Em três dias, volume de chuva em Salvador supera a média histórica de abril
Houve alagamentos em Itapuã e Lauro de Freitas
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Bruno Wendel
bruno.cardoso@redebahia.com.br
Jean ajudou bombeiros a resgatarem a família (Foto: Betto Jr/CORREIO) Como nos últimos três dias foram 350 milímetros de chuva, superando a média histórica do mês de abril de 295,7 mm, pode-se dizer que Salvador invernou de vez. Mas, junto com o volume de água, eleva-se também o risco para alguns moradores. Ilhado dentro da própria casa com a mulher, o filho recém-nascido e os pais, o carpinteiro Jean saiu às pressas, com água na altura do peito, na manhã deste domingo (26). Ele, que há três dia já tinha perdido todos os imóveis por causa da chuva que atinge também a Região Metropolitana, foi atrás de ajuda para resgatar a família, pois a casa erguida à beira de um brejo na comunidade de Caji, em Lauro de Freitas, corre o risco de desabar.
“Fiquei desesperado por que o nível da água não para de subir. Estão todos apavorados lá em casa sem saber o que fazer. Não podia ficar de braços cruzados. A minha casa foi construída perto de um brejo e o chão está encharcado e isso prejudica a fundação. Se continuar a chover deste jeito, minha casa pode ser levada pela enxurrada com tudo mundo dentro. Por isso que mesmo assim fui atrás de ajuda”, disse Jean Sacramento, 36, após ter sido retirado da água por equipe do Corpo de Bombeiros que usava botes para resgatar alguns moradores que não conseguiram sair a tempo ou que até então resistiam a sair de suas casas.
De acordo com dados do Climatempo, a semana será de chuva. Nesta segunda (27), por exemplo, o sol vai aparecer com muitas nuvens durante todo o dia. Em alguns momentos os períodos serão nublados, com chuva a qualquer hora. “Mas o que vamos fazer? Todos nós não temos para onde ir. São famílias inteiras que na mesma situação. A gente não sabe a causa desse alagamento. Isso acontecia em 10 em 10 anos. Hoje, só nesse ano, esta é a quinta vez que a água invadiu as nossas residências”, declarou o também carpinteiro Adson Silva, 39, que há três dias não consegue entrar em casa. Bombeiros tentam retirar moradores ilhados em Caji, Lauro de Freitas (Fotos: Betto Jr/CORREIO) Procurada pelo CORREIO, a prefeitura de Lauro de Freitas afirmou que um acumulado de 108 milímetros de chuva, nas últimas 72h, causou alagamentos em vários pontos do município , deslizamento de terra, queda de árvore e deixaram desalojadas 21 famílias.
Segundo a gestão municipal, nas comunidades Caji e Caixa D'água, 35 pessoas, incluindo seis crianças, foram abrigadas no Colégio Municipal Catarina de Sena e receberam atenção das secretarias de Saúde (SESA) e de Desenvolvimento Social e Cidadania (SEMDESC). Alimentos, água, colchonete e material de higiene foram disponibilizados para as famílias, que foram separadas por sala e orientadas a evitar aglomerações.
Na avenida Beira Rio, Centro de Lauro de Freitas, o nível do Rio Ipitanga atingiu a ponte de pedestres que liga os dois lados da pista e inundou um trecho da via, que ficou algumas horas interditada. Equipes das secretarias de Trânsito, de Infraestrutura e de Limpeza Pública, em alerta total, foram acionadas para atender chamados da população e orientar as ações.
O grande volume de chuva em todo o curso do Rio Ipitanga obrigou a Embasa a abrir as comportas da barragem do Jambeiro e contribuiu para os alagamentos em Lauro de Freitas. Segundo a prefeitura, o município é cortado por cinco rios e mais de 60 córregos e também sofre influência das marés. Nos últimos três dias, os picos de chuva coincidindo com a maré alta, que faz com que as águas do rio refluem alagando as ruas.
A chuva nos últimos três dias superou a média histórica do mês e abril em Salvador. Segundo o diretor geral da Defesa Civil, Sosthenes Macêdo, normalmente o acumulado médio do período é de 295,7 milímetros. Nos últimos três dias, foram 350 milímetros. Do dia 1º até este domingo, chegou a chover mais de 500 milímetros em cinco bairros da cidade. No período, o Caminho das Árvores lidera o acumulado, com 559,8 mm. Seguido de Matatu (545,7), Pituba/Parque da Cidade (534,2), Centro (531,1) e Retiro (523,8).
