Empresa de aviação deixa 72 passageiros à deriva em Noronha um dia após encerrar voos na Bahia
Passageiros denunciam superlotação, dificuldades com check-in e falta de atendimento por parte da companhia
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Saulo Miguez
Saulo.Miguez@redebahia.com.br
Um dia após encerrar os voos de Salvador a cidades do interior da Bahia, a empresa de aviação VoePass cancelou um voo que levaria 72 passageiros de Fernando de Noronha para as cidades de Natal e Fortaleza.
O episódio aconteceu em pleno domingo de Páscoa (31). O avião vinha de Recife e tinha previsão de decolar às 16h50. No entanto, um atraso não explicado pela companhia, somado à chuva e ao teto de horário para levantar voo na ilha, às 18h16, obrigou o piloto a arremeter duas vezes, já na cabeceira da pista, e voltar para a capital pernambucana.
"Se o voo tivesse acontecido no horário que estava previsto para acontecer, isso não teria ocorrido. Tanto que os passageiros que estavam aqui e embarcaram de Azul, conseguiram viajar", explicou a advogada e passageira prejudicada Stela Câmara.
Além de perderem o voo, os clientes da VoePass não receberam assistência da companhia e sequer encontraram funcionários que pudessem dizer a previsão do próximo embarque.
A ginecologista de Fortaleza Rayanne Pinheiro contou que a sua agenda estava cheia de atendimentos nesta segunda-feira (1°), mas que agora precisará reorganizar todos os compromissos.
"As pessoas que estão aqui no aeroporto têm algum relato negativo da empresa. Ou tiveram algum imprevisto, ou sabem de alguém que passou por algo. E gente percebe nitidamente uma desorganização e falta de compromisso da companhia", desabafou.
Um funcionário do aeroporto Governador Carlos Wilson contou que outros passageiros de um outro voo da mesma companhia que iria para Recife e que também foi cancelado vivem situação semelhante. Essas pessoas, segundo esse funcionário, foram mandados para pousadas sem sequer ter vaga.
Dificuldades na ida
Os problemas de Rayanne, e de alguns outros clientes que compraram bilhete de ida e volta pela Viapass, começaram já no embarque para Noronha.
Ela conta que pagou por um vôo direto (Fortaleza - Fernando Noronha), mas, de maneira totalmente inesperada, foi incluída uma escala, em Natal, que gerou um atraso de cerca de duas horas na chegada ao destino de férias.
"Quase não conseguimos embarcar por conta de lotação, dificuldades para realizar o check-in e diversos outros problemas", disse.
Para além do atraso, os passageiros ficaram cerca de 40 minutos na aeronave com o ar-condicionado desligado. As condições de higiene do avião, do modelo ATR-72, também eram precárias, com lixo e sujeira espalhados por entre as poltronas e no corredor, e o banheiro sujo e com mau cheiro.
Judicialização
O também médico Marcus Bessa expressa o desejo dos passageiros e espera um mínimo de respeito por parte da companhia. "Só o que a gente quer é que a companhia coloque esse voo amanhã (segunda-feira), que seria a medida mais lógica, mesmo não resolvendo tudo. Mas o problema é que a gente não sabe que dia eles terão esse embarque".
Após a confirmação do cancelamento, os 72 passageiros se dirigiram ao balcão de atendimento do aeroporto onde pegaram a declaração de atraso e cancelamento referente ao voo 2353. Eles também organizaram um grupo de Whatsapp para trocar informações e estão organizando uma ação judicial conjunta.
Problema crônico
Os problemas da VoePass não se resumem ao voo 2353. Somente na plataforma Reclame Aqui, entre março de 2021 e março de 2024, a empresa colecionou 1129 queixas.
O tempo médio de resposta da companhia é de 16 dias e sete horas. Além disso, ela só resolveu 28,8% das queixas e, na mesma plataforma, apenas 16,3% dos clientes declararam que voltariam a fazer negócio com a companhia.
No último sábado (30), a ela encerrou as linhas que operava de Salvador para as cidades do interior da Bahia. Com isso, os municípios de Barreiras, Guanambi, Lençóis, Paulo Afonso, Teixeira de Freitas e Vitória da Conquista deixaram de ficar conectados com a capital pela companhia. Os voos eram realizados em parceria com a Latam.
A VoePass foi procurada, mas ainda não se manifestou sobre o caso específico do voo Noronha-Fortaleza e demais queixas relacionadas à empresa.