Entenda como corpo humano pode reagir às condições de soterramento
Sem alimento, corpo humano pode manter funções básicas por semanas
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Elaine Sanoli
elaine.oliveira@redebahia.com.br
Quase 48h depois de iniciadas as buscas, o corpo do jovem Paulo Andrade, de 18 anos, soterrado após a casa em que morava na comunidade Saramandaia, no bairro de Pernambués, desabar na última quarta-feira (29), foi localizado. Antes da confirmação de que ele havia sido localizado sem vida, o CORREIO buscou uma especialista para saber quais as probabilidades de sobrevivência depois de tantas horas soterrado. As condições de respiração de uma pessoa em situação de soterramento, entre outros fatores, podem ser tornar precárias para a saúde.
A médica especialista em saúde da família, Dheise Zimmermann, aponta que tanto a exposição ao ar com baixa qualidade, misturado a partículas de elementos como poeira e cimento, em decorrência do desabamento, bem como a falta de espaço podem ser fatores limitantes para a respiração, em casos de soterramento.
“A gente respira porque o músculo [do pulmão] vai expandir a caixa torácica e o vácuo que vai fazer o ar entrar no pulmão. A partir do momento que eu estou pressionando [a região], eu não vou conseguir fazer esse movimento. Se tiver batido ou machucado ainda vai entrar o fator da dor, porque se a pessoa está com muitas dores na região que estão os músculos respiratórios, isso vai contribuir para limitar a respiração”, explica.
Nessas condições, em que a pessoa está com acesso limitado ou nulo à água e alimentos, o corpo humano, automaticamente, poupa nutrientes para manter em funcionamento os chamados órgãos nobres: cérebro, pulmão e coração.
“A partir do momento que a gente vai começando a ficar sem água, o corpo vai começar a priorizar os órgãos nobres e deixar de utilizar água e oxigênio dos outros órgãos”, diz. Processos naturais do corpo são reduzidos para beneficiar os órgãos mais importantes, que por si só já são afetados pelas condições. "De qualquer forma, vai existir uma diminuição [de água e oxigênio] nos órgãos nobres e como a pessoa está soterrada, os órgãos vão ser prejudicados e precisar conseguir vencer todas essas barreiras, tanto da falta da água, quanto da questão da oxigenação por questão do soterramento”, afirma.
De acordo com a médica, o corpo de uma pessoa devidamente nutrida, pode realizar essa limitação de nutrientes para manter suas funções por, em média, três dias. Para alimentação, a resistência pode chegar a semanas, tudo depende das condições em que a pessoa está. “A energia está sendo tirada de outras fontes: primeiro do fígado, depois que não tiver mais no fígado vai começar a consumir a gordura do corpo até começar consumir o próprio músculo”.
Até a manhã desta sexta-feira (29), o Corpo de Bombeiros segue nas buscas pelo jovem. Cerca de 100 pessoas, entre profissionais, familiares e amigos, estão atuando para fazer a retirada da grande quantidade de terra que está no local. Até a noite de quinta (28), foram retiradas aproximadamente 10 caçambas de terra.
“Estamos avançando, mas é um trabalho bastante delicado; tudo precisa ser realizado com cautela. A população local tem nos ajudado muito, oferecendo suporte necessário, como base para reuniões e apoio logístico”, destacou o tenente-coronel BM Valdir Ferreira.
Sob orientação da subeditora Monique Lobo