A chuva da noite deste sábado (25) acendeu ainda mais o alerta da Codesal. Nas últimas 24h, os bairros com maior índice de chuva foram Palestina, Cidade Baixa, Monte Serrat, Liberdade e São Cristóvão.
Itapuã Em Itapuã, na Rua do Monte e na Via Romana, a água vem invadindo as casas quando um rio transbordou na sexta (24). “ É um rio que vem de Lauro de Freitas. Metade da rua é um rio de esgoto. Em plena pandemia, temos que escolher entre o isolamento com ratos e esgoto, podendo contrair doenças como a leptospirose, ou sair para nos aglomerar nas casas dos amigos e parentes, quebrando a quarentena deles. Isso é um absurdo”, disse o líder comunitário Jorge Vieira, 41 anos, conhecido como Jorge X.
Em nota encaminhada no sábado (27), a Secretaria de Manutenção (Seman) afirmou que os alagamentos em Itapuã ocorreram em função do transbordamento do canal de macrodrenagem que transpõem estas localidades. “Este fluxo faz parte de uma bacia de contribuição fluvial que tem início na Av. Dorival Caymmi, margeando o Esquadrão Águia da Polícia Militar, adentrando pela Rua Beira Rio, Condomínio Colina da Fonte e Comunidade do Km 17. Todos estes trechos são “vasos comunicantes” e compõem o mesmo curso d’água”, indica o documento.
Ainda de acordo com a secretaria, o ocorrência se deve pela intensidade pluviométrica registrada na região, que foi superior aos 100 mm na poligonal Itapuã / Ipitanga, o que gerou o alagamento na área de charco natural do rio.
No último boletim divulgado pela Codesal, o órgão recebeu 109 solicitações até às 17h deste domingo (26). Foram 29 ameaças de desabamento, 27 deslizamentos de terra, 17 ameaças de deslizamento, 13 avaliações de imóvel alagado, sete árvores ameaçando cair, quatro infiltrações, três imóveis alagados, três desabamentos parciais, duas árvores caídas, dois desabamentos de muro, um alagamento de área e uma avaliação de área.
Dois alertas do Centro de Monitoramento e Alerta da Defesa Civil (Cemadec) foram disparados nesta manhã de domingo. As sirenes, que avisam o risco de deslizamentos, foram ouvidas nos bairros de Sete de Abril, na comunidade de Sete de Abril, e na Baixa do Cacau em São Caetano. As pessoas saíram de suas casas e foram para escolas municipais determinadas como ponto de encontro.
“Minha casa fica embaixo de um morro, que no topo dele tem uma outra casa.Na hora que a sirene toou, preparava o almoço. A rua, que estava fazia, rapidamente foi ocupado. Foi todo mundo uma ajudando o outro retirando crianças, idosos e deficientes físicos no meio da chuva, muita chuva”, contou Eline Calmon, 34, técnica em enfermagem, moradora da Avenida Santa Pereira, na Baixa do Cacau. Na orla, pessoas se exercitavam, porém algumas não usavam a máscara (Foto: Betto Jr/CORRIO) Apesar do problema que a chuva vem trazendo aos bairros periféricos, na orla pessoas não quiseram abrir mão dos exercícios matinais. Diante do risco da pandemia, algumas pessoas que caminhavam, corriam ou pedalavam não usam máscaras para evitar a Covid-19.
Previsão do tempo Até a próxima quinta-feira (30), a chance de chuva em Salvador é de, no mínimo, 80%, segundo o Climatempo. Apenas a quarta (29) possui uma possibilidade de 90% de chover.
De acordo com a previsão, no período, a cidade deve possuir sol com muitas nuvens durante o dia e períodos nublados com a possibilidade de chuva a qualquer hora.
Nesta segunda (27), a temperatura mínima deve ser de 23º com uma máxima de 29º. A expectativa é de que caia um volume de 35mm de chuva na capital baiana neste dia. Até a quinta, o volume de chuva deve cair até atingir os 10 mm, aponta o Climatempo.
Na comparação com o acumulado de 350 milímetros de chuva nos últimos três dias, a quantidade de chuva deve ser menor em Salvador até a próxima quinta-feira. De acordo com a previsão do Climatempo, a estimativa é de que chova 72 mm até o dia 30 de abril.
Já para o próximo final de semana, o Climatempo prevê um sábado (2) e domingo (3) de sol com o céu aberto. Nestes dias, não há previsão de chuva. Em ambos os dias, a mínima deve ser de 27º e a máxima deve chegar a 28º.
*Com colaboração de Marina Hortélio