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'Disse que elas não iam esquecer o primeiro delegado', diz dirigente do Sindpoc sobre delegado acusado de assédio


 

Quatro investigadoras acusaram delegado de assédio sexual; ele foi exonerado

  • Bruno Wendel

Publicado em 01/10/2024 às 14:17:54
Delegado Antônio Carlos Magalhães Santos . Crédito: Marina Silva/Arquivo CORREIO

Acusado de assédio sexual contra quatro investigadoras da 28° Delegacia (Nordeste de Amaralina), o delegado Antônio Carlos Magalhães Santos estava decido marcar a vida das servidoras. "Ele disse que elas se não iam esquecer do primeiro delegado", conta Luciene Rodrigues, secretária-geral do Sindicato dos Policiais Civis da Bahia (Sindpoc). As quatro agentes passaram em um concurso recente e estavam havia 20 dias na 28° DP, mesmo tempo de corporação.

"Ele dizia que era muito rico, chamava elas para casa de praia, tocava na barriga e pernas delas, chegava a se oferecer para acompanhá-las ao banheiro. Dizia que era muito influente e que nada pegaria para ele, caso relatassem os assédios", declara Luciene. As servidoras denunciaram o delegado ao sindicato, que por sua vez acionou a Corregedoria da Polícia Civil. Só depois que CORREIO trouxe o caso à tona, a Polícia Civil confirmou que o delegado Antônio Carlos Magalhães Santos foi exonerado do cargo de titular da 28° DP.

As vítimas têm entre 30 e 40 anos. "Os assédios ocorriam desde o primeiro dia que em que elas chegaram à delegacia. Elas estão traumatizadas, estão sendo acompanhas pelo departamento médico e já pediram transferência para outras unidades", conta Luciene.

Denúncias

De acordo com as denúncias, feitas pelas servidoras ao sindicato de classe e, posteriormente, encaminhadas à Corregedoria da Polícia Civil, o delegado fazia piadas ousadas, toques corporais e convites para passeios de lancha.

O delegado foi exonerado do cargo de titular da 28° DT, de acordo com a publicação no Diário Oficial de sábado (28). Esta é a segunda vez que ele é acusado do mesmo crime.

"Estou tomando par das coisas agora. Vou à Correpol (Corregedoria da Polícia Civil)", disse o delegado Antônio Carlos Magalhães Santos sobre sua defesa, por telefone, após ser indagado sobre os casos de assédio sexual. Perguntado se a exoneração tem a ver com as denúncias de suas colegas de trabalho, ele respondeu: "Meu afastamento é para a investigação. Estão tentando me prejudicar pegando uma coisa e fazendo a ligação com o passado", acrescentou.

Há 17 anos, o delegado foi réu em um processo de estupro contra a uma adolescente. Na ocasião, o Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA) apurou que a autoridade, quando era titular da 5ª DT Periperi, violentou e manteve em cárcere privado, em um hotel, uma jovem de 17 anos que foi até a 5ª DT prestar queixa conta dois homens que a estupraram. Ainda de acordo com a denúncia do MP-BA da época, em vez de enviar o caso para a Delegacia de Repressão de Crimes contra a Criança e o Adolescente (Dercca), como é o procedimento de praxe nesses casos, o delegado Antônio Carlos instaurou inquérito, assumiu as investigações do caso e, após encaminhar a vítima para a realização de exames periciais, ele teria hospedado a adolescente em um hotel, ao invés de mandá-la ao Conselho Tutelar.

A denúncia da época ainda acrescentou que o delegado e o então chefe do Serviço de Investigação da 5ª DT passaram a frequentar o hotel, onde mantinham relações sexuais frequentes com a adolescente. Em depoimento, a jovem relatou que no primeiro andar do hotel funcionava uma boate apontada como ponto de prostituição. Ainda segundo ela, depois de algum tempo sendo explorada, conseguiu telefonar para a mãe, que residia em Itabuna, e pediu ajuda. Após a denúncia do MP-BA ter sido acatada pela Justiça, o então governador do estado, Jaques Wagner, determinou, no dia 4 de maio de 2007, a exoneração do delegado, que atuava, no momento, como titular da Delegacia de Repressão a Furto e Roubo de Veículos (DRFRV).