Duas novas denúncias contra delegado suspeito de assédio são registradas por sindicato
Com novos casos, sobe para seis o número de supostas vítimas do ex-titular da 28ª DT
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Maysa Polcri
maysa.polcri@redebahia.com.br
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Da Redação
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A lista de relatos com teor de assédio sexual contra o delegado Antônio Carlos Magalhães (ACM), ex-titular da 28ª Delegacia Territorial do Nordeste de Amaralina, em Salvador, aumentou nesta quarta-feira (02). Duas novas denunciantes prestaram queixa ao Sindicato dos Policiais Civis da Bahia (Sindpoc). Com os novos registros, ACM acumula seis denúncias de assédio sexual, moral, e abuso de autoridade.
Embora a maior parte do casos seja com funcionárias da polícia, uma das novas denúncias é de uma mulher é da sociedade civil, durante o registro de um boletim de ocorrência. A informação foi confirmada por Ana Carla Souza Conceição, vice-presidente do Sindpoc. "A vítima disse que quando viu a reportagem, se sentiu segura para falar da situação e de toda humilhação que viveu em uma unidade policial com esse delegado. Foi um caso de assédio sexual, ainda na época da pandemia. Ela contou que o delegado disse que ela era muito bonita e que era rico", contou. A suposta vítima ainda não prestou boletim de ocorrência, mas tem sido orientada pelo sindicato.
Quando as investidas do delegado não foram bem recebidas pela vítima, ele teria sido grosseiro. "Na segunda vez que ela voltou à delegacia, foi acompanhada por uma advogada, e ouviu gritos do delegado", completou Ana Carla Souza.
Ao CORREIO, ACM negou as acusações. “Quando acontece isso, sempre vai aparecer alguém, é normal. Se isso acontecer, eu vou contraditar e ela vai ter que provar”, diz. Segundo o delegado, as quatro investigadoras que primeiro se pronunciaram, "armaram" contra ele, para não trabalhar na 28ª Delegacia. “Ninguém, nem o pessoal da Polícia Civil, quer ir lá no Nordeste de Amaralina. É uma área conflagrada pelo tráfico, perigosa. A secretaria [Secretaria de Segurança Pública da Bahia] colocou essas quatro meninas para trabalhar lá. Elas arrumaram um meio, junto com o pessoal do Sindicato [dos Policiais Civis da Bahia], fizeram essa armação, para sair de lá”, disse.
Projeto de rondas
As denúncias foram recebida pelo Sindpoc após lançamento da campanha “Ronda Policiais Seguras: Ambiente da Polícia Civil da Bahia Livre de Assédio”, nesta quarta-feira (2), na Faculdade de Economia da Universidade Federal da Bahia (Ufba). A vice-presidente do Sindpoc, Ana Carla Souza, destacou o papel do sindicato no recebimento das denúncias, no acolhimento das servidoras e encaminhamentos dos relatos à Corregedoria da Polícia Civil. A sindicalista assegurou que, desde 2018, a entidade acompanha os casos recorrentes de assédio na Polícia Civil baiana.
Relembre o caso
Quatro investigadoras fizeram uma denúncia contra o delegado da 28ª Delegacia (Nordeste de Amaralina) Antônio Carlos Magalhães Santos. A denúncia ocorreu enquanto o Sindicato dos Policiais Civis da Bahia (Sindpoc) atualizava os colegas sobre o andamento da campanha salarial da categoria. De acordo com as denúncias, feitas pelas servidoras ao sindicato de classe e, posteriormente, encaminhadas à Corregedoria da Polícia Civil, o delegado fazia piadas ousadas, toques corporais e convites para passeios de lancha.
O delegado foi exonerado do cargo de titular da 28° DT, de acordo com a publicação no Diário Oficial de sábado (28). Esta é a segunda vez que ele é acusado do mesmo crime.
"Estou tomando par das coisas agora. Vou à Correpol (Corregedoria da Polícia Civil)", disse o delegado Antônio Carlos Magalhães Santos sobre sua defesa, por telefone, após ser indagado sobre os casos de assédio sexual. Perguntado se a exoneração tem a ver com as denúncias de suas colegas de trabalho, ele respondeu: "Meu afastamento é para a investigação. Estão tentando me prejudicar pegando uma coisa e fazendo a ligação com o passado", acrescentou.
Há 17 anos, o delegado foi réu em um processo de estupro contra a uma adolescente. Na ocasião, o Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA) apurou que a autoridade, quando era titular da 5ª DT Periperi, violentou e manteve em cárcere privado, em um hotel, uma jovem de 17 anos que foi até a 5ª DT prestar queixa conta dois homens que a estupraram. Ainda de acordo com a denúncia do MP-BA da época, em vez de enviar o caso para a Delegacia de Repressão de Crimes contra a Criança e o Adolescente (Dercca), como é o procedimento de praxe nesses casos, o delegado Antônio Carlos instaurou inquérito, assumiu as investigações do caso e, após encaminhar a vítima para a realização de exames periciais, ele teria hospedado a adolescente em um hotel, ao invés de mandá-la ao Conselho Tutelar.
A denúncia da época ainda acrescentou que o delegado e o então chefe do Serviço de Investigação da 5ª DT passaram a frequentar o hotel, onde mantinham relações sexuais frequentes com a adolescente. Em depoimento, a jovem relatou que no primeiro andar do hotel funcionava uma boate apontada como ponto de prostituição. Ainda segundo ela, depois de algum tempo sendo explorada, conseguiu telefonar para a mãe, que residia em Itabuna, e pediu ajuda. Após a denúncia do MP-BA ter sido acatada pela Justiça, o então governador do estado, Jaques Wagner, determinou, no dia 4 de maio de 2007, a exoneração do delegado, que atuava, no momento, como titular da Delegacia de Repressão a Furto e Roubo de Veículos (DRFRV).