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Em diálogo com ativista, Bahia discute alternativas ao encarceramento


 

Projeto ‘Corpos Indóceis, Mentes Livres’ será tema do próximo debate da de Ruth Gilmore em sua passagem pela Bahia

  • Elaine Sanoli

Publicado em 22/10/2024 às 06:15:00
Primeiro dia do ciclo de discussões foi realizado no auditório Raul Seixas, no campus da Ufba, em São Lázaro. Crédito: Marina Silva/CORREIO

O abolicionismo penal, tema central do trabalho de pesquisa e ativismo da professora  norte-americana Ruth Wilson Gilmore, discute alternativas à lógica punitivista do sistema prisional que, segundo a própria escritora, carrega consigo resquícios do colonialismo dos séculos passados. O estado baiano, por sua vez, já dialoga com diferentes possibilidades, como o projeto ‘Corpos Indóceis, Mentes Livres’, tema do próximo debate da ativista em sua passagem pela Bahia, nesta terça-feira (22).

Desenvolvido em 2013, a organização reúne mulheres negras presas e ex detentas no presídio da Mata Escura, em Salvador, para reduzirem suas penas por meio da leitura e escrita do conteúdo das obras lidas. Além de Ruth, a roda de conversa “Arte-Educação, Poesia Contemporânea e Abolicionismo”, terá a presença de Roquelina Gomes, poeta vencedora do Prêmio Literário Abolicionista Maria Firmina dos Reis, e Denise Carrascosa, professora de literatura da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e da Penitenciária Feminina do Estado da Bahia e fundadora da iniciativa.

“O encontro com Ruth é, na verdade, a possibilidade de encontrar os pontos em comum, porque também vão ter diferenças do que acontece na gestão prisional na Califórnia para o que ocorre na Bahia, mas um ponto é fundamental: para que exista um modelo de prisões, é necessária a desumanização das pessoas, um estado de coisas violentas que produz violência dentro e fora do cárcere, com os familiares e entes queridos, as pessoas que sofrem com seus parentes dentro [dos conjuntos penais]”, reflete o cofundador e diretor executivo da Iniciativa Negra Dudu Ribeiro, um dos responsáveis pela vinda de Ruth ao Brasil.

O estado que abriga cerca de 11,2 milhões de pessoas autodeclaradas negras, segundo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), já tem demonstrado resultados prósperos para medidas educativas alternativas. Em agosto, o Ministério Público (MP-BA) defendeu, em audiência pública na Assembleia Legislativa da Bahia (Alba), o modelo prisional Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (Apac), após comprovada redução da reincidência criminal. Enquanto a taxa de retorno dos detentos a criminalidade do sistema padrão ficou na casa dos 70% a 80%, no Brasil, a Apac registrou apenas 13,9%.

Para expandir as barreiras da acadêmica, a professora deve passar, ainda, pelo Nordeste de Amaralina para dialogar com a comunidade. O Centro Social Urbano (CSU) do bairro será palco do encontro com o coletivo Mulheres e Luta, a partir das 18h30 desta quarta-feira (23).