadas e trabalhava como segurança. As duas famílias estão desoladas.

*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo.